sábado, 26 de março de 2011

Direito de ser - 26/03/2011



Derby fica a cerca de 200 km ao norte de Londres. Ali, no centro da Inglaterra, os 230 mil habitantes da cidade compartilham opiniões e se envolvem na polêmica provocada pela decisão do City Council, algo como uma Câmara Municipal, de proibir os Johns de serem pais adotivos, graças à sua posição homofóbica.

Eunice e Owen Johns tiveram seu pedido de adoção negado quando declararam que tentariam "mudar a criança" se percebessem que ela era homossexual. Segundo Katie Harris, especialista em questões de adoção na Câmara de Derby, "se nós, autoridades encarregadas de cuidar do bem-estar de nossas crianças, autorizamos essa adoção e vem a público que esse senhor está pondo em prática aquilo que ele chama de ‘mudar a criança’, com certeza estaríamos numa grande enrascada".

O caso foi parar na Corte Suprema após várias tentativas de se conciliar as visões religiosas dos Johns com as regras inglesas de adoção. O casal tenta agora reverter a decisão e cobra do governo a garantia de proteção às suas crenças religiosas alegando acreditarem numa Bíblia onde está escrito que "dois homens vivendo juntos é uma abominação", cita a indignada sra. Johns.

A decisão da Câmara de Derby sinaliza para novos tempos e concepções. Apesar da aparente lisura comportamental do casal religioso, o direito à livre orientação sexual do futuro adulto prevaleceu sobre as crenças que poderiam perpetuar situações de homofobia internalizada e sofrimentos psicológicos que se refletem nos assustadores índices de suicídios entre os jovens gays. Eles são hoje um dos grupos de maior risco de cometerem suicídios, graças a essa indução da não aceitação de si mesmos e à negação de seus desejos, tão confusos no despertar da sexualidade.

De fato existe uma ideia generalizada de que é melhor estar morto do que ser gay, e isso tem feito com que mais da metade dos jovens que se matam realmente o seja. Como se não bastasse, o desrespeito às características individuais e o não acolhimento desses rapazes refletem-se nos elevados índices de infecção pelo HIV nessa população, que hoje representa o grupo mais vulnerável à Aids entre todas as categorias de exposição, acima dos profissionais do sexo e usuários de drogas. O que não deixa de ser uma forma de desapego à vida.


Camisinha sempre!

sábado, 19 de março de 2011

Beijo gay - 19/03/2011


Nesta semana, entre lágrimas, aplausos e decepções, o Brasil assistiu o final feliz do romance gay da novela "Ti-ti-ti". Em meio a uma grande festa, Thales (Armando Babaioff) se desarma de seus receios, se despe de sua homofobia internalizada e anuncia seu amor por Julinho (André Arteche). Não um amor de amigos, mas um amor gay, de homem para homem, desses que fazem as pessoas pararem, repararem, pensarem e se posicionarem.

Diante da declaração pública, Julinho custa a reagir. O apaixonado segue em seu discurso emocionante, marejando os olhos de milhões de telespectadores que vivem ou viveram um grande amor e que conhecem suas dores e delícias. Um grande amor sempre suscita atos de heroísmo e bravura e não seria diferente em se tratando de dois homens.

Finalmente, Thales abre seu coração e os braços para romper todas as barreiras e acolher o homem que ele deseja tanto e que acabara de provocar o encontro consigo mesmo, destruindo castelos de mentiras e fazendo nascer de novo alguém capaz de se orgulhar de sua capacidade de amar. Julinho percebe isso, acorda de sua incredulidade e reage ao convite do amado.

Mas, não se beijam. Abraçam-se, recostam-se nos ombros um do outro e a cena óbvia do beijo romântico entre os dois amantes que, num momento sublime se revelam e superam os preconceitos, que alinhavara a trama daquele núcleo da novela, não acontece. Depois de toda essa saga, Julinho e Thales negam a manifestação de seu afeto diante das atentas câmeras globais, responsáveis por definir até onde o público da novela das sete suporta conviver com o amor homossexual. Para eles, o beijo gay ultrapassa esse limite.

O não beijo de "Ti-ti-ti" já era esperado. Fora anunciado pelas revistas de fofoca e indicado pela direção da Rede Globo alguns meses antes, quando Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, respondeu ofício da ABGLT e deixou bastante claro que a empresa que dirige se preocupa em estimular seus autores a abordarem causas de interesse da sociedade, promover princípios, valores e direitos universais, mas não como fazê-lo. "Não cabe promover institucionalmente o beijo gay", esclareceu.

Enquanto a Rede Globo, tão moderna e atrevida, por um lado, e conservadora e acomodada, por outro, orientava seus autores sobre as conveniências e os limites de uma novela das sete, nos Estados Unidos, a Fox exibia um dos mais belos e esperados momentos do seriado "Glee", fenômeno de audiência juvenil norte-americano: no capítulo de terça-feira, Kurt (Chris Colfer) e Blaine (Criss Darren) se beijam apaixonados e protagonizam uma das cenas de maior acesso na internet nesta semana.


