sábado, 21 de novembro de 2009

Maré - 07/11/09





Um novo universo emerge do movimento gay e grita por direitos que, apesar de serem os mesmos pelos quais lutamos, vestem-se de nuances que, de certa forma, desconhecemos.
Na corda bamba das comunidades da Favela da Maré, oscilam gays, lésbicas, travestis e transexuais submetidos ao preconceito selvagem, aquele que ameaça à bala, senão mata. Ou protege.

Por ironia, quando os chefes da boca ou das milícias se apercebem da falta de respeito a que "as meninas" estão sujeitas e manda o recado de que "quem mexer com elas vai se ver comigo!", a coisa muda de figura e a favela passa a ser o paraíso, o lugar seguro onde travestis e homossexuais não estão mais sujeitos à violência homofóbica do dia a dia.

Todas essas informações fizeram parte dos depoimentos de jovens militantes LGBT presentes esta semana no Seminário Refletindo sobre Políticas Públicas para a População LGBT Moradora de Favelas. O evento é uma realização do Conexão G, uma ideia nova na organização de grupos de promoção da cidadania homossexual cariocas, que se propõe a criar e incentivar a criação de polos de ativismo em todas as favelas do Rio de Janeiro.

Isso com a garantia do protagonismo de todas as letrinhas que compõem o alfabeto da diversidade sexual. À medida em que o seminário se desenvolvia, a realidade da periferia nos estapeava: que interesse pode ter o casamento gay para aquela travesti ameaçada por um adolescente armado que se sente "o cara" e que se julga no direito de matar em nome de seu preconceito? Ou qual o alento que se encontra ao constatar que a liberdade vivida por gays e travestis em determinados territórios controlados não passa de um desprezo aterrorizante?

Ali, somos dos poucos que não precisam pedir permissão para entrar ou sair. O poder paralelo entende que nós não somos nada: menos que uma sombra vagando pelos becos. Nada. Que não faz falta para ninguém. Apesar das generalizações, cada favela do Rio de Janeiro possui suas características próprias e mereceria um estudo particular.

As pesquisas apresentadas mostram que entre todos nós, as travestis são as maiores vítimas da violência e parte orgânica desse universo, seja para satisfazer as fantasias secretas dos enrustidos, seja tocando seu salão de beleza, vendendo seus corpos nas esquinas da zona sul, ou morrendo a tiros quando desmascaradas por desavisados que confundem gato com lebre numa quadra de uma escola de samba.

Camisinha sempre!


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