Em 2007, Campina Grande (PB) já havia ocupado as páginas dos
jornais com notícias de homofobia. Naquele ano, religiosos fundamentalistas da
cidade espalharam dez outdoors contra os direitos dos homossexuais e o projeto
de lei que criminaliza a homofobia, o PLC 122. Os religiosos não queriam - e
não querem - abrir mão do "direito" de condenarem a homossexualidade
e incitarem a violência contra a população LGBT em seus templos.
Quase quatro anos depois, a
cidade paraibana volta a chocar o Brasil, agora com as imagens exibidas pelo
"Bom Dia, Brasil", na última segunda-feira: uma travesti é
assassinada na rua, com mais de 30 facadas. Como justificativa, os assassinos
apontaram o não pagamento de uma dívida de prostituição. Foi também uma dívida,
dessa vez, envolvendo o comércio de drogas, o motivo do recente assassinato da
travesti Priscila, na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte.
O antropólogo Luiz Mott, um
dos maiores estudiosos dos crimes homofóbicos no Brasil, não tem dúvidas em
apontar o preconceito como o pano de fundo em todas essas tragédias. Segundo
ele, os crimes contra gays, lésbicas e travestis, possuem sempre uma carga
homofóbica, mesmo contra aqueles interessados em imputar à violência cotidiana,
também o motivo dos crimes contra os LGBT.
Segundo Mott, existem pelo
menos três tipos de homofobia: a individual (psicológica) a cultural (oriunda
da tradição machista) e a institucional (ligada aos governos). "Quando um
rapaz aceita o convite de um gay para ir ao seu apartamento e parte para a violência,
está sendo levado pela homofobia cultural, pois aprendeu que os gays são presas
fáceis e que ninguém vai se importar com seus gritos de socorro", explica.
Mott entende que os latrocínios contra essa população possuem um elemento
essencial oriundo do preconceito, que aumenta sua vulnerabilidade. É essa
homofobia cultural que cria dificuldades para se conseguir quem testemunhe para
colaborar na solução dos crimes.
A homofobia individual se
manifesta no ódio ou desprezo pelos gays. Mott explica que os requintes de
crueldade presentes nos crimes contra os homossexuais, como degolas, dezenas de
facadas ou tiros, são muitas vezes a negação do desejo homoerótico do
assassino, que, nesse momento, "está matando seu desejo
inconfessável".
A homofobia institucional se
apresenta, por exemplo, na falta de políticas públicas voltadas para a
emancipação da população LGBT, a morosidade em se apurar os crimes contra essa
população e a dificuldade governamental em enfrentar o problema, como através
de uma educação formal que promova o respeito às diferenças.
Assim, não é possível se
separar a homofobia dos crimes que assistimos pela TV, sejam eles ligados a
cobrança de dívidas de drogas ou prostituição.
Camisinha sempre!