sábado, 18 de dezembro de 2010

Gay de Minas - 18/12/2010


E de repente, surge no meio da avenida Paulista um enorme trio elétrico vermelho, onde cerca de 40 gays agitavam bandeiras do arco-íris. Na frente do trio, uma foto do rosto belíssimo da rainha do Rainbow Fest de 2005, a travesti Julia Branco, envolvida em plumas de pavão sob o título "Gay de Minas" e a marca do MGM. Éramos um dos mais de 20 trios elétricos que se alinhavam para a 9ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. 

Nosso orgulho era múltiplo: estávamos ajudando a construir a maior parada gay do mundo, trazíamos o MGM para o evento de forma magistral, com seus militantes, um caráter político vigoroso e uma alegria de dar gosto. Além disso, divulgávamos o nome de Juiz de Fora para todo o país, como a primeira cidade mineira a reconhecer os nossos direitos, através de uma lei que nos protegia e um movimento gay forte e vitorioso. 

E os paulistas reconheciam isso. Ao ler as faixas e perceber que aquele era um trio elétrico dos gays de Minas Gerais, a população aplaudia e acenava positivamente. Os bombados-sem-camisa do chão se encantavam com os rapazes mineiros em cima do trio e com o som contagiante dos dois DJs juiz-foranos e seu repertório perfeito para aquele momento: Coldhans e o estreante Jeff Valle, hoje um dos mais requisitados DJs da cena gay nacional. 

E a fórmula deu certo. O mix de militância, beleza, simpatia e música de qualidade arrastou e manteve no entorno do trio "Gay de Minas" uma multidão de seguidores desejosos de conhecer o sucesso do Rainbow Fest. Grande parte dessas "barbies" ajudaria a construir uma relação de fidelidade entre os gays musculosos e o evento mineiro, famoso pela beleza de seus rapazes. 

Enquanto desfilávamos, o diretor do MGM, Michel Brucce, com seu olhar criterioso, encarregava-se de "selecionar" os convidados a subirem no gigantesco carro de som. Os rapazes sarados e a força de nossa mensagem atraíam a atenção de jornalistas curiosos por conhecer os gays de Minas que se organizaram para estar ali. 

A cena se repetiu por alguns anos, e a participação do trio "Gay de Minas" nas paradas de outras cidades, como Rio, Belo Horizonte e São Paulo, ajudou a construir uma imagem positiva dos gays mineiros: uma turma alegre, cheia de garra e competência para conduzir uma luta que nos garanta direitos e respeito. 

Camisinha sempre! 

sábado, 11 de dezembro de 2010

Trans - 11/12/2010



Recentemente, o Prof. Luiz Mott, antropólogo fundador do Grupo Gay da Bahia e pedra fundamental do movimento gay brasileiro, divulgou sua iniciativa de fazer um levantamento das travestis e transexuais brasileiras que de alguma forma se destacaram no cenário nacional. Começou pela academia, relacionando as bacharéis, mestres e doutoras que conseguiram vencer a barreira dos muros universitários e hoje compartilham espaços profissionais qualificados com suas colegas heterossexuais, numa relação de igualdade rara para as pessoas trans, ainda vítimas de enorme preconceito.

Entre elas, para citar algumas, Jaqueline Cortes, Maitê Schneider e a saudosa advogada cearense Janaina Dutra, uma das nossas grandes perdas em decorrência da Aids. Seguramente, outras dezenas ficaram de fora da lista, o que não tira o mérito da iniciativa e nem fecha a possibilidade de sua atualização constante.

Foi a partir daí que me lembrei daquelas travestis e transexuais que fazem parte do meu círculo de amigas e com as quais aprendi um pouco sobre os conflitos de gênero que enfrentam e as soluções que encontraram para conseguir sobreviver na nossa cultura transfóbica.

Chris dos Brilhos, por exemplo, saiu da roça, de Senador Cortes, interior de Minas, para ser a primeira transexual mineira a ter documentos civis com seu nome social reconhecido. Extremamente religiosa, faz parte do grupo de orações de sua paróquia, ao lado de outras tantas senhoras rezadeiras. Chris foi pioneira também entre as que já realizaram sua readequação sexual e conta com orgulho as histórias de sua cirurgia transgenitalizadora no Equador, há muito tempo.

Ou Baby Mancini, uma das mais belas travestis brasileiras. Baby, além de ser proprietária de um salão de beleza em Juiz de Fora, esteve à frente do Concurso Miss Brasil Gay durante vários anos. Destaque no Carnaval, na Parada Gay, está sempre envolvida com as badalações da alta sociedade e é nossa leitora assídua. Uma travesti que conquistou respeito e um espaço que vai além das fronteiras de Minas e se estende por todo o país.

Nem Chris e nem Baby brilharam nos bancos das universidades, mas nunca deixaram de lutar pelos seus direitos. Souberam fazer de sua aparência uma bandeira e de cada chegada um instante de reflexão: sobre o lugar de cada um, sobre direitos individuais, sobre ser autêntico.

Camisinha sempre!



sábado, 4 de dezembro de 2010

Assédio - 04/12/2010




Recentemente, surpreendi-me aqui com dois comentários de um senhor que se diz não homofóbico. Ele justifica sua complacência: tem parentes gays e até um irmão "gente muito fina" que morreu em consequência da Aids.

