sábado, 19 de junho de 2010

Prevenção - 19/06/2010





Não podemos dizer que aquilo era algo trivial. Primeiro, porque não é trivial um congresso que se proponha a falar de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e à Aids. O sexo debatido por um ângulo não tão prazenteiro quanto o prazer, mas pelo lado espinhoso que não consegue escapar dos tabus e preconceitos que o cercam.

Estamos em Brasília, na noite de 16 de junho, solenidade de abertura do 8º Congresso Brasileiro de Prevenção às DST-Aids, organizado pelo Ministério da Saúde. Na plateia de um auditório completamente ocupado por cerca de 3.000 ativistas, profissionais de saúde, pessoas vivendo com HIV, representantes dos grupos vulneráveis à epidemia da Aids, gestores e funcionários públicos, assistimos pela enésima vez a um mestre de cerimônias de voz empostada e impessoal anunciar nomes e cargos de autoridades que tomam seus lugares à mesa sob o aplauso da inquieta plateia.

O hino nacional é cantado pela travesti Ângela Leclery, 61, que, imbuída de toda a responsabilidade e honraria que o convite carrega, nos emociona. As falas se sucedem e a ministra Nilcéa Freire defende a autonomia das mulheres para decidir sobre seu próprio corpo. É aplaudidíssima! A plateia revela a posição predominante e não é conservadora.

Chega a vez do ministro Temporão quando, na plateia, soam as vuvuzelas do movimento social. As faixas apregoam uma política de "tolerância zero" às falhas que recentemente provocaram um desabastecimento de alguns medicamentos antirretrovirais, o que gerou um período de fracionamentos e mudanças alternativas da medicação de alguns pacientes com Aids.
O ministro oferece o microfone e o ativista Beto Volpe esclarece a manifestação. Anuncia que, em protesto, estariam todos deixando a solenidade. Novamente ao som das vuvuzelas, saem e não ouvem a resposta do ministro, que critica a atitude do movimento e seu entendimento equivocado de democracia unilateral.

Antes de um divertido pout-pourri de paródias de marchinhas carnavalescas falando de bananas, camisinhas e prevenção, duas pin-ups transexuais se misturam aos convidados distribuindo preservativos e sachês de gel lubrificante. Por fim, um delicioso e inusitado bandolim de dez cordas anuncia que amanhã começa um dia duro de trabalho para quem entende a importância de se prevenir antes que precise se remediar.

Camisinha sempre!


Um comentário:

  1. Oswaldo, o artigo é bem humurado e repleto de frescor! Contagia com o respeito pelo tema e emociona com as suas doces palavras. É bom saber que temos você para publicizar os temores e alegrias dos oprimidos, denotando as suas conquistas realizadas diante do movimento e da atividade.

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