sábado, 26 de junho de 2010

Aids - 26/06/2010




O Ministério da Saúde acaba de apresentar os resultados de uma pesquisa feita com a população de gays e outros homens que fazem sexo com homens no Brasil. Dez cidades serviram de base para um estudo que entrevistou cerca de 3.600 gays maiores de 18 anos e que concluiu que 10,5% estão infectados pelo HIV. Um número bastante elevado se considerarmos que, entre os homens heterossexuais, esse índice é de 0,8%.

A mesma pesquisa mostrou que somos mais escolarizados que os heteros: enquanto 52,2% dos gays entrevistados possuem 11 anos ou mais de escolaridade, esse índice é de 25,4% entre os homens em geral. Mostrou ainda que fazemos mais o teste para o HIV, somos mais bem informados sobre a Aids e procuramos os serviços de saúde com maior frequência. Porém, revelou que os jovens gays usaram menos a camisinha na sua primeira relação sexual que os heterossexuais.

O estudo brasileiro apresenta dados que se equiparam a outros países: nos Estados Unidos, por exemplo, a prevalência do HIV entre os gays é de 9,1%; na Argentina, 11,7%; e no México, 19,2%. Os altos índices demonstram que o HIV ainda está entre nós com muita intensidade e que ainda não incorporamos o preservativo como uma rotina nas nossas relações sexuais.

A partir desses dados, existe o temor de que se retome a ideia de "grupo de risco" que tantos danos causou aos gays no início da epidemia, fez com que a homofobia se intensificasse e que os heterossexuais se considerassem, de certa forma, imunes ao HIV. Em consequência, assistimos ao crescimento da epidemia entre os homens em geral que representam, segundo o Ministério, cerca de 97% dos brasileiros.

Esses altos índices são atribuídos, principalmente, a fatores que amplificam a vulnerabilidade dessa população, entre eles a homofobia: cerca de 30% dos homossexuais declaram já ter sofrido algum tipo de discriminação na vida. Desses, mais da metade sofreu agressão verbal ou física no seu ambiente de trabalho!

A epidemia da Aids no Brasil se concentra em alguns segmentos, entre eles os homens que fazem sexo com homens. Entretanto, essa tendência é verificada em quase todos os países do mundo, incluindo-se, por exemplo, a Inglaterra, França e Holanda, para citar os europeus. O preconceito nos torna mais vulneráveis e nos expõe a situações de risco que se refletem nos dados apresentados. Tapar os olhos para essa realidade é negar aos gays as oportunidades de nos beneficiarmos dos recursos e serviços no campo da saúde pública.

Camisinha sempre!


sábado, 19 de junho de 2010

Prevenção - 19/06/2010





Não podemos dizer que aquilo era algo trivial. Primeiro, porque não é trivial um congresso que se proponha a falar de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e à Aids. O sexo debatido por um ângulo não tão prazenteiro quanto o prazer, mas pelo lado espinhoso que não consegue escapar dos tabus e preconceitos que o cercam.

Estamos em Brasília, na noite de 16 de junho, solenidade de abertura do 8º Congresso Brasileiro de Prevenção às DST-Aids, organizado pelo Ministério da Saúde. Na plateia de um auditório completamente ocupado por cerca de 3.000 ativistas, profissionais de saúde, pessoas vivendo com HIV, representantes dos grupos vulneráveis à epidemia da Aids, gestores e funcionários públicos, assistimos pela enésima vez a um mestre de cerimônias de voz empostada e impessoal anunciar nomes e cargos de autoridades que tomam seus lugares à mesa sob o aplauso da inquieta plateia.

O hino nacional é cantado pela travesti Ângela Leclery, 61, que, imbuída de toda a responsabilidade e honraria que o convite carrega, nos emociona. As falas se sucedem e a ministra Nilcéa Freire defende a autonomia das mulheres para decidir sobre seu próprio corpo. É aplaudidíssima! A plateia revela a posição predominante e não é conservadora.

Chega a vez do ministro Temporão quando, na plateia, soam as vuvuzelas do movimento social. As faixas apregoam uma política de "tolerância zero" às falhas que recentemente provocaram um desabastecimento de alguns medicamentos antirretrovirais, o que gerou um período de fracionamentos e mudanças alternativas da medicação de alguns pacientes com Aids.
O ministro oferece o microfone e o ativista Beto Volpe esclarece a manifestação. Anuncia que, em protesto, estariam todos deixando a solenidade. Novamente ao som das vuvuzelas, saem e não ouvem a resposta do ministro, que critica a atitude do movimento e seu entendimento equivocado de democracia unilateral.

Antes de um divertido pout-pourri de paródias de marchinhas carnavalescas falando de bananas, camisinhas e prevenção, duas pin-ups transexuais se misturam aos convidados distribuindo preservativos e sachês de gel lubrificante. Por fim, um delicioso e inusitado bandolim de dez cordas anuncia que amanhã começa um dia duro de trabalho para quem entende a importância de se prevenir antes que precise se remediar.