Chama a atenção o destaque que ele dá aos parentes, como se o fato de tê-los estivesse automaticamente relacionado com um comportamento não preconceituoso. Eu também tenho vários parentes homofóbicos, sr. Paulo, e nem por isso concordo com eles.

Mas o que mais me surpreendeu foi a relação que ele estabelece entre os gays e ele, como homem. Esse leitor comenta que, não raramente, era paquerado por homossexuais. Gays que o assediavam, que tentavam iniciar uma conversa, que o achavam atraente e que recebiam em troca uma resposta ríspida e sua indignação violenta. Seus netos passam por situações semelhantes e, ao contrário dele, que partia para a agressão e "descia o braço", têm medo de nós.

Em momento algum passou pela cabeça desse senhor que ele e seus netos foram desejados pelos homossexuais que os assediaram e que as "cantadas mis" que receberam estavam relacionadas com a atração que eles, possivelmente bonitos e interessantes, despertam nos homens que gostam de homens.

Esse senhor heterossexual jamais parou para pensar quantas vezes ele abordou uma moça bonita "enquanto ela parava para ler uma notícia numa banca de jornal" porque essa moça era seu objeto de desejo e dali poderia surgir um namoro, uma amizade ou um envolvimento passageiro.

Ao contrário das moças, ele simplesmente "descia o braço" nos homens que se interessavam, que se aproximavam, que se sentiam atraídos por ele.

Sr. Paulo, como tantos, nunca pensou em responder ao assédio de um gay educadamente e entendê-lo como um elogio. Se um homossexual se aproximava, ele, cheio de razão, respondia com violência.

Depois de tantos anos, ele ainda considera que as agressões homofóbicas noticiadas recentemente em São Paulo poderiam ser evitadas se os gays não se interessassem pelos heterossexuais como ele. Ou seja, se os gays não fossem gays.

E, pior, não percebeu que a educação que seus netos estão recebendo é a mesma dos agressores paulistas, que reproduz a homofobia e o desrespeito às diferenças.

Camisinha sempre!


sábado, 27 de novembro de 2010

Dores - 27/11/2010



Semana intensa, na qual as mães piscaram seus sinais luminosos, nos dando lições de vida, força, bravura e ternura, entremeadas de profundas lágrimas e dor. Dor que dói em mim, por não poder roubar um pouco e aliviar parte de tanta dor. Dor que dói de doer, que perde o sentido figurado e fere fundo, na alma, no coração.

Como as de Juny, uma mulher-amiga que enfrentou a interrupção de uma gravidez aos cinco meses e meio. Dor de mãe ao sentir o aperto de mão de um filho passageiro que partiria horas depois. Dor de quem fica, buscando um novo início para recomeçar. Dor que deixa marcas e que demora a cicatrizar.

Noutra ponta do ciclo, o apego à vida mostra minha mãe a enfrentar a ausência da saúde com a galhardia de quem já tira de letra as adversidades e que não teve tréguas na sua luta por continuar viva. Não seria qualquer AVC que lhe deixaria sequelas ou tiraria o prazer de poder responder ao telefone que "Tudo vai muito bem, graças a Deus!" Um fio de esperanças de quem dela se alimenta.

Em Brasília, é d. Angélica, mãe de Alexandre Ivo, jovem assassinado em janeiro deste ano, em São Gonçalo (RJ) que emociona todo um plenário no Senado Federal, ao relembrar a dor da perda de seu filho homossexual. Ela confessa que jamais imaginaria que a homofobia poderia chegar ao ponto de matar, quanto mais o seu filho.

Diante dos argumentos daqueles que se opõem aos homossexuais, que somos destruidores de famílias; que não somos abençoados por Deus porque vivemos no pecado; que poderíamos mudar se quiséssemos e, como não mudamos e optamos pela nossa verdade, merecemos a condenação e a violência; entendo que o que lhes falta é generosidade, solidariedade e humanidade.

Generosidade, de quem oferece sua compreensão e se dedica a entender o mundo pela visão do outro. Solidariedade de quem compartilha a dor no intuito de aliviá-la. E humanidade de quem entende e se compadece do outro, respeita e reconhece suas relações afetivas, principalmente o amor de sua família.

Entre os filhos que se foram e as mães que permanecem, está a vida repleta de dores e prazeres que, ao fim, se tornam a panaceia que nos mantém vivos.

Camisinha sempre!


domingo, 21 de novembro de 2010

Homofóbicos - 20/11/2010


Durante algum tempo, apresentamos um programa semanal na rádio comunitária Mega FM, de Juiz de Fora. Ali, tinham voz todos os movimentos sociais ausentes da grande mídia e convivemos com a "galera" do hip hop, assíduos ouvintes das nossas mensagens.

Arrependidos, esses jovens relatavam que até bem pouco tempo sua diversão de sábado à noite era sair para "dar umas porradas nos veados". Infelizmente, os 25 megawats de potência da Mega FM não foram suficientes para alcançar aqueles que precisavam ouvir um pouco sobre diversidade, respeito e direitos humanos.

