sábado, 22 de agosto de 2009

Tristes armários - 22/08/09




Ainda existem homossexuais que consideram impossível fazer sucesso assumindo sua orientação sexual. Aliás, todos os desastres da sua vida acabam sendo atribuídos à sua homossexualidade. Ser gay se torna um problema, um sofrimento, uma fatalidade do destino. Não são poucos os que lamentam ter nascido gays e que não conseguem avançar na busca da felicidade através da aceitação de si mesmo. Existem gays que entendem a manifestação de afeto, a exposição da sua homossexualidade como uma agressão. A homofobia internalizada gera desamor, baixa autoestima, rancor, depressão e tristeza. E todos os problemas da vida acabam sendo atribuídos não à homofobia, mas à não-heterossexualidade. Culpa, castigo, pecado...

O que não se vê é o tanto que o armário cega e reduz nossos horizontes. Não existe aquele que consiga ser feliz sem se conhecer e assumir seus mais íntimos desejos. Ninguém consegue enganar a si mesmo, tampouco aos que o rodeiam. Muitos de nós ainda vivem escondidos, mentindo, negando suas fantasias e acreditando que o pouco que conquistaram se perderá caso sua homossexualidade venha a ser revelada. Não conseguem separar o sucesso profissional, as relações sociais, da intimidade de seu comportamento afetivo sexual.

Não percebem que o que coloca em risco sua realização é exatamente a vida dupla, escondida, secreta. A revelação súbita de uma homossexualidade negada e oculta respinga em conceitos que necessariamente estão ligados à realização do cidadão, como a sinceridade e a honestidade. O gay que se nega publicamente, mente o tempo todo, e as chances de sucesso de um mentiroso realmente são bastante reduzidas.

Alguns conseguem alívio numa graduação de suas próprias inverdades. Consolam-se com ilusórias compensações, como a estratificação de seu mundo entre os que sabem e os que não. Uns escondem da família, mas se revelam aos amigos; outros se disfarçam no trabalho, mas se assumem fora dele; enfim, equilibram-se numa frágil corda bamba que se rompe às primeiras indiscrições e derruba qualquer possibilidade de construção de uma relação de confiança.

A homofobia, cujas bases ainda compõem o lado triste de nossa formação, faz parte do disfarce e colabora na construção de um personagem fictício crível. E o bicho-papão que nos ameaçava nas noites escuras de criança, continua causando horror aos adultos que temem ser reconhecidos como gays.

Camisinha sempre!

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