sábado, 22 de janeiro de 2011

"Dois de Paus" - 22/01/2011


Mais uma vez, a 37ª Campanha de Popularização do Teatro & Dança, do Sinparc, em Belo Horizonte, inclui vários espetáculos com a temática gay. Estão de volta as comédias escrachadas, os estereótipos, o desrespeito, mas também alguns belíssimos trabalhos que abordam a homossexualidade como um assunto que atrai a atenção das pessoas e que precisa ser debatido. 
Nesta semana, assisti ao espetáculo "Dois de Paus", que conta a história de um casal gay de Belo Horizonte envolvido com os problemas do relacionamento cotidiano. Produção simples, mas impecável desde as soluções do cenário, o figurino e a seleção das músicas. O texto de Arthur Tadeu Curado flui com facilidade e não deixa o ritmo se perder no estilo self-made adotado pelo diretor Fernando Veríssimo, em que os atores são seus próprios contrarregras. 
Aloísio Pires e Douglas Gonzáles, o casal gay em cena, conseguiram um equilíbrio raro. Não deixam de ser gays, não deixam de dar pinta e exagerar nos trejeitos, mas não ultrapassam os limites da realidade do meio que convivemos. Em alguns momentos, rimos de nós mesmos e de nossas experiências, como nas cenas cotidianas de carinho, nos dengos da intimidade ou nas "discussões do relacionamento às três da manhã" que sempre terminam em brigas. 
O belo Aloísio Pires, por sinal, é um polvo com mil tentáculos. Além de ator e bailarino, é responsável pelo cenário, pelo figurino e pela coreografia do sensualíssimo tango gay dançado à meia luz num dos mais belos momentos do espetáculo. 
Por trás de todo esse talento e criatividade, a plateia repleta de gays, lésbicas e uns poucos simpatizantes depara-se com a exposição de um tema que nos desafia e desperta polêmica até entre nós mesmos: a construção interna do casamento homossexual longe dos padrões heterossexuais e dos papéis de gênero impostos pela cultura heterossexista dominante; uma relação entre dois homens ou duas mulheres em que ninguém esteja assumindo o papel do sexo oposto. 
Sem perceber, "Dois de Paus" expõe, em 60 minutos, os encontros e as trombadas de dois homens treinados para serem machistas, que, por algum motivo, encontram-se, apaixonam-se, amam-se e insistem em imputar ao outro um papel diferente daquele desempenhado por si mesmo, porque aprenderam que o amor é assim. Num tom bastante descontraído, discute a efemeridade de nossas relações e os dramas de uma procura incessante por um príncipe encantado incapaz de atender às nossas expectativas gays e que se encontra, na verdade, dormindo ao nosso lado. 
Camisinha sempre!

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