sábado, 27 de setembro de 2008

Reta Final – 27/09/2008



Na reta final das eleições municipais algumas candidaturas abertamente LGBT despontam e é interessante perceber que, apesar dos regionalismos, os problemas que enfrentam não são diferentes.

Léo Mendes, líder do movimento gay do Centro Oeste é um dos fortes candidatos a ocupar uma das cadeiras da Câmara Municipal de Goiânia. “Minha campanha apostou 100% na comunidade LGBT, polarizando com os religiosos: ou votam no candidato gay ou votam no candidato evangélico, quase como um plebiscito. Espero que os eleitores entendam a importância de um candidato que os defenda”, completou. Léo precisa de 6 mil votos e acredita na vitória, bem como seus colegas de PT.

Em Salvador, desponta Marcelo Cerqueira, ex presidente do Grupo Gay da Bahia. “Em 2004 tive 4.838 votos. Dessa vez acredito que supero a barreira dos 5 mil, suficientes para me eleger”. Marcelo está envolvido com as questões ambientais na Grande Salvador, o que abre outras portas para sua atuação política. “Claro que trabalhamos os gays, mas como cidadãos que vivem numa cidade onde os problemas atingem a todos. O fato de ser homossexual é uma sofisticação que amplia nossas chances”, analisa.

No sul de Minas, Sander Simaglio entra pela segunda vez nessa disputa. Em 2006, candidatou-se a Deputado Estadual pelo PV e dos 6 mil votos que obteve só em Alfenas, acredita que menos de 5% foram da comunidade LGBT. “Já os outros 1.700 espalhados pelo estado foram todos dos homossexuais. Mas notamos ainda uma falta de consciência política de nossa comunidade que precisa ser muito trabalhada”, completa. Sander disputa com outros 135 candidatos o voto dos 45 mil eleitores de Alfenas e calcula que poderá se eleger se conseguir chegar a 850.

Em Juiz de Fora, Marco Trajano assiste sua campanha a vereador pelo PC do B crescer e aposta na união da comunidade LGBT local. “Conseguimos reunir todos em torno de uma candidatura com chances reais e hoje assistimos ao crescimento dessa onda: quem nega seu voto ao candidato gay tem sido visto como uma pessoa pouco antenada”, salienta. Apesar de enfatizar sua ligação com o movimento LGBT, Trajano tem trabalhado a população como um todo num discurso de defesa de direitos e promoção da diversidade no Legislativo. Precisa de 4 mil votos para ter chance de ocupar uma das 19 vagas de vereadores na Câmara.

Espero que, nessa arrancada final, nossa comunidade responda ao chamamento político que vem sendo feito por esses e tantos outros bravos companheiros e ajudem a abrir as portas da representação política para o nosso movimento, equilibrando melhor as forças que defendem nossos direitos no Legislativo.

Camisinha sempre!


sábado, 20 de setembro de 2008

Sem referência – 20/09/2008



Minas Gerais possui uma lei que pune a discriminação por orientação sexual. A lei 14.170/2002 que, além disso, cria na estrutura do governo do Estado o Centro de Referência de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros de Minas Gerais, subordinado à Sub-Secretaria de Direitos Humanos, a partir de um projeto elaborado pelo movimento social e que deveria orientar as políticas públicas voltadas para a população LGBT mineira.

Alguma coisa, porém, está destoando. Por um lado, os resultados das mobilizações públicas promovidas pelos mais de 30 grupos LGBT espalhados por Minas Gerais encantam os olhos de qualquer um. O apoio popular à luta pelo reconhecimento de nossa cidadania, dos nossos direitos e contra o preconceito fez com que as Paradas entrassem no calendário oficial das cidades mineiras e deixassem de ser somente a luta de um grupo para se tornar de todos.

Mas, por outro lado, o Centro de Referência do Estado não se envolveu em absolutamente nada e esteve ausente da mobilização de cerca de 600 mil cidadãos e cidadãs mineiros, em defesa da livre orientação sexual, contra a homofobia, temas que fazem parte de suas propostas básicas. Enquanto o movimento LGBT alcança as ruas e conquista aprovação, o governo estadual se mantém distante, refugiando-se na trincheira da realização de uma Conferência Estadual, que aconteceu graças à muita pressão dos ativistas, ou na popularidade do chefe do Estado.

Lamentavelmente, o movimento LGBT organizado não foi sequer ouvido antes das mudanças promovidas recentemente no Centro de Referência. O acordo que acatava a indicação pelos grupos organizados dos responsáveis pelos três principais postos do Centro de Referência, foi ignorado, desconsiderando uma das nossas mais importantes conquistas.

Enquanto os ativistas do movimento LGBT se esforçam para aprovar leis municipais de combate à discriminação, enquanto avançam as importantes políticas públicas municipais de combate ao preconceito, enquanto ganhamos espaço nos municípios, perdemos terreno no estado.

A falta de resolutividade do Centro de Referência tem nos afastado do governo e feito com que continuemos a nos ressentir da sua presença ao nosso lado, na luta contra o preconceito em Minas Gerais.


