Recentemente, surpreendi-me aqui com dois comentários de um senhor
que se diz não homofóbico. Ele justifica sua complacência: tem parentes gays e
até um irmão "gente muito fina" que morreu em consequência da Aids.
Chama a atenção o destaque
que ele dá aos parentes, como se o fato de tê-los estivesse automaticamente
relacionado com um comportamento não preconceituoso. Eu também tenho vários
parentes homofóbicos, sr. Paulo, e nem por isso concordo com eles.
Mas o que mais me
surpreendeu foi a relação que ele estabelece entre os gays e ele, como homem.
Esse leitor comenta que, não raramente, era paquerado por homossexuais. Gays
que o assediavam, que tentavam iniciar uma conversa, que o achavam atraente e
que recebiam em troca uma resposta ríspida e sua indignação violenta. Seus
netos passam por situações semelhantes e, ao contrário dele, que partia para a
agressão e "descia o braço", têm medo de nós.
Em momento algum passou pela
cabeça desse senhor que ele e seus netos foram desejados pelos homossexuais que
os assediaram e que as "cantadas mis" que receberam estavam
relacionadas com a atração que eles, possivelmente bonitos e interessantes,
despertam nos homens que gostam de homens.
Esse senhor heterossexual
jamais parou para pensar quantas vezes ele abordou uma moça bonita
"enquanto ela parava para ler uma notícia numa banca de jornal"
porque essa moça era seu objeto de desejo e dali poderia surgir um namoro, uma
amizade ou um envolvimento passageiro.
Ao contrário das moças, ele
simplesmente "descia o braço" nos homens que se interessavam, que se
aproximavam, que se sentiam atraídos por ele.
Sr. Paulo, como tantos,
nunca pensou em responder ao assédio de um gay educadamente e entendê-lo como
um elogio. Se um homossexual se aproximava, ele, cheio de razão, respondia com
violência.
Depois de tantos anos, ele
ainda considera que as agressões homofóbicas noticiadas recentemente em São
Paulo poderiam ser evitadas se os gays não se interessassem pelos
heterossexuais como ele. Ou seja, se os gays não fossem gays.
E, pior, não percebeu que a
educação que seus netos estão recebendo é a mesma dos agressores paulistas, que
reproduz a homofobia e o desrespeito às diferenças.
Camisinha sempre!
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