domingo, 7 de junho de 2009

Confinado - 06/06/09


Naquele espaço ele reina entre os prazeres e as dores. Rodeado por homens maltratados, machucados, agressivos, satisfaz desejos e vende fantasias, enquanto anseia as ruas, o cheiro da noite, a liberdade.

Quando chegou medroso, encolhido num canto, incapaz de conter as lagrimas que insistiam em molhar-lhe o rosto mal barbeado, seu único desejo era se esconder em si mesmo e deixar que todo o mundo que acontecia alem dos limites de seu corpo prescindisse de sua presença. Estava frágil e amedrontado, torcendo para não ser notado e desprezando tudo que se relacionasse a sociabilidade, ali naquele cubículo superlotado, onde o que menos se podia conseguir era privacidade.

Aos poucos percebeu que isso não duraria muito e lentamente começou a sair do casulo e se relacionar com aqueles de olhares mansos e atitudes simpáticas. Evitava falar de si mesmo, de sua vida, de seus crimes; respondia com preciosos monossílabos e se lixava para causar uma boa impressão a quem quer que fosse. Trancou-se mais uma vez no seu já conhecido velho armário.

Um dia, foi pego em flagrante observando um colega durante o banho coletivo. Como resposta, um inesperado sorriso maroto de quem entendeu tudo e a partir daí perdeu o sossego, primeiro passo para perder o juízo. Em cada canto, era perseguido por aquele olhar que dava indícios de já ter descoberto.

O confinamento começava a produzir seus primeiros efeitos, entre eles o ócio, parente próximo de fantasias e desejos íntimos. Ao lado, ao alcance de um braço esticado, homens cheio de energia, panelas de pressão prontas a explodir em loucuras irresponsáveis e levar vantagem em tudo, certo? Cenário perfeito para um filme mundo-cão de baixo orçamento, um Nelson Rodrigues ao vivo e em cores, expondo a realidade do macho que conhece seus desejos, mas que os nega.

Até que as oportunidades conspiram e os hormonios derrotam o medo, pondo fim a um suplício e dando início a outro: um segredo que vaza, uma chacota, piadas, chantagens e torturas. Ali, privado da liberdade, aprendeu a tirar da subserviência raros momentos de prazer. Até do primeiro tapa, quando foi apresentado a quem mandava ali.

Com o tempo, tornou-se só mais um, entre os milhares de homossexuais que povoam o sistema carcerário, convivem com a homofobia selvagem, despertam desejos imorais e alimentam a hipocrisia do mito masculino.

Camisinha sempre!

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