sábado, 23 de maio de 2009

Medos - 23/05/2009





Ser homossexual é viver, de certa forma cercado de medos. A começar pelo medo de sermos descobertos em nossos desejos secretos. Tudo é sempre oculto, dissimulado. Por trás das aparências, o medo de sermos desmascarados em nossas obscuras diferenças.

Medo da homofobia, da violência homofóbica, das agressões gratuitas que povoam o nosso cotidiano. Razão de frequentes reações defensivas tão violentas quanto os ataques, muitas vezes antecedendo-os: ainda sentimos a necessidade de desvincular homossexualidade de covardia ou fraqueza, tão presente no senso comum.

Medo dos marginais que perambulam os escuros onde andamos; da polícia que vasculha esses mesmos lugares; de abordarmos a pessoa errada - ou sermos abordados por ela. Medo do soco em resposta a um elogio, de não sermos aceitos no grupo, de irmos para o inferno ou de termos problemas mentais.

Medo de doenças, da desinformação, da ignorância. O processo de construção da nossa homossexualidade costuma ser solitário e notícias sobre diversidade sexual se limitam a conversas evasivas e preconceituosas nas esquinas e corredores. Livros didáticos se calam sobre o assunto e aprendemos errando, na prática, inseguros e mal informados sobre os cuidados com nossa saúde.

O sistema de saúde nos causa medo. A começar pelos profissionais, despreparados para lidar com a diversidade sexual e envoltos em carapaças morais preconceituosas por baixo de seus jalecos.

Das doenças, a AIDS é emblemática. Apesar da boa resposta da comunidade gay às campanhas de prevenção, ainda convivemos com uma taxa de incidência elevada, dezoito vezes maior que entre homens heterossexuais. E o medo se revela a cada nuance que envolve a nossa relação com a epidemia. Desde a dificuldade de estabelecermos o limite do sexo efetivamente seguro até o medo de fazermos o exame e buscarmos o resultado. Em enquete pública aberta no site do MGM (www.mgm.org.br), 15,5% das respostas revelam pessoas que nunca fizeram o teste do HIV por medo do resultado.

E muitos outros medos que nos atormentam e nos distanciam das pessoas. Somos muitos convivendo com o medo de amar, escondidos em nossos pesadelos e presos a preconceitos que aprendemos e que ainda nos fazem sofrer. De medo.

Camisinha sempre!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.