A luta contra o preconceito aos homossexuais não é exclusiva dos LGBT,
mas de todos aqueles que vislumbram um mundo mais justo, onde as diferenças
sejam respeitadas, sejam elas quais forem. Nessa linha, nada mais natural que
um defensor dos direitos humanos empunhando as bandeiras do movimento gay, independentemente
de sua orientação sexual. Não são poucos os simpatizantes heterossexuais tão
íntimos de nossas lutas e tão indignados com as situações de homofobia quanto nós
mesmos.
Entretanto, a garantia e a valorização do protagonismo de qualquer
comunidade em sua luta devem fazer parte do repertório de defesa de direitos de
todos aqueles que se colocam ao lado de um grupo, seja por solidariedade ou
pelo motivo que for. É importante que no futuro possamos prestar homenagens aos
nossos heróis e que reconheçamos no nosso grupo a capacidade de produzi-los.
Durante esta semana, o debate sobre esse tema esteve em pauta,
especificamente na composição do recém-criado Conselho Nacional LGBT, órgão de
controle social ligado à Secretaria de Direitos Humanos, composto por
representantes governamentais e da sociedade civil. Pelo estatuto do Conselho,
a primeira presidência deve ser ocupada por um representante do governo, exatamente
para facilitar esses delicados primeiros momentos de implantação do órgão.
A saia-justa surgiu na constatação de que Ramais de Castro Silveira, o
presidente indicado pelo governo, não era homossexual, ou pelo menos não trouxe
à baila sua orientação sexual. As opiniões se dividiram entre os que
consideraram esse detalhe pouco importante e aqueles que definitivamente se
indignaram e sugeriram que o governo voltasse atrás e buscasse, em seus
quadros, algum LGBT para ocupar a direção do Conselho.
É a primeira vez que esse tipo de situação acontece, em todos os
conselhos ligados ao governo federal. Analisando a situação dos outros,
entendemos o quão absurdo seria imaginar um homem presidindo o conselho das
mulheres, ou um branco presidindo o dos negros. Aos olhos dos próprios
representantes das associações que compõem o Conselho LGBT, isso não pareceu
tão absurdo assim, e o nome indicado pelo governo recebeu aprovação unânime.
Distante do debate, o presidente indicado se apropriou rapidamente do discurso
LGBT, demonstrou competência na sua estreia no cargo e recebeu elogios em Belo
Horizonte, em recente audiência pública que discutiu os assassinatos das
travestis mineiras. Ramais defendeu a criminalização da homofobia como uma
forma de reduzir as práticas homofóbicas e ações preventivas que envolvam a
educação e consolidem a promoção dos direitos humanos.
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