O último domingo foi marcado pela violência contra os gays. Dois incidentes escandalosos mostram que o combate à homofobia não é assunto para ser negociado por votos em períodos eleitorais. Em São Paulo, um jovem gay foi agredido violentamente enquanto caminhava distraído pela avenida Paulista, em plena luz do dia.

A cena foi gravada: o agressor quebra uma lâmpada fluorescente no rosto do gay e outra nas suas costas. Os bandidos presos foram libertados no dia seguinte. Segundo seus advogados, a agressão fora uma resposta a um flerte.

No mesmo domingo, após a Parada do Orgulho Gay do Rio de Janeiro, uma das mais famosas do mundo, um soldado do Exército brasileiro atingiu o abdome de um jovem gay com um tiro de fuzil. Apesar das testemunhas, ninguém foi preso e, na manhã seguinte, o Comando Militar do Leste divulgou nota negando a participação de qualquer militar no incidente. Dias depois, o soldado homofóbico confessou o crime.

Nos dois casos, impressiona a velocidade com que a Justiça agiu para libertar os culpados ou negar o seu envolvimento. Impressiona também a morosidade em reconhecerem que o que está por trás disso é o preconceito, cuja criminalização não consegue avançar graças a religiosos como o pastor televisivo Silas Malafaia, ou os senadores Magno Malta e Marcelo Crivella, que insistem em defender o seu direito de incitar a violência contra os gays em nome de Deus.

Enquanto isso, sem muitas esperanças, continuamos aguardando a implantação de políticas públicas de combate à homofobia, seja educando melhor os nossos jovens, seja punindo os criminosos que dela fazem uso.

Camisinha sempre!


sábado, 13 de novembro de 2010

Mateus - 13/11/2010


Cadê o Mateus?
- Foi para casa da mamãe. Diz ele que, mesmo sendo longe, prefere morar lá, do que aqui.
- E sua mãe concorda?
- Uai, ela já está acostumada. Não falou nada.
- É por isso que ele é desse jeito. Vocês protegem esse menino demais! Se fosse no meu tempo, já tinha tomado uns sopapos. Ou em casa, ou na rua, pra tomar jeito.
- Como se isso adiantasse... O Maurício, seu primo, é da sua geração, deve tomado muitos sopapos e é gay até hoje.
- Mas naquele tempo era diferente. Maurício nunca saiu de casa parecendo uma mocinha, de calça apertada, aquele cabelo colorido caindo na testa, esmalte nas unhas e - Meu Deus! - até maquiagem esse menino está usando, Malu!
- Ele é jovem, Haroldo! Jovem é assim mesmo. Tem que usar essas modas agora, porque depois de velho não fica bem!
- Ser jovem é uma coisa, ser mariquinha é outra!
- Olha como você fala do seu filho!
- E você concorda com isso, Malu? Você acha bonito um menino todo esquisitão, parecendo uma mulherzinha, cheio de trejeitos... Isso é porque você e sua mãe só fazem suas vontades e aplaudem tudo que ele faz.
- Você é que não tem paciência, Haroldo.
- E não tenho mesmo. Outro dia, encontrei com ele e seus amigos na rua. Um horror! Um bando de bichinhas histéricas, dando gargalhadas como se fossem meninas, com aquelas roupas coloridas que você compra para ele... Ainda bem que ele nem me viu!
- Que coisa, Haroldo! Você encontra com seu filho na rua e finge que não vê? Roupas coloridas estão na moda. Mateus é jovem, é bonito, é moderno.
- Mas, precisa se vestir assim?
- Haroldo, você só vê as aparências.
- Mas ele vive para isso! Só pensa em roupas, em Madonna, Lady Gaga...
- Não seja injusto, Haroldo. Ele é um excelente aluno, nunca nos deu trabalho na escola.
- Mas, essa é sua obrigação. E sei lá se está aprendendo algo que preste nessa escola que você e sua mãe escolheram. Mateus tinha que ter ido pro Colégio Militar, aprender a se interessar por coisas de macho! Mateus é incapaz de chutar uma bola no gol!
- Como você sabe? Já o chamou para jogar futebol com você?
- Eu? Pra morrer de vergonha? Imagine a chacota que vai ser? O Flavinho, o Paulão... Putz! Prefiro que ele fique mesmo lá na casa da d. Maria. Só falta aparecer aqui em casa com um namorado.
- Mas é o que vai acontecer, Haroldo. Mais cedo ou mais tarde. Ele é gay e não escolheu ser assim.
- Deus me livre!
- Meninos gays namoram meninos. Conforme-se com isso e deixe seu filho ser feliz.

(Homenagem às mães e avós que, há anos, são responsabilizadas pela homossexualidade de seus filhos e netos. Camisinha sempre!)

sábado, 6 de novembro de 2010

Jovens gays - 06/11/2010


Os jovens gays estão em pauta. Assassinatos por homofobia, suicídios, infecção pelo HIV em taxas maiores que qualquer outro grupo, depressão, isolamento, tristeza. Jovens que se escondem dos colegas, da família, de si mesmos.

