"Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito,
dentro do coração". Cresci cantando e acreditando nas palavras de Brant e
Milton em "Canção da América" e tive amigos leais e duradouros,
presentes em momentos importantes da minha vida.
O mais antigo deles, o irmão
mais velho, me viu nascer, me contou, em segredo, os segredos da vida. Sem
querer, me mostrou que ela ultrapassava os 7 anos de idade e que existia um
mundo adulto que fazia coisas: umas permitidas, outras escondidas. Na nossa
infância compartilhamos descobertas, as verdades por trás das mentiras,
informações preciosas sobre anatomia, desenvolvimento e possibilidades. Moacir
me contava suas descobertas repletas de equívocos, e eu construía castelos de
areia, padrões e armários.
Mais tarde, selecionei
alguns poucos amigos para confidenciar minhas dúvidas e revelar meus
sentimentos conturbados que misturavam desejos estranhos e inseguranças, numa
sopa adolescente que ebulia em tesão, espinhas e lágrimas. Amigos com os quais
troquei juras de fraternidade eterna, cuja eternidade durou até a primeira
encruzilhada, onde nossos caminhos se perderam.
Como me confundiam os
sentimentos! Eu sempre tinha o "amigo da vez", aquele mais próximo,
eleito entre os membros do grupo. Afinávamo-nos nos erros, nas fragilidades e
inseguranças. Ou em sentimentos revolucionários, quando estávamos certos de
poder moldar o mundo e garantir o nosso direito ao sonho, à utopia, ao prazer.
Éramos crianças, ávidos para sermos adultos. Incapazes de ouvir no outro um
pedido de socorro disfarçado de confidência.
Em mim, pulsavam paixões
imensas, não correspondidas, disfarçadas de amizades profundas, que me
despertavam posse, ciúmes e vontade de estar sempre por perto. Um sentimento
mudo que se satisfazia com as migalhas do carinho entre amigos e que se
limitava ao repertório da amizade entre dois homens.
Primeiros amigos, primeiros
amores, mesmo que não entendêssemos assim. Inadmissíveis amores que nunca se
concretizaram e nunca passariam de fonte de dores e dúvidas. Platônicos amores
que provocavam um sofrimento estranho, incompreensível, bem além de tudo que eu
conhecia sobre amizades. Intocáveis amores, inatingíveis amigos.
Camisinha sempre!
Lindo texto, Oswaldo! ah, os amigos... eu amei todos eles, perdidamente. E, se foram, muitos não seriam, hoje, meus amigos... aliás, hoje, nesses tempos de internet, onde a palavra "amigo" ficou tão banalizada, a ponto de você poder "adicionar" ou adicioná-los à razão de cem por hora nas redes sociais, mesmo sem nunca tê-los visto, mesmo sem nunca ter "comido o sal com eles", como preconizava Aristóteles, mesmo que você não tenha a menor paciência de ouvir um único problema deles hoje, ainda existem amigos?
ResponderExcluirBeijos,
Ricardo
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