sábado, 15 de setembro de 2007

A lição que vem do interior – 15/09/2007


O interior de Minas Gerais tem sido um exemplo na conquista de direitos dos homossexuais. Com garra e dedicação, mesmo sem o apoio do governo federal – importantíssimo nos anos anteriores – gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais dos rincões mineiros estão organizando seus eventos e mostrando às prefeituras e aos programas municipais de DST-Aids a importância das Paradas do Orgulho Gay como reconhecimento e garantia de direitos dessa importante parcela da população de suas cidades.
Foi assim com as Paradas de Alfenas, de Contagem, Betim, Itaúna, Barbacena, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba e ainda vai ser em uma dezena de cidades onde os homossexuais organizados se mobilizam: nossa cidade não pode deixar de ter uma parada do orgulho gay! Talvez aí esteja um dos maiores méritos de nossos bravos gays do interior.
Não é tarefa para covardes expor sua orientação sexual ou identidade de gênero em cidades pequenas, conservadoras, onde todos se conhecem e se sentem no direito de se envolver na vida de todos; onde a homofobia é entendida como parte essencial da formação do masculino e os homossexuais vistos como doentes, pecadores e moralmente desviados. Aos gays do interior é exigido coragem para amar e desafiar os padrões estabelecidos.
Eles não dispõem de espaços de socialização, mas criam alternativas para se encontrarem e se reconhecerem. No mapa da cena gay de Minas Gerais encontramos cidades pólos que atraem homossexuais da vizinhança por oferecerem poucas, mas honrosas e prestigiadas opções: bares, boates, saunas, grupos de convivência ou as ONGs que cumprem esse papel de construção da identidade gay com bastante propriedade.
E o interior-conservador-mineiro tem nos surpreendido pela modernidade, pela aceitação e apoio que temos recebido e pelas idéias inovadoras que têm surgido em nossas montanhas. Talvez as grandes e tradicionais famílias mineiras estejam reconhecendo a existência de seus filhos e filhas homossexuais, cansadas de mantê-los escondidos no quartinho dos fundos, se envergonhando de seu comportamento e modos.
A presença das famílias nas Paradas, nas reuniões e eventos organizados pelos gays do interior é marcante. Isso fortalece demais a nossa auto-estima. Assim como nos deixa encantados ver que muitos pais e mães fazem questão de iniciar seus filhos na convivência com a diversidade sexual, mostrandoos que nem todos são iguais e que o que torna indigno um ser humanos não é o tipo de amor que ele sente e o tipo de relações afetivas que estabelece.
A homofobia no nosso estado ainda não acabou. Muitos jovens ainda estão se matando por não suportar a pressão que o preconceito lhes impõe. Muitos são obrigados a deixarem suas cidades, o aconchego de seus amigos, a proteção de seus familiares por não suportarem a carga de exigências e a incompreensão daqueles que o deveriam apoiar e poderem ser verdadeiros no seu jeito de ser.
Mas isso está mudando. Temos nos organizado e buscado reconstruir nossa imagem e cada vez mais temos comprovado que a desconstrução de estereótipos, seja em palestras, em protestos, na mídia ou nas escolas se faz com informação de qualidade, clareza e coração aberto, o que não tem faltado aos nossos valentes militantes do interior das Minas Gerais.
Camisinha sempre! 

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