Recentemente, os norte-americanos se surpreenderam com o elevado número de jovens gays que se matam, um indicador que cresce em níveis assustadores. O número de suicídios entre eles é quase três vezes maior que entre os rapazes heterossexuais, e isso não está nas páginas dos jornais. Ou pelo menos não estava, até que o projeto "It gets better" (www.itgetsbetter.org) trouxe o assunto à tona e mobilizou a população, celebridades e grupos de gays norte-americanos, na tentativa de reverter esse triste quadro.

Centenas de mensagens dirigidas a esses jovens se espalham pela internet, no sentido de estimulá-los a lutar, e não por um fim em suas vidas. Uma das mensagens mais emocionantes é a do presidente Obama, o que nos faz ter esperanças de que tamanha mobilização poderá se reverter em ações concretas, e que o tratamento que esses jovens recebem em casa, na escola ou na sua comunidade não deverá se perpetuar.

No que diz respeito à Aids, o quadro não é muito diferente. Entre os homossexuais, onde a epidemia ainda mantém os maiores índices de prevalência, a faixa de 13 a 24 anos é a que mais se destaca. É preciso fazer alguma coisa.

Nesse sentido, reuniram-se em Nova Orleans (EUA), nesta semana, cerca de 30 organizações que trabalham com jovens gays, para aprender novas maneiras de se abordar e obter êxito na prevenção ao HIV. Passo a passo, caminham em busca de formas adequadas de se abordar e fortalecer a autoestima desses rapazes e alcançar efetividade nas ações que levem à pratica de sexo seguro.

Reconhecer e reduzir suas fragilidades, aumentar seu poder de negociação do uso do preservativo e mostrar que, apesar de todo o preconceito e desrespeito que ainda prevalece entre nós, suas vidas importam e não estamos de braços cruzados assistindo à evolução de um quadro tão trágico.

O sucesso do programa brasileiro de Aids, exemplo para o mundo inteiro, ainda não conseguiu alcançar os jovens gays. A sexualidade entre os adolescentes ainda é um tabu e nossas famílias e escolas não são capazes de lidar com a possibilidade de uma outra orientação sexual que não seja a heterossexualidade.

Não é com olhar de condenação e correção que iremos alcançá-los. Assim, ampliamos suas vulnerabilidades e negamos o seu direito à construção de um futuro saudável e feliz, onde o medo de viver não seja a linha que costurará suas histórias.


Camisinha sempre!

sábado, 30 de outubro de 2010

Cannabis - 30/10/2010



Na próxima terça-feira, 2, os californianos irão votar a Proposição 19, que legaliza a produção, venda e uso da "cannabis sativa", a maconha. A favor de sua legalização, pesa a falta de eficácia e os prejuízos sociais causados pela estratégia de combate, ao invés de prevenção ao uso de drogas, o que faz uma enorme diferença. 

Os contrários à ideia basicamente se justificam dizendo que a proibição reduz o consumo e a violência como problema decorrente. O outro lado alega que a maconha faz menos mal à saúde que algumas drogas lícitas, como o álcool e o tabaco. Exibem dados que comprovam que o alcoolismo praticamente não se reduziu diante da proibição do uso do álcool e que não existe nenhuma relação direta entre o zelo da polícia em perseguir os usuários e a redução da quantidade de droga consumida. Negam que a legalização da maconha vá provocar um aumento da violência. Pelo contrário, a proibição é que incentiva as disputas territoriais. Essas, sim, são a maior fatia do problema e não os pequenos delitos cometidos por usuários para comprarem suas drogas. 

Segundo eles, as medidas de proibição da maconha atingem mais os negros e as minorias: apesar de os pobres e negros consumirem menos que os brancos da Califórnia, eles têm duas vezes mais chances de serem presos por posse da erva. 

Pelo viés financeiro, a alegação é de que, uma vez no controle dos preços, o tráfico acaba gerando exclusivamente para si, um volume espantoso de dinheiro. Só de atravessar a fronteira do México para os EUA, o preço da maconha salta de US$ 80 para US$ 2 mil o quilo! E todo esse lucro não só alimenta a compra ilegal de armamentos, mas financia a construção de uma rede de corrupção e proteção, cujos problemas sociais são bem maiores que a legalização da "cannabis". Sem falar dos impostos, que podem jogar nos cofres do estado cerca de US$ 1,3 bilhão por ano, recursos que não podem ser desprezados pela Califórnia, que passa por sérias dificuldades financeiras. 

Foi a partir de 1926, que o consumo de drogas passou a ser visto por uma nova perspectiva - a redução de danos. O consumo de ópio fez a Inglaterra abordar a dependência química não como um problema policial, mas do conjunto dos setores públicos. Em 1984, a Holanda lançou o controverso sistema de troca de seringas: se não se pode evitar a injeção da droga, pelo menos se evita a Aids e a Hepatite B. 

É nessa perspectiva que os Estados Unidos enfrentam o debate de um assunto que há muito precisa ser encarado. Sob o risco de perpetuarmos essa relação desigual de poder imposta por um mercado paralelo, onde as leis são determinadas por infratores. 

