domingo, 22 de novembro de 2009

Beijo político - 14/11/09



A Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal aprovou o parecer da senadora Fátima Cleide (PT-RO) sobre o projeto de lei complementar que criminaliza a homofobia. Foram incontáveis audiências públicas, dezenas de reuniões e negociações para que, no final, o texto nos colocasse de novo no armário: para ser aprovado, o PLC 122 que criminaliza a homofobia no Brasil retirou qualquer referência aos homossexuais em seu texto.

Isso me remete a maio de 2000, quando a cidade mineira de Juiz de Fora viveu momentos de destaque na imprensa de todo o Brasil. A partir de um intenso trabalho de aproximação do movimento gay com o legislativo municipal e a coragem de um dos seus mais aguerridos vereadores, o já falecido professor Paulo Rogério, foi proposta uma lei que beneficiaria - e reconheceria - os homossexuais da cidade.

A mais popular lei municipal de Juiz de Fora criava penalidades para os estabelecimentos públicos do município caso preterissem ou dessem tratamento diferenciado aos casais de pessoas do mesmo sexo. A estratégia nacional era emplacar essa lei no maior número possível de cidades e pressionar o Congresso para que aprovasse a tão almejada criminalização da homofobia.

Em Juiz de Fora, a lei foi aprovada com dois importantes avanços: a criação de um órgão específico na estrutura da prefeitura para promover políticas públicas voltadas para a comunidade LGBT; e a equiparação de direitos dos casais homo aos heterossexuais em espaços públicos. Pela primeira vez, uma lei se referia à manifestação de afeto em público e dava um xeque-mate no "atentado violento ao pudor", base legal que permitia que o carinho entre os gays fosse tratado como crime.

Os conservadores de Juiz de Fora não conseguiam acreditar que a Câmara tivesse aprovado aquele texto. Alguns mais atrevidos tentaram revogar a lei; outros condenavam os vereadores pela ousadia e passaram a descarregar também em nossos aliados a homofobia que antes descarregavam somente em nós.

Pois foi como um desafio a essas pessoas que não reconheciam o nosso direito ao afeto que, em agosto de 2000, eu e Marco Trajano, meu companheiro de vida e militância, abrimos pela primeira vez a Parada do Orgulho Gay de Juiz de Fora com um beijo, deixando claro que, mais que uma condenação, o amor homossexual sempre merece ser comemorado e aplaudido.

Até hoje, damos início à maior Parada LGBT de Minas Gerais com um beijo e será assim amanhã, quando, ao meio-dia, os trios elétricos se posicionarão em frente ao parque Halfeld e a população verá que o armário homossexual é coisa do passado. Aliás, aqueles que se julgam mais merecedores de direitos que os outros precisam entender que não existe lei que regulamente o amor. E nem o beijo.

Camisinha sempre!


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