sábado, 4 de dezembro de 2010

Assédio - 04/12/2010




Recentemente, surpreendi-me aqui com dois comentários de um senhor que se diz não homofóbico. Ele justifica sua complacência: tem parentes gays e até um irmão "gente muito fina" que morreu em consequência da Aids.

Chama a atenção o destaque que ele dá aos parentes, como se o fato de tê-los estivesse automaticamente relacionado com um comportamento não preconceituoso. Eu também tenho vários parentes homofóbicos, sr. Paulo, e nem por isso concordo com eles.

Mas o que mais me surpreendeu foi a relação que ele estabelece entre os gays e ele, como homem. Esse leitor comenta que, não raramente, era paquerado por homossexuais. Gays que o assediavam, que tentavam iniciar uma conversa, que o achavam atraente e que recebiam em troca uma resposta ríspida e sua indignação violenta. Seus netos passam por situações semelhantes e, ao contrário dele, que partia para a agressão e "descia o braço", têm medo de nós.

Em momento algum passou pela cabeça desse senhor que ele e seus netos foram desejados pelos homossexuais que os assediaram e que as "cantadas mis" que receberam estavam relacionadas com a atração que eles, possivelmente bonitos e interessantes, despertam nos homens que gostam de homens.

Esse senhor heterossexual jamais parou para pensar quantas vezes ele abordou uma moça bonita "enquanto ela parava para ler uma notícia numa banca de jornal" porque essa moça era seu objeto de desejo e dali poderia surgir um namoro, uma amizade ou um envolvimento passageiro.

Ao contrário das moças, ele simplesmente "descia o braço" nos homens que se interessavam, que se aproximavam, que se sentiam atraídos por ele.

Sr. Paulo, como tantos, nunca pensou em responder ao assédio de um gay educadamente e entendê-lo como um elogio. Se um homossexual se aproximava, ele, cheio de razão, respondia com violência.

Depois de tantos anos, ele ainda considera que as agressões homofóbicas noticiadas recentemente em São Paulo poderiam ser evitadas se os gays não se interessassem pelos heterossexuais como ele. Ou seja, se os gays não fossem gays.

E, pior, não percebeu que a educação que seus netos estão recebendo é a mesma dos agressores paulistas, que reproduz a homofobia e o desrespeito às diferenças.

Camisinha sempre!


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