E a Parada de Belo Horizonte aconteceu no domingo passado. A
décima terceira. Isso significa que há 12 anos o movimento de lésbicas, gays e
pessoas trans se dirige aos mesmos departamentos dos órgãos públicos e encontra
as mesmas dificuldades: regras draconianas impossíveis de serem cumpridas;
desinteresse e surpresa, como se depois de 12 anos fosse essa a primeira parada
do orgulho gay na cidade; alvarás liberados na véspera, sob pressão e ameaças
de interdição do desfile.
Sem contar a mesma e
interminável lista de problemas enfrentados por todas as ONGs que assumiram a
organização das paradas gays em suas cidades, encabeçada pela dificuldade de
apoio financeiro para o pagamento dos carros de som. Resultado: ativistas
comprometendo seu crédito e sua vida pessoal para garantir que a maior
manifestação pública de combate ao preconceito aconteça.
Durante a concentração, as
artistas drag queens Carlinhos Brasil e Kayete comandavam o palco, perfeitas na
simpatia, nos textos politicamente corretos e nos comentários que ressaltavam
sempre o caráter de promoção e defesa dos nossos direitos embutido na marcha.
O Grupo Cellos, organização
à frente da Parada, cuidou para que todos os grupos LGBTs presentes tivessem
direito a usar o microfone e, democraticamente, cada um deu o seu recado. Além
disso, em ano de eleição, candidatos de vários partidos se comprometiam com a
defesa de nossas causas e buscavam o apoio do movimento gay. Desses, poucos
LGBTs e muitos simpatizantes.
Em carta enviada durante a
semana, o prefeito de BH cumprimentou a organização e lembrou que "o
movimento LGBT possui inúmeras conquistas em sua trajetória, mas ainda é
preciso avançar". Marcio Lacerda reconhece que a Parada é fundamental
"para conscientização da população e atuação na defesa dos direitos
humanos".
Curioso foi o esquema das
gominhas: a praça da estação foi cercada e, ao chegarem, os participantes
recebiam no punho uma gominha, dessas de dinheiro. Foram adquiridas 15 mil
gominhas. Pretendia-se, assim, controlar o acesso e manter o limite
estabelecido para o local pelos órgãos de segurança. É claro que a ideia não
funcionou e, em pouco tempo, toda a rua da Bahia estava tomada por cerca de 100
mil alegres manifestantes que pediram passagem e ocuparam, por algumas horas, o
espaço urbano da capital mineira como o espaço da diversidade. Com ou sem
gominha.
Camisinha sempre!