sábado, 5 de março de 2011

Travesticídios - 05/03/2011




Durante esta semana, assistimos chocados pela internet às cenas do assassinato da travesti Priscila Brandão, 22, na esquina da Afonso Pena com Cláudio Manoel, em Belo Horizonte. À queima-roupa, um homem atira e a derruba. Não satisfeito, outro completa o "serviço". E, 24 horas depois, outra travesti foi baleada na região da Pampulha, engrossando o caldo das estatísticas de crimes homofóbicos em nosso Estado.
Segundo os assustados moradores do bairro Funcionários, esse é o quinto assassinato de travestis naquela região, nos últimos dois anos. Em setembro do ano passado, outra travesti foi assassinada dois quarteirões abaixo, na esquina da rua Maranhão, e, se nada for feito, corremos o risco de novas ocorrências.
Ao ler as notícias, percebemos que tanto a imprensa quanto a polícia e a população justificam os crimes pelo comportamento das travestis e seu possível envolvimento com o tráfico de drogas e sua disputa pelos pontos de prostituição - que tanto incomoda a vizinhança classe média do bairro. A barbárie urbana a que assistimos acaba recebendo a aprovação da população: bem feito! Quem mandou fazer ponto ali?
Se Priscila estava naquele ponto vendendo seu corpo às 4h de uma quarta-feira, é porque é ali, nesse horário, que os carrões dos pais de família e seus filhos ávidos por experiências que satisfaçam suas fantasias sexuais param para contratar seus serviços.
Independentemente de Priscila estar ou não envolvida com o mundo das drogas, ela era uma cidadã com direitos e carências, inclusive de respeito e políticas públicas que promovessem sua emancipação e abrissem opções outras que não a prostituição para garantir sua sobrevivência.
De 2008 a 2010, os crimes homofóbicos em Minas Gerais cresceram 125%. Se considerarmos só as travestis e transexuais, do ano passado para cá, esse número cresceu 37,5%, passando de oito mortes noticiadas em 2009 para 11 em 2010, quase um "travesticídio" por mês, segundo as apurações anuais do Grupo Gay da Bahia.
Segurança pública é responsabilidade governamental e, necessariamente, deve amparar todos os cidadãos, pobres ou ricos, homo ou heterossexuais, na Cláudio Manoel ou na Pedro II, de dia ou de noite. O trabalho em conjunto com a sociedade civil e a garantia do protagonismo dos grupos vulneráveis têm demonstrado eficácia em todos os países democráticos, e nossos órgãos de segurança sabem bem disso. Enquanto o governo de Minas Gerais insistir em ignorar os problemas dos LGBT e mantiver alguém completamente distante dessa realidade mórbida à frente dessas políticas, continuaremos nos chocando com as cenas a que estamos assistindo.

Camisinha sempre!

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