Não podemos dizer que aquilo era algo trivial. Primeiro, porque
não é trivial um congresso que se proponha a falar de prevenção às doenças
sexualmente transmissíveis e à Aids. O sexo debatido por um ângulo não tão
prazenteiro quanto o prazer, mas pelo lado espinhoso que não consegue escapar
dos tabus e preconceitos que o cercam.
Estamos em Brasília, na
noite de 16 de junho, solenidade de abertura do 8º Congresso Brasileiro de
Prevenção às DST-Aids, organizado pelo Ministério da Saúde. Na plateia de um
auditório completamente ocupado por cerca de 3.000 ativistas, profissionais de
saúde, pessoas vivendo com HIV, representantes dos grupos vulneráveis à
epidemia da Aids, gestores e funcionários públicos, assistimos pela enésima vez
a um mestre de cerimônias de voz empostada e impessoal anunciar nomes e cargos
de autoridades que tomam seus lugares à mesa sob o aplauso da inquieta plateia.
O hino nacional é cantado
pela travesti Ângela Leclery, 61, que, imbuída de toda a responsabilidade e
honraria que o convite carrega, nos emociona. As falas se sucedem e a ministra
Nilcéa Freire defende a autonomia das mulheres para decidir sobre seu próprio
corpo. É aplaudidíssima! A plateia revela a posição predominante e não é
conservadora.
Chega a vez do ministro
Temporão quando, na plateia, soam as vuvuzelas do movimento social. As faixas
apregoam uma política de "tolerância zero" às falhas que recentemente
provocaram um desabastecimento de alguns medicamentos antirretrovirais, o que
gerou um período de fracionamentos e mudanças alternativas da medicação de
alguns pacientes com Aids.
O ministro oferece o
microfone e o ativista Beto Volpe esclarece a manifestação. Anuncia que, em
protesto, estariam todos deixando a solenidade. Novamente ao som das vuvuzelas,
saem e não ouvem a resposta do ministro, que critica a atitude do movimento e
seu entendimento equivocado de democracia unilateral.
Antes de um divertido
pout-pourri de paródias de marchinhas carnavalescas falando de bananas,
camisinhas e prevenção, duas pin-ups transexuais se misturam aos convidados
distribuindo preservativos e sachês de gel lubrificante. Por fim, um delicioso
e inusitado bandolim de dez cordas anuncia que amanhã começa um dia duro de
trabalho para quem entende a importância de se prevenir antes que precise se
remediar.
Camisinha sempre!
Oswaldo, o artigo é bem humurado e repleto de frescor! Contagia com o respeito pelo tema e emociona com as suas doces palavras. É bom saber que temos você para publicizar os temores e alegrias dos oprimidos, denotando as suas conquistas realizadas diante do movimento e da atividade.
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