Camisinha sempre!

sábado, 23 de outubro de 2010

Deputado gay - 23/10/2010



Toda eleição é a mesma coisa: animados e desmemoriados LGBTs se candidatam na esperança de que a comunidade homossexual se una em torno de seus nomes e os elejam. Faz sentido. Afinal, as estatísticas confirmam que somos muitos, representamos uma camada significativa da população e, apesar disso, continuamos desprovidos de direitos básicos.

São esses abnegados militantes que se lançam acreditando no apoio efetivo de seus partidos através do investimento em propaganda, tempo na TV e todas essas despesas sem as quais ninguém se elege. No final, o que se vê é a troca do brilho de esperança no olhar pelo das lágrimas. Derrotados buscando justificativas no erro dos outros, sem conseguir admitir que o recorte da orientação sexual não seduz os eleitores, nem mesmo os homossexuais.

Ano após ano, os resultados permanecem aquém do esperado. Atônitos, nossos candidatos percebem que o caminho da militância política partidária, o único possível para um avanço na conquista de poder, ainda esconde, sob o manto da falsa simpatia e do acolhimento interesseiro, uma carga de homofobia que represa o avanço de nossas conquistas.

Já tivemos muitos candidatos homossexuais eleitos. Nenhum deles, entretanto, a partir de uma mobilização da comunidade LGBT. O falecido deputado Clodovil Hernandes, por exemplo, não foi eleito pela comunidade gay. Ao contrário, se posicionou contra algumas de nossas mais fundamentais bandeiras e chegou a ser vaiado por ativistas no Congresso.

Por todo o país, os raros LGBTs campeões de votos se confundem com os "Tiriricas": candidatos eleitos pelo voto da chacota e do desrespeito. Foi assim com a dançarina travesti Léo Kret, em Salvador, ou o vereador Galo Véio, mineiro de Formiga, ambos vitoriosos entre risos, gozações e menos valia. Vereadores tão significativos quanto os históricos rinoceronte Cacareco, na década de 50, ou o chimpanzé Macaco Tião, terceiro colocado na eleição para prefeito do Rio, em 1988.

Nessa triste eleição de 2010, apesar de termos sido ignorados nos arranjos políticos e de vermos nossas bandeiras desconsideradas por candidatos que se ajoelharam aos pés da cruz, juraram devoção a livros sagrados ou bateram palmas nos terreiros de candomblé em troca de votos, o Brasil conseguiu contabilizar uma importante vitória: o jornalista Jean Wyllis se elegeu deputado federal pelo Rio de Janeiro. Alçado à popularidade pela sua participação no "Big Brother", Jean é um dos mais brilhantes defensores de nossas bandeiras e com certeza representa, hoje, uma esperança efetiva para os LGBTs brasileiros.


Camisinha sempre!

sábado, 16 de outubro de 2010

Festejos - 16/10/2010




Enganam-se os que pensam que as manifestações LGBTs limitam-se às Paradas do Orgulho. Além delas, pipocam por todo o país interessantes iniciativas da comunidade homossexual de tamanhos e cores diferentes.

Em Belém do Pará, a Festa da Chiquita é uma delas. O "bafão" acontece em outubro, paralelamente ao Círio de Nazaré, entre uma passagem e outra da procissão de Nossa Senhora. Em um palco de dois andares ao lado do Teatro da Paz, gays, lésbicas e travestis se juntam à população para assistir ao espetáculo que já é promovido há mais de 30 anos por Eloi Iglesias com a participação das drags locais. Ao som da tecnomelody, "uma inventiva panaceia de brega romântico antigo, música eletrônica de boate, Jovem Guarda, sons caribenhos e electro dos anos 90 e 2000", a festa atravessa a noite e se mistura aos fiéis católicos que rumam à Basílica de Nazaré na procissão matinal do dia seguinte. A Festa da Chiquita é polêmica desde o início: combatida pela igreja e adorada pelo povo.

Curioso também é o Futebol LGBT de Itabirito, em Minas Gerais. A turma organiza um futebol cheio de graça e atrai milhares de torcedores de todas as tribos. Lésbicas x lésbicas, gays x gays ou lésbicas x gays, dependendo do número de times que se formam. Depois do jogo, que atrai mais de 2.000 pessoas, um churrasco comemora a ocasião e lota o clube da Amiseg de gente bonita, alegria e paquera. O evento acontece em setembro e é organizado pelo Nerilson Nenê e seus amigos.

Já em Florianópolis, em Santa Catarina, é no Carnaval que as coisas acontecem. O Pop Gay faz a festa da comunidade local e atrai milhares de turistas GLS. Na segunda-feira de Carnaval, um gigantesco palco montado na praça Tancredo Neves recebe o concurso de fantasias e as artistas da cena gay e suas performances. O evento já acontece há 16 anos e é organizado por Tiago Silva, que mescla sua festa com mensagens sobre sexo seguro, direitos e combate à homofobia. O Pop Gay reúne mais de 40 mil pessoas no Carnaval catarinense.

Ainda aqui nas Gerais, em Juiz de Fora, há mais de 30 anos acontece o Concurso Miss Brasil Gay. Representantes gays de todos os Estados se apresentam transformados em mulheres exuberantes em trajes típicos e de gala, que encantam as arquibancadas e mesas do Sport Clube. Um espetáculo recheado de celebridades, entrecortado por apresentações artísticas dos maiores ícones da cena gay brasileira. Criado pelo cabeleireiro Chiquinho Motta, acontece sempre no terceiro fim de semana de agosto.

