Recentemente, o Prof. Luiz Mott, antropólogo fundador do Grupo Gay da Bahia e
pedra fundamental do movimento gay brasileiro, divulgou sua iniciativa de fazer
um levantamento das travestis e transexuais brasileiras que de alguma forma se
destacaram no cenário nacional. Começou pela academia, relacionando as
bacharéis, mestres e doutoras que conseguiram vencer a barreira dos muros
universitários e hoje compartilham espaços profissionais qualificados com suas
colegas heterossexuais, numa relação de igualdade rara para as pessoas trans,
ainda vítimas de enorme preconceito.
Entre elas, para citar
algumas, Jaqueline Cortes, Maitê Schneider e a saudosa advogada cearense
Janaina Dutra, uma das nossas grandes perdas em decorrência da Aids.
Seguramente, outras dezenas ficaram de fora da lista, o que não tira o mérito
da iniciativa e nem fecha a possibilidade de sua atualização constante.
Foi a partir daí que me
lembrei daquelas travestis e transexuais que fazem parte do meu círculo de
amigas e com as quais aprendi um pouco sobre os conflitos de gênero que
enfrentam e as soluções que encontraram para conseguir sobreviver na nossa
cultura transfóbica.
Chris dos Brilhos, por
exemplo, saiu da roça, de Senador Cortes, interior de Minas, para ser a
primeira transexual mineira a ter documentos civis com seu nome social
reconhecido. Extremamente religiosa, faz parte do grupo de orações de sua
paróquia, ao lado de outras tantas senhoras rezadeiras. Chris foi pioneira
também entre as que já realizaram sua readequação sexual e conta com orgulho as
histórias de sua cirurgia transgenitalizadora no Equador, há muito tempo.
Ou Baby Mancini, uma das
mais belas travestis brasileiras. Baby, além de ser proprietária de um salão de
beleza em Juiz de Fora, esteve à frente do Concurso Miss Brasil Gay durante
vários anos. Destaque no Carnaval, na Parada Gay, está sempre envolvida com as
badalações da alta sociedade e é nossa leitora assídua. Uma travesti que
conquistou respeito e um espaço que vai além das fronteiras de Minas e se estende
por todo o país.
Nem Chris e nem Baby
brilharam nos bancos das universidades, mas nunca deixaram de lutar pelos seus
direitos. Souberam fazer de sua aparência uma bandeira e de cada chegada um
instante de reflexão: sobre o lugar de cada um, sobre direitos individuais,
sobre ser autêntico.
Camisinha sempre!
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