Ainda se conhece muito pouco sobre a relação da população de gays, homens que fazem sexo com homens e travestis com a epidemia da AIDS. Tão pouco que sequer temos clareza da melhor forma de se fazer pesquisa entre nós. Ou como pesquisar as populações em que o HIV se concentra, exatamente aquelas que se tornaram invisíveis pelo preconceito, abandonadas pelas políticas públicas ou ocultas como estratégia de sobrevivência. Como pesquisas sérias, submetidas às exigências éticas internacionais, realizadas com a participação e o controle dos movimentos sociais, podem revelar sem julgamentos morais a realidade da população de gays, travestis e homens que fazem sexo com homens nesse país?
Desde 1990, permanecemos no elevado patamar de 40% do universo de pessoas com Aids no Brasil. Apesar dos avanços indiscutíveis, ainda estamos longe de recebermos a atenção que precisamos. Políticas públicas de prevenção junto aos gays não podem ser motivo de disputas políticas e se submeterem a imposições de padrões hegemônicos de relacionamento ou crenças restritivas que não nos reconhecem. É preciso entender o problema e agir para que deixemos de ser um grupo de pessoas cuja vulnerabilidade à Aids chega a ser dezoito vezes maior que entre os homens heterossexuais.
No início dessa semana, experts de todo o país reuniram-se em São Paulo para debater o assunto e orientar a pesquisa que o Centro de Referência e Treinamento (CRT) do Programa Estadual DST-Aids de São Paulo pretende realizar. O objetivo é traçar um retrato epidemiológico dos gays de São Paulo, quantitativo e qualitativo, que oriente e sirva de base para uma avaliação segura das políticas públicas de prevenção voltadas para essa população no Estado.
Durante três dias, cerca de 50 estudiosos, entre eles três ex-diretores do Programa Nacional DST-Aids, debateram o assunto e, de forma bastante franca e generosa, se dispuseram a emprestar sua expertise para avaliar o que se tem feito, as dificuldades e problemas, bem como as facilidades e riscos que os estudos realizados até o presente momentos enfrentaram.
Como norteador das discussões, o estudo RDS (Respondent-driven Sampling) financiado pelo Programa Nacional DST-Aids, que cobriu dez cidades do Brasil, entre elas Belo Horizonte, onde se pretende traçar uma linha de base para orientar o trabalho da saúde pública voltado para nós. São esses dados que nos possibilitarão melhorar o controle social sobre as ações de prevenção que efetivamente nos atingem.
É preciso que a comunidade gay participe, colabore e acompanhe esses estudos, pois cada vez mais precisamos de argumentos irrefutáveis que estejam acima de julgamentos superficiais e preconceituosos, para garantirmos um avanço na nossa luta contra a Aids.
Camisinha sempre!
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