Ser homossexual é viver, de certa forma cercado de medos. A começar pelo
medo de sermos descobertos em nossos desejos secretos. Tudo é sempre oculto,
dissimulado. Por trás das aparências, o medo de sermos desmascarados em nossas
obscuras diferenças.
Medo da homofobia, da violência homofóbica, das agressões gratuitas que
povoam o nosso cotidiano. Razão de frequentes reações defensivas tão violentas
quanto os ataques, muitas vezes antecedendo-os: ainda sentimos a necessidade de
desvincular homossexualidade de covardia ou fraqueza, tão presente no senso
comum.
Medo dos marginais que perambulam os escuros onde andamos; da polícia
que vasculha esses mesmos lugares; de abordarmos a pessoa errada - ou sermos
abordados por ela. Medo do soco em resposta a um elogio, de não sermos aceitos
no grupo, de irmos para o inferno ou de termos problemas mentais.
Medo de doenças, da desinformação, da ignorância. O processo de
construção da nossa homossexualidade costuma ser solitário e notícias sobre
diversidade sexual se limitam a conversas evasivas e preconceituosas nas
esquinas e corredores. Livros didáticos se calam sobre o assunto e aprendemos
errando, na prática, inseguros e mal informados sobre os cuidados com nossa
saúde.
O sistema de saúde nos causa medo. A começar pelos profissionais,
despreparados para lidar com a diversidade sexual e envoltos em carapaças
morais preconceituosas por baixo de seus jalecos.
Das doenças, a AIDS é emblemática. Apesar da boa resposta da comunidade
gay às campanhas de prevenção, ainda convivemos com uma taxa de incidência
elevada, dezoito vezes maior que entre homens heterossexuais. E o medo se
revela a cada nuance que envolve a nossa relação com a epidemia. Desde a
dificuldade de estabelecermos o limite do sexo efetivamente seguro até o medo
de fazermos o exame e buscarmos o resultado. Em enquete pública aberta no site
do MGM (www.mgm.org.br),
15,5% das respostas revelam pessoas que nunca fizeram o teste do HIV por medo
do resultado.
E muitos outros medos que nos atormentam e nos distanciam das pessoas.
Somos muitos convivendo com o medo de amar, escondidos em nossos pesadelos e
presos a preconceitos que aprendemos e que ainda nos fazem sofrer. De medo.
Camisinha sempre!
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