Durante
esta semana, assistimos chocados pela internet às cenas do assassinato da
travesti Priscila Brandão, 22, na esquina da Afonso Pena com Cláudio Manoel, em
Belo Horizonte. À queima-roupa, um homem atira e a derruba. Não satisfeito,
outro completa o "serviço". E, 24 horas depois, outra travesti foi
baleada na região da Pampulha, engrossando o caldo das estatísticas de crimes
homofóbicos em nosso Estado.
Segundo os
assustados moradores do bairro Funcionários, esse é o quinto assassinato de
travestis naquela região, nos últimos dois anos. Em setembro do ano passado,
outra travesti foi assassinada dois quarteirões abaixo, na esquina da rua
Maranhão, e, se nada for feito, corremos o risco de novas ocorrências.
Ao ler as
notícias, percebemos que tanto a imprensa quanto a polícia e a população
justificam os crimes pelo comportamento das travestis e seu possível
envolvimento com o tráfico de drogas e sua disputa pelos pontos de prostituição
- que tanto incomoda a vizinhança classe média do bairro. A barbárie urbana a
que assistimos acaba recebendo a aprovação da população: bem feito! Quem mandou
fazer ponto ali?
Se Priscila
estava naquele ponto vendendo seu corpo às 4h de uma quarta-feira, é porque é
ali, nesse horário, que os carrões dos pais de família e seus filhos ávidos por
experiências que satisfaçam suas fantasias sexuais param para contratar seus
serviços.
Independentemente
de Priscila estar ou não envolvida com o mundo das drogas, ela era uma cidadã
com direitos e carências, inclusive de respeito e políticas públicas que
promovessem sua emancipação e abrissem opções outras que não a prostituição
para garantir sua sobrevivência.
De 2008 a
2010, os crimes homofóbicos em Minas Gerais cresceram 125%. Se considerarmos só
as travestis e transexuais, do ano passado para cá, esse número cresceu 37,5%,
passando de oito mortes noticiadas em 2009 para 11 em 2010, quase um
"travesticídio" por mês, segundo as apurações anuais do Grupo Gay da
Bahia.
Segurança
pública é responsabilidade governamental e, necessariamente, deve amparar todos
os cidadãos, pobres ou ricos, homo ou heterossexuais, na Cláudio Manoel ou na
Pedro II, de dia ou de noite. O trabalho em conjunto com a sociedade civil e a
garantia do protagonismo dos grupos vulneráveis têm demonstrado eficácia em todos
os países democráticos, e nossos órgãos de segurança sabem bem disso. Enquanto
o governo de Minas Gerais insistir em ignorar os problemas dos LGBT e mantiver
alguém completamente distante dessa realidade mórbida à frente dessas
políticas, continuaremos nos chocando com as cenas a que estamos assistindo.
Camisinha sempre!
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