sexta-feira, 24 de maio de 2013

O PSC e sua ameaça à familia



Muito cinismo por parte dos políticos do PSC no programa que foi ao ar ontem. Muita hipocrisia por trás do bordão "sou família; sou PSC!". Num tom angelical, pastores de todo o Brasil vestiram suas capas mofadas de deputados e seus sorrisos mais simpáticos para promover o retrocesso, o conservadorismo atrasado, disfarçado de modernidade-com-responsabilidade. Faltaram asinhas de anjos nas imagens das famílias tradicionais, cuja cor das roupas, ironicamente, formavam a bandeira do arco-íris. Para quem tem acompanhado de perto os deslizes desses "defensores da família brasileira", era possível filtrar o tom de deboche e escárnio por trás de cada sorriso daqueles deputados.

O PSC inventou uma tal de "ameaça à família", que ninguém sabe exatamente do que se trata, mas sabe exatamente de onde vem: dos gays e das feministas, conforme demonstram. Insiste num discurso fantasioso de defesa dos ameaçados e se esquece que as "ameaças" são o produto da falência desse modelo hierárquico e autoritário de família. Levadas a buscar no além a solução de seus problemas como os de saúde, educação, segurança, direitos, esquecem que isso é responsabilidade do estado, e não de Deus ou de pastores. A luta pela garantia dos direitos das novas configurações de família não destrói sequer o desenho tradicional, uma vez que não tira seus direitos e nem viola seus exemplos.

No programa, o PSC mostrou o movimento #forafeliciano como uma baderna e as mulheres que defendem o direito sobre o seu corpo como assassinas. Resvalou na necessidade de investimentos em educação e lazer para os jovens, mas foi enfático na defesa da redução da maioridade penal, cujo projeto os enaltece.

Feliciano estava lá provocando, irônico: "... um Brasil melhor para todas as famílias!"  Todas. Sei...

É claro que, quando Malafaia apoiou o Serra, em detrimento do Haddad e criou aquela celeuma do "kit gay"; ou quando Feliciano, em entrevista ao Danilo Gentilli insinuou que Dilma estava jogando fora o apoio dos evangélicos; o PT percebeu que fora traído, o que pressupõe rompimento dos acordos antes estabelecidos. Depois desse programa, quando o PSC lança sua candidatura independente, enfrentando o PT nas próximas eleições para presidente, não há mais o que se questionar: chegou a hora do PT rasgar aquele acordo eleitoral entre a Dilma e os evangélicos e fazer aquilo que deve fazer em defesa da população LGBT. Se é que esse era o impeditivo, não sei o que mais a Dilma está esperando para sair conosco do armário!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mais uma cama de gato no movimento gay?


No início de junho de 2012, o Departamento DST-aids-HV do Ministério da Saúde convocou jovens gays e especialistas para uma oficina de três dias onde produziriam uma campanha de prevenção dirigida aos jovens gays. Esse tipo de estratégia (oficinas e materiais produzidos por representantes do público alvo das campanhas) encontrou lugar no Departamento e já foi utilizado algumas vezes, já que, a um custo relativamente baixo e com o envolvimento das lideranças do segmento, chega-se a um resultado moderno e adequado para as novas mídias e redes sociais.

Cerca de 20 jovens gays estiveram em Recife e participaram das oficinas de vídeo, de grafite, de maquiagem, de DJ, amparados por especialistas em comunicação, vídeos, arte, aids, direitos, ativismo e colocaram a mão na massa para cumprirem um objetivo que se propunha a trabalhar poesia e intervenção urbana, redes sociais, universo drag queen e de produção de vinhetas.

Essa Oficina de Comunicação em Saúde para Jovens Gays gerou alguns produtos que até hoje encontram-se no “arquivo morto” do Departamento, temeroso de propor o seu lançamento e, mais uma vez, se indispor com o Ministro, com a SECOM e a Presidência da República, já que fala de sexo, direitos e homossexualidade.

O movimento gay - que encontra no Departamento de Aids seu único refúgio orçamentário num governo que foge desse assunto como o diabo da cruz – parece sentir-se satisfeito com a realização da oficina, como se assim a proposta tivesse concluída. Aliás, temos nos satisfeito com planos, projetos, conferências, seminários e oficinas que não saem do papel e nunca são colocados em prática. Há mais de 10 anos!

É desolador imaginar que as verbas empenhadas nessas oficinas e nas campanhas prontas e vetadas são jogadas fora, enquanto poderiam fazer muito mais diferença se aplicadas na ponta, no trabalho corpo a corpo com os jovens gays ou nas intervenções comportamentais que vêm fazendo diferença em outros países.

Onde está a campanha que foi trabalhada em Recife? Vai sair ou não vai? Ou estamos testemunhando mais uma cama de gato no movimento gay?


http://www.aids.gov.br/video/2012/52133