Camisinha sempre!


sábado, 12 de junho de 2010

Parada SP - 12/06/2010




E mais uma vez, como cidadãos gays brasileiros, participamos da maior parada do mundo! Lá estávamos eu e Marquinho, respirando novamente o sabor marcante da manhã de domingo em São Paulo, no dia da Parada do Orgulho LGBT de 2010.

Primeiro, visitamos o Camarote Solidário, iniciativa da Agência de Notícias da Aids, que arrecada alimentos para organizações de assistência a pessoas vivendo com HIV. Depois, o espaço montado pela CADS - Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual, da Prefeitura de São Paulo. Ali, em plena avenida Paulista, uma bailarina saudava os convidados com voos suaves e lentos, içada a um imenso balão de gás e ladeada por duas drag queens com vestidos que as tornavam gigantes de mais de cinco metros de altura. Detalhes que revelam como os órgãos de defesa e promoção da cidadania LGBT se constituem parceiros do movimento social quando bem intencionados e administrados com seriedade.

Em sua décima edição, a Parada de São Paulo se tornou o segundo maior evento do Estado em arrecadação de recursos turísticos, perdendo somente para a Fórmula-1. A Parada atrai 400 mil turistas e injeta quase R$ 200 milhões na economia. Ela provoca o reconhecimento de que os homossexuais há muito deixaram de ser vistos como um estorvo para as grandes cidades e consolidaram-se como parte importante na construção do seu progresso. Seja na luta pela garantia dos direitos humanos; ou como propulsores da evolução e modernização dos costumes; ou através da injeção direta de dinheiro nos bolsos de todos os envolvidos com o trade turístico paulistano. Mas, com muita harmonia, alegria e paz, os homossexuais estavam em São Paulo para, além de gastar e se divertir, somar suas vozes ao coro dos descontentes com a pouca garantia de nossos direitos.

A Parada é um excelente negócio. Como a maioria dos eventos turísticos, ela quase não polui e seus lucros já chegam distribuídos. São milhares de trabalhadores que não precisam aguardar o giro da economia para terem acesso ao dinheiro. Ele já chega repartido entre o táxi, o hotel, o restaurante, o vendedor ambulante, os artistas, o comércio em geral. Todos politicamente corretos, preparados para acolher a diversidade de seus visitantes.

No Brasil, já são mais de 200 Paradas. Cada uma com suas características e sua cor local. Todas elas com um potencial enorme de geração de riqueza, represado ainda pela incompreensão e a homofobia. 


Camisinha sempre!




sábado, 5 de junho de 2010

Escola - 05/06/2010


  
Segue-se falando sobre uma educação sem homofobia. Uma mudança revolucionária nas escolas, onde as diferentes orientações sexuais sejam respeitadas e compreendidas. Uma escola que deixe de entregar a responsabilidade pela ausência da abordagem do tema homofobia à falta de intimidade dos profissionais de educação com o assunto. Esses, ignorantes e desinteressados, livram-se aliviados da "batata quente" e lavam suas mãos diante do bulling homofóbico.

Na verdade, as escolas têm se abstido de tratar de qualquer tema que fuja à cultura hegemônica, não só no que diz respeito à sexualidade, mas também à inclusão de outros aspectos que compõem a nossa salada cultural. Enquanto alguns professores preferem não reconhecer e conviver com as contradições de seus alunos, na maioria das vezes em função de suas próprias inseguranças, outros relutam em aceitar que determinados assuntos espinhosos sejam ignorados e fiquem de fora dos debates escolares por uma falha na capacitação profissional de nossos educadores.

Assim, uma escola sem homofobia não empurra o assunto para debaixo do tapete. O aluno homossexual não quer ser tratado como um igual, na medida em que possui características que o diferencia de seus colegas. Mas, quer que suas especificidades façam parte do repertório de sua sala de aula; que suas dúvidas possam ser esclarecidas num ambiente de acolhimento; e que sua inclusão na escola signifique mais que a garantia de um nome social na lista de chamada, mas sua emancipação como um aluno-cidadão, dotado de direitos que precisam ser respeitados.

Ao contrário do que se pratica, as escolas, ao buscarem contemplar toda a pluralidade, não podem se tornar um ambiente asséptico, que ignora as diferenças e desconsidera tudo que foge ao padrão heterossexual. Ao contrário, uma escola que emancipa busca tecer uma colcha de retalhos que contempla a todos e traz para a sala de aula aspectos que dizem respeito às diferenças de cada um de seus alunos.

Não se admite mais uma educação baseada em cartilhas e fórmulas matemáticas rotulantes para classificar os alunos, como um "check list" no qual estudantes são enquadrados, principalmente por suas características sexuais. Aí sim, a partir dessa lógica, o preconceito determina a forma como os homossexuais se incluem - ou se excluem - na comunidade escolar e o quanto isso determina a garantia ou não de seus direitos.

Camisinha sempre!