Como conversamos pouco sobre as travestis e transexuais! É preciso que nos apropriemos das informações sobre as pessoas trans e que entendamos melhor o processo que se passa dentro delas.
Travestis e transexuais podem ser nascidos homens ou mulheres. Trans nascidas homens adotam identidade e aparência feminina e devem ser tratadas no feminino: sua identidade de gênero é feminina. Por isso nomes e vestes femininos, corpo com contornos femininos e comportamento coerente com o que se espera desse gênero. Trans nascidos mulheres adotam a aparência de rapazes e o tratamento adequado, nesse caso, é o masculino. O mais comum é encontrarmos travestis femininas, ou seja, nascidos homens com identidade feminina. São pessoas que quebram todas as construções heterossexistas dominantes de gênero - masculino e feminino - se entendem e se identificam com as características do outro gênero que não o seu, e são vítimas de preconceito 24 horas por dia, sem descanso.
Travestis não são homens que viraram mulheres ou que tentam parecer mulheres. Na verdade, travestis são travestis e é isso que procuram ser. Nunca uma travesti será uma mulher, uma vez que não nasceu assim e normalmente não é essa sua proposta. E, curiosamente, as travestis reproduzem e fortalecem a exuberância do masculino como o encontramos na natureza - vide as plumagens alegóricas dos pavões ou as jubas revoltas dos leões: travestis normalmente adotam cabelos muito grandes, quadris e seios de silicone sempre avantajados, vestígios inevitáveis do seu lado masculino.
Transexuais, por outro lado, são pessoas que não se enquadram identitariamente no seu sexo biológico de nascença. Se olham no espelho e se enxergam do sexo oposto. São pessoas que não são felizes com sua genitália e não se adequam aos padrões que a sociedade tenta lhes impor. São cidadãs diagnosticadas por especialistas e que necessitam passar por uma intervenção cirúrgica difícil e perigosa.
Cirurgias de transgenitalização - ou adequação sexual, uma vez que se estará adequando corpo à psique - recentemente foram incluídas nos procedimentos cirúrgicos cobertos pelo SUS, numa demonstração de respeito e coerência com a universalidade em que se baseia o nosso sistema público de assistência á saúde. Essa atitude evita que nossas transexuais caiam nas mãos de charlatões. As cirurgias são caras, invasivas, de alto risco e executadas por pouquíssimos médicos no Brasil. E, da mesma forma que em outros procedimentos difíceis e/ou ilegais - como interrupção da gravidez indesejada ou aplicação de silicone industrial - sempre aparecem clínicas e profissionais inescrupulosos que agem na clandestinidade, causando danos físicos irreparáveis naquelas que buscam a realização de um desejo ou a solução de um problema.
Os transtornos, entretanto, não param por aí. Existe todo um constrangimento social que advém dessa transformação, ainda sem solução legal, como a mudança dos documentos daquelas pessoas que passaram por uma cirurgia de transgenitalização e que são obrigadas a carregar seu nome de nascença. É fácil imaginar a saia justa em que se transformam pequenos atos como o pagamento com cheques, utilização de cartões de crédito, a identificação em aeroportos e rodoviárias, enfim, uma desconfiança constrangedora toda vez que as companheiras são obrigadas a apresentarem seu RG com nome de rapaz.
É preciso entender que identidade de gênero difere fundamentalmente de orientação sexual e isso confunde ainda mais as pessoas. Quando falamos de orientação sexual estamos nos referindo a hetero, homo ou bissexualidade; quando falamos de identidade de gênero estamos falando de travestilidade e transexualidade. Assim, as transexuais podem ser heterossexuais, na medida em que se entendem mulheres e seu desejo é dirigido aos homens, como qualquer mulher heterossexual; ou homossexuais, caso tenham seu desejo dirigido a outras mulheres, como as lésbicas.
Entender a natureza humana vai muito além de oferecer o ombro a um amigo ou acolhê-lo em suas dúvidas e incertezas. Existem dramas humanos que precisam ser acolhidos e compreendidos, sob o risco de nunca alcançarmos a universalidade que os direitos humanos exigem e apregoam.
Camisinha sempre!