Camisinha sempre!

sábado, 13 de setembro de 2008

Ideologia – 13/09/2008


O sistema de partidos, que é a base da organização política nacional, na forma como está, não funciona. Quais são aqueles que possuem realmente uma ideologia? Porque é tão simples abrir mão de valores que deveriam ser essenciais aos partidos, quando os interesses eleitorais se apresentam? Como é possível se imaginar uma coligação entre as idéias do DEM, ex-PFL, e do PT? Entre o PSDB e o PT, tradicionais rivais políticos que vêm se revezando na situação e oposição? Entre os comunistas do PCdoB e os evangélicos do PRB?

O Brasil convive com isso há muito tempo e uma das mais tristes e vergonhosas coligações — em vigor até hoje — é a da chapa que preside o país, tendo à frente o operário presidente Lula e o mega-empresário vice José Alencar. De um lado o PT, partido comprometido com a defesa dos direitos dos homossexuais, do estado laico, dos direitos das mulheres; e do outro o PRB, do empresário da fé Edir Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus, que insistem em condenar e negar os direitos desses cidadãos.

Agora, para maior espanto, segundo o "Jornal do Brasil", o PCdoB se comprometeu a apoiar o senador pastor Marcelo Crivella num eventual segundo turno pela Prefeitura do Rio de Janeiro, desde que o PRB intensifique sua participação na campanha da candidata Jô Morais, em Belo Horizonte. Melhor acreditar no presidente do PCdoB, Renato Rabelo, que negou o acordo que jogaria para escanteio, além dos compromissos com os camaradas, a própria candidata dos comunistas, Jandira Fehgali, aliada histórica do movimento LGBT. Crivella, por sua vez, é o autor da expressão "ditadura gay" para se referir ao PLC 122, que criminaliza a homofobia e se encontra tramitando a passos lentos no Senado: um dos mais aguerridos opositores a uma das nossas mais caras bandeiras.

A união entre a esquerda radical e a direita conservadora demonstra que o que menos importa a um bom acordo político são as bases partidárias. Interesses eleitoreiros, loteamento de cargos, vantagens pessoais e privilégios encontram-se anos-luz acima daquilo que deveria ser valorizado como a essência do partido e base de nosso processo de decisão e escolha: sua ideologia.

Até que ponto crenças, convicções e compromissos importam no momento de se fechar acordos que garantam a aprovação de projetos de lei, emendas orçamentárias ou candidaturas? O que temos visto por este Brasil afora são coligações esdrúxulas que confundem completamente o cenário político nacional e revelam um sistema eleitoral fundado em partidos fracos, sem personalidade, no qual os interesses pessoais se sobrepõem às propostas ideológicas.

Camisinha sempre!


sábado, 6 de setembro de 2008

Defeitos – 06/09/2008



Passamos longe da perfeição. Na verdade, nossos defeitos são os mesmos dos heterossexuais: são defeitos de gente, seres humanos. Como qualquer pessoa, lutamos contra e nos envergonhamos quanto nos deixamos levar por eles. Íntimos e desgraçados defeitos.

Numa de minhas digressões, ficava matutando por que os gays adotam um código de deboche e menos valia quando se relacionam entre si. Não só nas situações de humor: insistimos em desbancar os nossos iguais, apontar e ampliar seus defeitos, retirar-lhes valor e menosprezar suas virtudes. Lamentavelmente, nem sempre esse comportamento se mantém no palco dos debochados shows de drag queens, na categoria de recurso artístico. Assistimos esse discurso dominando e alçando seus tentáculos em áreas que precisam ser levadas a sério e onde esse tipo de linguagem não ajuda em nada na construção de uma imagem positiva da comunidade homossexual. Nem no estabelecimento da união entre nós

Somos exímios conhecedores dos nossos defeitos e da luta contra nossos próprios demônios. Sabemos onde estão as nossas fraquezas e, conseqüentemente daqueles com quem nos identificamos. Nossa inconseqüência tem muitas vezes causado danos irreparáveis na trajetória de nossas conquistas. Conscientemente. Sabemos onde dói, onde estão nossos “calcanhares de Aquiles”. Porque somos íntimos dos nossos defeitos.

As seqüelas de uma educação heterossexista homofóbica têm levado os homossexuais ao preconceito contra si mesmos. Nossa menos valia tem feito com que duvidemos de nossa capacidade, questionemos nosso direito ao amor, ao afeto, à nossa própria família, à felicidade. Tem feito com que não consigamos apoiar os nossos iguais pela certeza de que eles possuem defeitos tão imperdoáveis quanto aqueles que não perdoamos em nós mesmos.

Precisamos nos admirar mais, construirmos boas referências, torcer para o sucesso dos outros gays, aplaudir aqueles que conseguem chegar lá e, mais que isso, ajudá-los nesse caminho. Precisamos desconstruir esse notório desamor por nós mesmos e por tudo que se pareça conosco. A ponto de optarmos pelos que não são como nós. A ponto de negarmos nossos próprios direitos.

Camisinha sempre!