O Rainbow Fest, evento político-cultural paralelo ao Miss Gay, completa uma das semanas LGBT mais fervidas do Brasil.


Camisinha sempre!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Amigos/amores - 02/10/2010



"Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração". Cresci cantando e acreditando nas palavras de Brant e Milton em "Canção da América" e tive amigos leais e duradouros, presentes em momentos importantes da minha vida.

O mais antigo deles, o irmão mais velho, me viu nascer, me contou, em segredo, os segredos da vida. Sem querer, me mostrou que ela ultrapassava os 7 anos de idade e que existia um mundo adulto que fazia coisas: umas permitidas, outras escondidas. Na nossa infância compartilhamos descobertas, as verdades por trás das mentiras, informações preciosas sobre anatomia, desenvolvimento e possibilidades. Moacir me contava suas descobertas repletas de equívocos, e eu construía castelos de areia, padrões e armários.

Mais tarde, selecionei alguns poucos amigos para confidenciar minhas dúvidas e revelar meus sentimentos conturbados que misturavam desejos estranhos e inseguranças, numa sopa adolescente que ebulia em tesão, espinhas e lágrimas. Amigos com os quais troquei juras de fraternidade eterna, cuja eternidade durou até a primeira encruzilhada, onde nossos caminhos se perderam.

Como me confundiam os sentimentos! Eu sempre tinha o "amigo da vez", aquele mais próximo, eleito entre os membros do grupo. Afinávamo-nos nos erros, nas fragilidades e inseguranças. Ou em sentimentos revolucionários, quando estávamos certos de poder moldar o mundo e garantir o nosso direito ao sonho, à utopia, ao prazer. Éramos crianças, ávidos para sermos adultos. Incapazes de ouvir no outro um pedido de socorro disfarçado de confidência.

Em mim, pulsavam paixões imensas, não correspondidas, disfarçadas de amizades profundas, que me despertavam posse, ciúmes e vontade de estar sempre por perto. Um sentimento mudo que se satisfazia com as migalhas do carinho entre amigos e que se limitava ao repertório da amizade entre dois homens.

Primeiros amigos, primeiros amores, mesmo que não entendêssemos assim. Inadmissíveis amores que nunca se concretizaram e nunca passariam de fonte de dores e dúvidas. Platônicos amores que provocavam um sofrimento estranho, incompreensível, bem além de tudo que eu conhecia sobre amizades. Intocáveis amores, inatingíveis amigos.


Camisinha sempre!

sábado, 25 de setembro de 2010

Oh, Minas Gerais! - 25/09/2010



O movimento LGBT organizado surgiu por aqui em 1997, mais especificamente com um grupo que viria a formar a ALEM - Associação Lésbica de Minas. Em 1998, começamos a ter visibilidade efetiva, quando a ALEM e o Grupo Guri realizaram a primeira parada do orgulho gay de Belo Horizonte e, em Juiz de Fora, o MGM organizou o primeiro Rainbow Fest. A partir de então, vários grupos se espalharam pelo estado e assumiram importantes tarefas sociais e políticas voltadas para a comunidade homossexual, em parceria com o poder público.

Assim, nos tornamos peças fundamentais nas ações de prevenção às DST e AIDS juntos aos gays e travestis, nas relações historicamente conturbadas entre a segurança pública e a comunidade gay e em todas as iniciativas que envolviam o combate à discriminação, garantia de direitos e promoção da nossa cidadania.

Além disso, o movimento LGBT mineiro se mostrou um importante radar social, atento à boa aplicação do orçamento público, às supressões do recorte da orientação sexual e identidade de gênero nas ações afirmativas promovidas pelo governo, sempre através das ferramentas que dispomos, como as manifestações públicas e denúncias à imprensa.

Em 2000, avançamos no Legislativo: em Juiz de Fora, o MGM consegue a aprovação da Lei 9.791 que, pela primeira vez, cria penalidades à discriminação contra os gays e destaca a manifestação pública de afeto entre nós. Enquanto isso, em Belo Horizonte, a ALEM consegue plantar na Assembléia projeto similar, que resultaria na Lei 14.170/02. Apresentada em 1999 pelo deputado João Batista de Oliveira (PDT), a lei seria sancionada em 2002 por Itamar Franco (PMDB) e regulamentada em 2003 por Aécio Neves (PSDB).

Dois artigos da 14.170, em particular, visavam a garantir sua efetividade e a participação do movimento social no seu controle e acompanhamento: o artigo 5º, que garante aos LGBT uma cadeira no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, e o artigo 6º que criou, na estrutura da administração pública estadual, um centro de referência voltado para "a defesa do direito à liberdade de orientação sexual".

Em 2006, o centro foi efetivamente criado e, quando pensávamos que Minas Gerais finalmente institucionalizara uma política pública voltada para os homossexuais, nos deparamos com uma estratégia desestimulante, na qual uma equipe silenciosa e acomodada na confortável estabilidade do funcionalismo público se dispôs a abandonar todos os compromissos com a comunidade LGBT e legitimar a inatividade estatal em troca de uma mesa, um computador e um salário mensal.


