A revista "Veja" da semana que passou dedicou sua capa
aos jovens homossexuais. A matéria, por um lado, naturalizou positivamente a
diversidade sexual e destruiu antigos estereótipos. Mas pecou nas
generalizações e escorregou em novos preconceitos como a alienação política ou
o desinteresse pela defesa de seus direitos, atribuídos aos novos gays e
lésbicas.
A matéria tenta mostrar o
retrato de uma juventude homossexual que, sim, já desfruta dos ganhos advindos
de décadas de lutas, confrontos e estratégias protagonizadas pelo movimento
LGBT. Exibe jovens com um mínimo de conforto, universitários, que convivem com
pessoas estruturadas e têm garantia de acolhimento e amor. Jovens capazes de
estabelecer negociações que avançam numa mudança de comportamento, na revisão
de conceitos retrógrados e no estabelecimento de novas bases de respeito.
Mas, apesar do prazer de
constatar a existência dessa juventude livre e feliz, não vi o Mateus, 23 anos,
branco, tímido, pobre, filho de pobres, criado no interior de Minas pela tia
que o acolheu quando o pai o expulsou de casa aos pontapés por ser gay.
Excluído do mercado de trabalho por homofobia e arrasado porque recebeu
recentemente a notícia de que se tornara soropositivo. Ou o Tiago, negro, 21
anos, que divide uma casa com pais e outros cinco irmãos que não falam com ele
porque não gostam de gay. Desempregado, Tiago foi obrigado a interromper os
estudos, e hoje não possui qualificação que lhe garanta um mínimo de
empregabilidade.
Ou será que "Veja"
não tem informações sobre pessoas como a Jessy Lane, travesti que, ao sorrir,
escondia a boca com as mãos para não expor os poucos dentes que lhe restavam;
que sofria de uma anemia falciforme que tirou sua vida aos 24 anos, antes que
tivesse tempo de conquistar seus tão sonhados peitos de silicone. Ou a
Carolina, 17 anos, que se refugia na casa da avó porque seus pais não aceitam
sua namorada; parou de estudar e passa seus dias entediada diante de uma TV ou
vagando pela rua.
Dia 19 de maio, caravanas de
todo o país estarão se dirigindo a Brasília, onde participarão da 1ª Marcha
Nacional Contra a Homofobia e do 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra
a Homofobia. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais estarão
manifestando sua indignação com a falta de políticas públicas efetivas que
combatam o preconceito por orientação sexual.
Na linha de frente, centenas
de bravos e indignados jovens homossexuais brasileiros. Jovens que
"Veja" não viu.
Camisinha sempre!
Jovens de minha geração, a geração "Y" (nascidos entre 1989 e 1996), não estão livres de todo ódio propagado pelas gerações anteriores. Somos muitos de nós, os considerados oblíquos morais da identidade, da binaridade sexual e da heterossexualidade compulsória, vítimas de uma violência horrível todos os dias. Li a matéria e fiquei satisfeito com alguns paradigmas que tentaram desconstruir, mas como sempre, uma revista destinada a classe média podre não iria falar dos LGBTs que vivem na periferia física e social. Começando por um homem, branco, gay, cisgênero e bem vestido estampando a capa da revista. Incoerente com o cenário global que estamos inseridos. Mas a revista Veja é isso: uma revista que insiste em "desver" coisas.
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