Como os milhares de telespectadores brasileiros, acompanho sua
carreira, suas crônicas e sua simpatia contagiante na tela da TV há muito
tempo. Depois do "Big Brother", então, você se revelou mais ainda: é
um expert em quebrar o gelo e ser ferino, sem ser deselegante e, acima de tudo,
não perde a oportunidade de quebrar um preconceito.
Nesta edição do
"BBB", você está diante de uma oportunidade rara de colaborar para
desmistificar a imagem negativa dos gays. Primeiro, porque três cidadãos
homossexuais estão sendo observados o tempo todo e terão a chance de exibir
para o Brasil inteiro sua normalidade humanoide. Jean Wyllys cumpriu esse papel
primorosamente no "BBB 5".
Como o Dicesar, existem aos
montes e, como o Serginho, brotam jovens gays em qualquer terreno deste
planeta. As Angélicas convivem conosco no dia a dia e suas dores e estratégias
são nossas velhas conhecidas. Mas aqui, na vida real, o preconceito ofusca
esses personagens e as informações sobre os maquiadores que trabalham como drag
queens, sobre os fashionistas afetados e sobre as lésbicas-ladies-femininas não
ultrapassam a "página 2": a homofobia ofusca e não deixa que as
pessoas nos vejam alem de nossa homossexualidade.
Assim, pensei que você seria
o melhor porta-voz para esclarecer conceitos que acabam provocando a homofobia
e um colaborador nessa luta que não é só nossa, mas de todos que acreditam que
o mundo é melhor sem preconceitos. Por que não esclarecer e ajudar a evitar
expressões que, mesmo inconscientemente, reproduzem o preconceito contra os
gays?
O que é LGBT? São dois ou um
só T? A expressão "bichice" ofende os gays? Um rapaz é gay porque
dança "mais solto"? Quando uma pessoa é gay? Por que um beijo entre
dois homens é agressivo para uma criança e os tiros, socos e assassinatos dos
desenhos animados não são? Por que alguns gays não estão satisfeitos de serem
quem são e, se tivessem outra chance, preferiam nascer heteros?
Já ficou claro que não serão
os gays que estão lá que irão ajudar a esclarecer a população. Dicesar, Serginho
e Angélica limitam-se a viverem sua homossexualidade. Seus argumentos são
limitados e, como eles, existem milhões de LGBT que se bastam com um
conhecimento funcional das bandeiras e lutas do movimento gay.
Você, por outro lado, é o
jornalista que fala para o Brasil todo e faz a ponte entre os
"brothers" e o mundo real. É quem pode esclarecer dúvidas e encontrar
argumentos que façam com que o "Big Brother Brasil 10" ultrapasse os
limites do reality show e ajude a efetivamente quebrar preconceitos e evitar
que a homofobia seja naturalizada em caricaturas e palhaçadas.
Camisinha sempre!