Camisinha sempre!











sábado, 18 de setembro de 2010

Medo - 18/09/2010



Houve um tempo em que eu temia muito ser descoberto na minha homossexualidade. Entre os adolescentes que compunham o meu círculo, ser gay era uma desonra e, invariavelmente, junto com a descoberta de nosso desejo homossexual encontramos o armário, o closet, o fechar-se em segredo. Por medo, vergonha, insegurança.

Sob a ameaça constante da espada da culpa, na minha juventude aprendi a me esquivar do assunto e das pessoas homossexuais. Quando a vida me encurralava e me conduzia ao assunto, reagia com rispidez. Não gostava de brincadeiras que me associassem aos estereótipos gays, não pela orientação sexual em si, mas pelo risco de ser desmascarado em meus desejos íntimos e ter meu segredo exposto.

Nesse clima de insegurança, cresci me escondendo de mim, me anulando a partir da opinião dos outros. Adequando meus sonhos aos limites das minhas mentiras, ofuscando fragilidades, alardeando virtudes e administrando a dor surda de quem não diz tudo. Um amadurecimento tenso, que privilegiava aparências. E se por um lado eu não queria ser visto, por outro me exibia em talentos que compunham o personagem hetero e não me colocavam em risco.

Estabeleci de tal forma distância do mundo gay que passei a ignorá-lo, a desconhecê-lo. Só bem mais tarde, quando achava que estava seguro o suficiente, decidi me olhar de perto, sair do escuro e partir ao encontro de mim e fui conhecer o mundo gay: as boates, as pessoas, as relações. Catava informações soltas no ar, ficava atento aos comentários fortuitos, às piadas e ia construindo um mapa pessoal da cena gay de Belo Horizonte na qual me aventurava em atrevidas escapadas noturnas eventuais.

Cada visita era uma aventura. Ruas escuras, ambientes sinistros e o medo de um flagrante, de encontrar alguém conhecido ou, pior, quem me reconhecesse. Nesse sentido, as filas nas calçadas, diante das boates ou festas gays, eram vitrines de dissimulados se arriscando à revelação pública e suas consequências. Lá dentro, entretanto, tudo se perdia em olhares, sedução e testosterona.

Medo. Viver minha homossexualidade significava desafiar o medo. Significava conhecer um mundo novo, se apropriar de outros códigos, redefinir o meu personagem e aproveitar a chance de começar de novo, de viver uma adolescência tardia, de ser senhor de minhas próprias censuras e me libertar finalmente da tutela das opiniões alheias.

Camisinha sempre!











sábado, 11 de setembro de 2010

Opinião - 11/09/2010



Quanto vale a sua opinião? Por quanto você deixaria de lado suas convicções e defenderia as minhas ideias contrárias às suas? Quanto você cobraria para desconsiderar todas as experiências de vida que ajudaram a construir aquilo que você chama de sua opinião? Quanto custa passar a ser visto como uma pessoa que se vende e que negocia seus apoios até mesmo com seus adversários, desde que o valor pago compense? Quanto vai custar remendar o estrago que esse (mau) exemplo faz à formação do caráter de nossos jovens, nossas crianças, nossos brasileiros e brasileiras que assistem a tudo isso pela TV? 

Nos últimos anos temos acompanhado a deterioração do caráter coletivo dessa nação. Chamo de caráter coletivo o conjunto de valores e os limites aceitáveis de tolerância ao descumprimento dos acordos sociais propostos, desde o simples ato de se jogar um papel de bala na rua até o de se apropriar de algo que não seja seu. Pois esse caráter coletivo tem incorporado comportamentos que não são exatamente aqueles que esperamos de uma nação que cresce, evolui e começa a chegar onde sempre sonhamos. 

Assistimos impassíveis à fragilização dos valores nacionais, aqueles que compõem o ideal do cidadão brasileiro, que norteiam projetos, ações, orçamentos públicos e para os quais se voltam os esforços das políticas de educação, cultura, direitos humanos e de todas as áreas que se dediquem a construir um país forte com um povo saudável, inteligente e feliz. 

Ao incorporarmos às características do brasileiro a ideia de que opinião se negocia, estamos enfraquecendo a luta para modificar os desastres da "lei de Gerson", de que bobo é aquele que não leva vantagem em tudo, certo? Quando nossos dirigentes rifam seus discursos, negam seus acordos, retiram seus apoios em troca de dinheiro (ou de votos), percebemos o quanto ainda falta para que deixemos de ser vistos como uma nação de malandros oportunistas. 

Àqueles que se preocupam com as sequelas que os exemplos de que dispomos possam deixar, sugiro aproveitar o horário da propaganda política como instrumento de debate em nossas casas. É preciso que as pessoas entendam que, apesar de existirem os que hoje se vendem para conseguir o poder, na justificativa de que os mais infames acordos se justificam desde que abram a possibilidade de acesso à máquina que faz acontecer, aceitar e concordar com isso nos torna cidadãos piores. 

