sábado, 23 de abril de 2011

Homocídios - 23/04/2011

Em 2007, Campina Grande (PB) já havia ocupado as páginas dos jornais com notícias de homofobia. Naquele ano, religiosos fundamentalistas da cidade espalharam dez outdoors contra os direitos dos homossexuais e o projeto de lei que criminaliza a homofobia, o PLC 122. Os religiosos não queriam - e não querem - abrir mão do "direito" de condenarem a homossexualidade e incitarem a violência contra a população LGBT em seus templos.

Quase quatro anos depois, a cidade paraibana volta a chocar o Brasil, agora com as imagens exibidas pelo "Bom Dia, Brasil", na última segunda-feira: uma travesti é assassinada na rua, com mais de 30 facadas. Como justificativa, os assassinos apontaram o não pagamento de uma dívida de prostituição. Foi também uma dívida, dessa vez, envolvendo o comércio de drogas, o motivo do recente assassinato da travesti Priscila, na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte.

O antropólogo Luiz Mott, um dos maiores estudiosos dos crimes homofóbicos no Brasil, não tem dúvidas em apontar o preconceito como o pano de fundo em todas essas tragédias. Segundo ele, os crimes contra gays, lésbicas e travestis, possuem sempre uma carga homofóbica, mesmo contra aqueles interessados em imputar à violência cotidiana, também o motivo dos crimes contra os LGBT.

Segundo Mott, existem pelo menos três tipos de homofobia: a individual (psicológica) a cultural (oriunda da tradição machista) e a institucional (ligada aos governos). "Quando um rapaz aceita o convite de um gay para ir ao seu apartamento e parte para a violência, está sendo levado pela homofobia cultural, pois aprendeu que os gays são presas fáceis e que ninguém vai se importar com seus gritos de socorro", explica. Mott entende que os latrocínios contra essa população possuem um elemento essencial oriundo do preconceito, que aumenta sua vulnerabilidade. É essa homofobia cultural que cria dificuldades para se conseguir quem testemunhe para colaborar na solução dos crimes.

A homofobia individual se manifesta no ódio ou desprezo pelos gays. Mott explica que os requintes de crueldade presentes nos crimes contra os homossexuais, como degolas, dezenas de facadas ou tiros, são muitas vezes a negação do desejo homoerótico do assassino, que, nesse momento, "está matando seu desejo inconfessável".

A homofobia institucional se apresenta, por exemplo, na falta de políticas públicas voltadas para a emancipação da população LGBT, a morosidade em se apurar os crimes contra essa população e a dificuldade governamental em enfrentar o problema, como através de uma educação formal que promova o respeito às diferenças.

Assim, não é possível se separar a homofobia dos crimes que assistimos pela TV, sejam eles ligados a cobrança de dívidas de drogas ou prostituição.


Camisinha sempre!

Um comentário:

  1. Parabéns pelas análises coerentes e atuais no seu blog! A internet precisa de mais pessoas com textos como os teus. PArabéns

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