sábado, 22 de setembro de 2007

A ameaça que vem em nome de Deus – 22/09/2007


Não existe unanimidade quando se trata da defesa dos direitos dos homossexuais. Ainda existem aqueles que consideram o amor entre iguais um não-direito e estou me referindo especificamente ao discurso que temos ouvido por parte dos evangélicos e da ala conservadora da Igreja Católica, não só em seus cultos, mas também nas TVs, rádios e nos microfones de Assembléias Legislativas, Câmaras e Senado.
Os religiosos partiram para um confronto direto com os homossexuais. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais foram escolhidos por eles para representarem o mal na terra, a personificação do pecado, seres humanos de segunda categoria que não devem ser beneficiados por qualquer tipo de legislação que os proteja e garanta seus direitos.
Que direitos são esses? Direitos humanos básicos como o de ser quem se é, de direcionar nosso afeto a quem julgarmos merecedor dele. Direito de constituirmos uma família e planejarmos um futuro, de participarmos dos rumos da nossa nação; de sairmos às ruas e mostramos que não temos vergonha de sermos gays brasileiros e exibir o nosso orgulho disso.
Temos testemunhado recentes manifestações fundamentalistas que preocupam e revelam a ponta de um iceberg traiçoeiro. Não é de hoje que os evangélicos têm sido invasivos e desrespeitosos. O Rainbow Fest e as paradas gays, por exemplo, sempre foram tomados por panfletários militantes evangélicos que distribuíam folhetos que nos condenavam e se intrometiam em searas perigosas como a saúde pública, atribuindo a Aids a um castigo divino e iludindo a população com a idéia de imunidade ao HIV aos que se entregam a Jesus Cristo – ou às suas igrejas caça-níqueis.
Em junho deste ano, em Campina Grande (PB), evangélicos se sentiram no direito de iniciar uma campanha condenando os homossexuais, utilizando inclusive outdoors espalhados pela cidade. Grupos GLBT e evangélicos chegaram a se confrontar em praça pública com seus carros de som, faixas e palavras de ordem. Na TV, o pastor Silas Malafaia invade o almoço de sábado das famílias brasileiras para, aos brados, desrespeitar os homossexuais, incitar a violência contra nós e sofismar em cima de uma lógica que não se sustenta a não ser no falso moralismo e na gritaria de quem não tem argumentos para defender suas idéias. No Senado, o pastor Marcelo Crivella (PRB-RJ) é o portavoz de um grupo de religiosos que não descansará enquanto não negar cada um dos direitos humanos que restam aos homossexuais e garantir a impunidade àqueles que manifestarem preconceito contra nós, combatendo o PLC 122/06 que poderia aliviar o triste cenário da homofobia no Brasil, tornado-a um crime.
Na outra ponta, o papa Bento XVI reforça sua obsessão em relação aos homossexuais repetindo o mesmo discurso homofóbico em sua peregrinação pelo mundo. Esquece-se de se indignar com as feridas morais no seio da sua própria igreja, como o envolvimento sexual de seus padres com crianças inocentes, que definitivamente não a credenciam a julgar o comportamento de quem quer que seja ou a defender quaisquer valores que orientem nossa sociedade.
O estado laico brasileiro foi invadido por uma bancada religiosa que insiste em orientar as decisões políticas nacionais pelos ditames bíblicos. Políticos que se escondem por trás do "mistério da fé", como se misterioso não fosse também o que se passa nos bastidores de seus templos ou como se as mazelas de nossa pátria se resumissem a uma questão de fé. As bancadas religiosas têm defendido seus interesses pessoais em detrimento dos demais cidadãos brasileiros que não rezam o seu mesmo credo. Os avanços nos direitos dos cidadãos brasileiros têm sido postergados por suas visões preconceituosas e as injustiças vêm se perpetuando através desse discurso bíblico que reinterpreta os textos sagrados tendenciosamente, de forma a justificar aquilo que lhes interessa.
Camisinha sempre!

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