Camisinha sempre! 




sábado, 4 de setembro de 2010

MGRV - 04/09/2010




Uma característica interessante no movimento LGBT organizado é a preocupação com a ampliação e continuidade de uma rede nacional de atenção aos homossexuais. Quase instintivamente, os grupos que conseguem se organizar se imbuem da responsabilidade de incentivar outros, principalmente em regiões "descobertas" onde uma ONG de defesa dos direitos de LGBT pode fazer a diferença e, em suma, salvar vidas.

Não foram poucas as vezes que visitei grupos de homossexuais interessados em se organizar, na maioria das vezes, despertados pela indignação diante de situações de humilhação, violência ou mesmo pela necessidade de viver suas histórias de amor para além de seus tristes calabouços. E, invariavelmente, são visitas marcantes, repletas de entusiasmo e interesse, em que planos e sonhos se misturam a histórias de dor e violência associadas sempre à homofobia e suas mazelas.

Em 2007, participei do 1º Fim de Semana da Diversidade Sexual da Região das Vertentes, em São João del Rei. Ali pude testemunhar o brilho no olhar daqueles rapazes, encantados com o primeiro banner a estampar oficialmente sua marca, ou com os folhetos coloridos que anunciavam o evento, ou com a bandeira do arco-íris, desafiadoramente exposta no auditório da Universidade Federal da cidade. Ali nascia o MGRV - Movimento Gay da Região das Vertentes, que viria a ser uma das mais sérias organizações que compõem a rede LGBT mineira, responsável por grandes momentos de luta e combate pelos direitos dos homossexuais em nosso Estado.

Entre um papo e outro sobre prevenção às DST-Aids e sobre como fortalecer as parcerias para que as ações voltadas para os gays e travestis fossem efetivas, falamos sobre organização, captação de recursos, direitos e as dificuldades em nossas relações com o Estado, justamente a esfera pública que envolveria o MGRV numa das mais injustas tentativas de calar o movimento social em suas críticas, que foi a ação movida pelos responsáveis pelo Centro de Referência LGBT de Minas Gerais contra Carlos Bem, fundador e presidente da ONG de São João del Rei. Ao final, tudo terminou numa bela reprimenda aos equivocados gestores públicos.

Dia 17 de setembro, serei um dos que receberão o Troféu São João del Rei de Direitos Humanos e Combate à Homofobia, oferecido pelo MGRV aos que ajudaram a construir a sua história. Estarei presente, aplaudindo de pé esses anos de vitórias.

Camisinha sempre!


sábado, 28 de agosto de 2010

TSM - 28/08/2010


Encerrou-se ontem o I Encontro Nacional de Prevenção às DST, Aids e Hepatites Virais entre trabalhadores sexuais masculinos (TSM), promovido pelo Ministério da Saúde. Desde o dia 25, quarta-feira, 25 desses rapazes estiveram em Brasília, reunidos com outros tantos gestores estaduais e municipais dos programas de DST-Aids, representantes das organizações não governamentais de gays e outros homens que fazem sexo com homens, especialistas convidados e técnicos do governo federal para tentar colher as primeiras informações que conduzirão a políticas públicas voltadas para os populares "garotos de programa".

A começar pela sua autodenominação, o nome pelo qual querem ser tratados pelos clientes e como gostariam de estar citados em documentos oficiais ou em suas relações com o poder: "garotos de programas", entre eles; e "trabalhadores sexuais masculinos" ou "TSM", oficialmente. Os rapazes demonstraram que conhecem na pele o peso do estigma e do preconceito que assombram aqueles que buscam sustento na venda do seu corpo e que se submetem aos perigos que essa atividade envolve: violência da população, da polícia e entre eles mesmos; uma proximidade perigosa com o mundo das drogas, uma vez que o exercício de sua profissão se dá também nas ruas, nas madrugadas, no escuro, e roubos frequentes, seja como forma de fazer valer um contrato negociado, seja para angariar mais em menos tempo, trapaceando seus clientes. São nesses momentos que se envolvem com o ilícito, uma vez que o exercício da prostituição não é um crime no Brasil; e com a polícia, de quem se queixam de arbitrariedades, torturas, maus-tratos, extorsão e preconceito.

Apesar de a maioria dos rapazes presentes no encontro se entenderem bissexuais (alguns poucos gays ou heterossexuais), quase a totalidade de sua clientela é formada por outros homens. São poucas e raras as mulheres que os procuram. Eventualmente, seus clientes são casais que buscam um terceiro para apimentar a relação. Os gays mais velhos são os mais assíduos, apesar de muitos jovens se utilizarem de seus serviços - que podem render até R$ 8 mil por mês em algumas regiões do país, como São Paulo e Rio.

Atendem seus clientes em saunas, motéis, hotéis e em seus apartamentos. Batalham na rua ou agendam os programas pela internet. Trabalham independentes, sem agenciadores. Possuem um bom conhecimento das DST-Aids, fazem o teste do HIV e adotam medidas preventivas - principalmente o uso de camisinha em suas relações. Conhecem seus direitos, suas vulnerabilidades e os dramas da rua e da noite, como atores efetivos de uma realidade que, finalmente, começa a ser retirada de baixo do tapete.

Camisinha sempre!