sábado, 15 de maio de 2010

`Veja´ não viu - 15/05/2010



A revista "Veja" da semana que passou dedicou sua capa aos jovens homossexuais. A matéria, por um lado, naturalizou positivamente a diversidade sexual e destruiu antigos estereótipos. Mas pecou nas generalizações e escorregou em novos preconceitos como a alienação política ou o desinteresse pela defesa de seus direitos, atribuídos aos novos gays e lésbicas.

A matéria tenta mostrar o retrato de uma juventude homossexual que, sim, já desfruta dos ganhos advindos de décadas de lutas, confrontos e estratégias protagonizadas pelo movimento LGBT. Exibe jovens com um mínimo de conforto, universitários, que convivem com pessoas estruturadas e têm garantia de acolhimento e amor. Jovens capazes de estabelecer negociações que avançam numa mudança de comportamento, na revisão de conceitos retrógrados e no estabelecimento de novas bases de respeito.

Mas, apesar do prazer de constatar a existência dessa juventude livre e feliz, não vi o Mateus, 23 anos, branco, tímido, pobre, filho de pobres, criado no interior de Minas pela tia que o acolheu quando o pai o expulsou de casa aos pontapés por ser gay. Excluído do mercado de trabalho por homofobia e arrasado porque recebeu recentemente a notícia de que se tornara soropositivo. Ou o Tiago, negro, 21 anos, que divide uma casa com pais e outros cinco irmãos que não falam com ele porque não gostam de gay. Desempregado, Tiago foi obrigado a interromper os estudos, e hoje não possui qualificação que lhe garanta um mínimo de empregabilidade.

Ou será que "Veja" não tem informações sobre pessoas como a Jessy Lane, travesti que, ao sorrir, escondia a boca com as mãos para não expor os poucos dentes que lhe restavam; que sofria de uma anemia falciforme que tirou sua vida aos 24 anos, antes que tivesse tempo de conquistar seus tão sonhados peitos de silicone. Ou a Carolina, 17 anos, que se refugia na casa da avó porque seus pais não aceitam sua namorada; parou de estudar e passa seus dias entediada diante de uma TV ou vagando pela rua.

Dia 19 de maio, caravanas de todo o país estarão se dirigindo a Brasília, onde participarão da 1ª Marcha Nacional Contra a Homofobia e do 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais estarão manifestando sua indignação com a falta de políticas públicas efetivas que combatam o preconceito por orientação sexual.

Na linha de frente, centenas de bravos e indignados jovens homossexuais brasileiros. Jovens que "Veja" não viu.

Camisinha sempre!


Um comentário:

  1. Jovens de minha geração, a geração "Y" (nascidos entre 1989 e 1996), não estão livres de todo ódio propagado pelas gerações anteriores. Somos muitos de nós, os considerados oblíquos morais da identidade, da binaridade sexual e da heterossexualidade compulsória, vítimas de uma violência horrível todos os dias. Li a matéria e fiquei satisfeito com alguns paradigmas que tentaram desconstruir, mas como sempre, uma revista destinada a classe média podre não iria falar dos LGBTs que vivem na periferia física e social. Começando por um homem, branco, gay, cisgênero e bem vestido estampando a capa da revista. Incoerente com o cenário global que estamos inseridos. Mas a revista Veja é isso: uma revista que insiste em "desver" coisas.

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