Camisinha sempre!


sábado, 12 de março de 2011

Ricos - 12/03/2011



O homem mais rico do mundo chama-se Carlos Slim. Ele ocupa o topo da lista da revista "Forbes", que acaba de lançar a sua lista anual das pessoas bilionárias. 
 Slim, entre outras coisas, é o dono da mexicana Telemex, que aqui no Brasil controla a Claro. Segundo a "Forbes", 1.210 pessoas no mundo possuem mais de um bilhão de dólares. Alguns, bem mais que isso, como Slim, cuja fortuna alcança 74 bilhões. 
 Ainda segundo o levantamento da revista, no último ano a China dobrou o número de bilionários e Moscou é a cidade com maior número desses afortunados. Todos os criadores do Facebook estão na lista e um brasileiro aparece logo na oitava posição: Eike Batista, com uma fortuna de 30 bilhões de dólares. 
 A lista é predominantemente masculina. Entre as 20 maiores fortunas do mundo, estão somente as de duas mulheres. Christy Walton, da rede Walmart, é a décima fortuna, e, em 15º lugar está Liliane Bettencourt, dona da L’Óreal. 
 Pelo menos dois nomes são abertamente gays. Barry Diller, o principal executivo da IAC - InterActiveCorp, uma das provedoras de internet líderes nos Estados Unidos -, aparece em 938º lugar na lista, com uma fortuna de US$1,3 bilhões. Além de rico, Diller foi apontado pela "Out Magazine" como o sexto gay norte-americano mais influente de 2010. 
 David Geffen é o ducentésimo na lista, com uma fortuna de US$ 5,1bilhões. Apontado como o gay mais rico do mundo, entre outras referências, é sócio de Steven Spielberg nos estúdios Dreamworks. 
 Geffen produziu filmes conhecidos, como "Entrevista com o Vampiro" e "A Pequena Loja dos Horrores". Entre seus grandes lançamentos artísticos estão grupos do timbre do Eagles, Aerosmith e Guns N’Roses. 
 Geffen doa parte de seu salário para a David Geffen Foundation, uma organização filantrópica voltada para o financiamento de pesquisas para a cura da Aids, uma causa que ele adotou bravamente desde que anunciou sua homossexualidade, em 1980. 
 Geffen, além disso, é conhecido pelo lobby incansável junto ao governo norte-americano para ampliar essas pesquisas e os direitos dos homossexuais. Em 1993, ele publicou um anúncio de jornal de página inteira protestando contra a política do então presidente Bill Clinton sobre os gays no serviço militar. 
 Camisinha sempre! 
 Foto: David Geffen

sábado, 5 de março de 2011

Travesticídios - 05/03/2011




Durante esta semana, assistimos chocados pela internet às cenas do assassinato da travesti Priscila Brandão, 22, na esquina da Afonso Pena com Cláudio Manoel, em Belo Horizonte. À queima-roupa, um homem atira e a derruba. Não satisfeito, outro completa o "serviço". E, 24 horas depois, outra travesti foi baleada na região da Pampulha, engrossando o caldo das estatísticas de crimes homofóbicos em nosso Estado.
Segundo os assustados moradores do bairro Funcionários, esse é o quinto assassinato de travestis naquela região, nos últimos dois anos. Em setembro do ano passado, outra travesti foi assassinada dois quarteirões abaixo, na esquina da rua Maranhão, e, se nada for feito, corremos o risco de novas ocorrências.
Ao ler as notícias, percebemos que tanto a imprensa quanto a polícia e a população justificam os crimes pelo comportamento das travestis e seu possível envolvimento com o tráfico de drogas e sua disputa pelos pontos de prostituição - que tanto incomoda a vizinhança classe média do bairro. A barbárie urbana a que assistimos acaba recebendo a aprovação da população: bem feito! Quem mandou fazer ponto ali?
Se Priscila estava naquele ponto vendendo seu corpo às 4h de uma quarta-feira, é porque é ali, nesse horário, que os carrões dos pais de família e seus filhos ávidos por experiências que satisfaçam suas fantasias sexuais param para contratar seus serviços.
Independentemente de Priscila estar ou não envolvida com o mundo das drogas, ela era uma cidadã com direitos e carências, inclusive de respeito e políticas públicas que promovessem sua emancipação e abrissem opções outras que não a prostituição para garantir sua sobrevivência.
De 2008 a 2010, os crimes homofóbicos em Minas Gerais cresceram 125%. Se considerarmos só as travestis e transexuais, do ano passado para cá, esse número cresceu 37,5%, passando de oito mortes noticiadas em 2009 para 11 em 2010, quase um "travesticídio" por mês, segundo as apurações anuais do Grupo Gay da Bahia.
Segurança pública é responsabilidade governamental e, necessariamente, deve amparar todos os cidadãos, pobres ou ricos, homo ou heterossexuais, na Cláudio Manoel ou na Pedro II, de dia ou de noite. O trabalho em conjunto com a sociedade civil e a garantia do protagonismo dos grupos vulneráveis têm demonstrado eficácia em todos os países democráticos, e nossos órgãos de segurança sabem bem disso. Enquanto o governo de Minas Gerais insistir em ignorar os problemas dos LGBT e mantiver alguém completamente distante dessa realidade mórbida à frente dessas políticas, continuaremos nos chocando com as cenas a que estamos assistindo.

Camisinha sempre!