sábado, 1 de setembro de 2007

O lado invisível da visibilidade – 01/09/2007


Visibilidade. É com esse argumento que a cada dia a sigla que se refere a nós muda, aumenta e se torna mais incompreensível. Ou será que temos a ilusão de imaginar que as pessoas comuns saibam na ponta da língua o que significa GLBTTT? Chegam a ser patéticas as discussões que tratam dessas siglas nos congressos e encontros que reúnem homossexuais. Aliás, a própria palavra homossexual já não contempla o universo das pessoas que possuem desejo pelo mesmo sexo.
Tudo começa com a premissa de que somos nós mesmos que definimos quem somos. Sou eu que digo que sou gay porque eu sei que meu desejo é dirigido a outros homens. Também aos heterossexuais, às lésbicas, aos bissexuais, travestis e transexuais é garantido o direito de se auto-identificar. Não somos nós que definimos a identidade do outro, senão ele próprio. Os sentimentos e as percepções que se passam na sua cabeça são o que permite definir seu papel, seu comportamento ou sua identidade.
Assim, travestis e transexuais femininas (homem para mulher) se identificam com o gênero feminino: usam roupas de mulher, nomes de mulher, têm aparência feminina (cabelos, seios, quadris, feições). Usam o provador feminino, o banheiro feminino e, além do preconceito por serem pessoas trans, sofrem por serem femininas num mundo machista. Algumas não se consideram homossexuais uma vez que se relacionam com pessoas masculinas, como as mulheres hetero. Portanto, não somos todos e todas homossexuais.
Até pouco tempo usávamos transgêneros (no sentido de transitar entre os gêneros – masculino e feminino) para identificar as travestis e transexuais. Entretanto, algumas não se consideravam contempladas e visíveis o suficiente uma vez que a referência aos dois grupos numa palavra só acaba por ocultar as particularidades que cada um deles possui. Exigiram, portanto, que fossem referenciadas separadamente. Outras discordam e se consideram realmente transgêneros, usufruindo da flexibilidade que o conceito lhes dá e preferem continuar a serem tratadas assim. Entre uma posição e outra, optou-se por adotar os três Ts: travestis, transexuais e transgêneros.
Definitivamente, não somos todos gays. No Brasil adotamos a palavra gay para definir os homens homossexuais, ao contrário dos países da Europa e Estados Unidos, onde a palavra se aplica tanto a mulheres quanto aos homens. Nossas mulheres fazem questão de serem tratadas como lésbicas e seu desejo deve ser respeitado. O L não pode ser esquecido.
Os bissexuais existem e não necessariamente são bígamos ou polígamos. Eles estão hetero ou homossexuais, dependendo do foco do seu desejo naquele momento de sua vida, mas não são nem uma coisa nem outra; são bissexuais, com características e demandas próprias. Eis a importância do B.
E, em nome da visibilidade, letras e mais letras vão sendo incorporadas a uma sigla que, a cada dia nos torna mais invisíveis pela própria incompreensão das pessoas do que diacho significa GLBTTT. Como se não bastasse, a ordem dessas letras também é motivo de polêmica. Lésbicas acham que o L deve vir primeiro; travestis acham que os bissexuais devem vir por último e o que antes era GLBTTT pode se tornar LGTTTB.
Em que o acréscimo de uma letra que ninguém sabe o que significa numa sigla que ninguém sabe o que quer dizer aumenta a visibilidade de um segmento? Que tempo estamos perdendo tentando emplacar um conceito que necessita de uma longa tradução a cada vez que é pronunciado! Como desperdiçamos energias e dificultamos a compreensão com tanto preciosismo e tanta celeuma!
Por trás disso tudo se esconde uma gigantesca discussão política que ofusca o que nos une. Novos parceiros se aproximam da luta pelo respeito à livre orientação sexual e precisamos ser mais claros e objetivos nos conceitos essenciais à nossa comunicação. E, definitivamente, GLBTTT, ou LGTTTB torna visível tão somente as letras G, L, B e T (três vezes). Isso não significa nada para milhares de pessoas que não sabem que estamos nos referindo a gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Quanto mais às suas diferenças.
Camisinha sempre! 

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