Um novo universo emerge do movimento gay e grita por direitos que,
apesar de serem os mesmos pelos quais lutamos, vestem-se de nuances que, de
certa forma, desconhecemos.
Na corda bamba das
comunidades da Favela da Maré, oscilam gays, lésbicas, travestis e transexuais
submetidos ao preconceito selvagem, aquele que ameaça à bala, senão mata. Ou
protege.
Por ironia, quando os chefes
da boca ou das milícias se apercebem da falta de respeito a que "as
meninas" estão sujeitas e manda o recado de que "quem mexer com elas
vai se ver comigo!", a coisa muda de figura e a favela passa a ser o
paraíso, o lugar seguro onde travestis e homossexuais não estão mais sujeitos à
violência homofóbica do dia a dia.
Todas essas informações
fizeram parte dos depoimentos de jovens militantes LGBT presentes esta semana
no Seminário Refletindo sobre Políticas Públicas para a População LGBT Moradora
de Favelas. O evento é uma realização do Conexão G, uma ideia nova na
organização de grupos de promoção da cidadania homossexual cariocas, que se
propõe a criar e incentivar a criação de polos de ativismo em todas as favelas
do Rio de Janeiro.
Isso com a garantia do
protagonismo de todas as letrinhas que compõem o alfabeto da diversidade
sexual. À medida em que o seminário se desenvolvia, a realidade da periferia
nos estapeava: que interesse pode ter o casamento gay para aquela travesti
ameaçada por um adolescente armado que se sente "o cara" e que se julga
no direito de matar em nome de seu preconceito? Ou qual o alento que se
encontra ao constatar que a liberdade vivida por gays e travestis em
determinados territórios controlados não passa de um desprezo aterrorizante?
Ali, somos dos poucos que
não precisam pedir permissão para entrar ou sair. O poder paralelo entende que
nós não somos nada: menos que uma sombra vagando pelos becos. Nada. Que não faz
falta para ninguém. Apesar das generalizações, cada favela do Rio de Janeiro
possui suas características próprias e mereceria um estudo particular.
As pesquisas apresentadas
mostram que entre todos nós, as travestis são as maiores vítimas da violência e
parte orgânica desse universo, seja para satisfazer as fantasias secretas dos
enrustidos, seja tocando seu salão de beleza, vendendo seus corpos nas esquinas
da zona sul, ou morrendo a tiros quando desmascaradas por desavisados que
confundem gato com lebre numa quadra de uma escola de samba.
Camisinha sempre!
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