O preconceito tem maneiras peculiares de se manifestar. Uma delas
se revela nos apelidos, na linguagem popular, nas gírias e palavrões. É comum
grupos discriminados serem retirados da condição de humanos e reduzidos a
animais: mulheres a piranhas; negros a macacos, gays a veados.
Esse processo, entretanto, vai além. Aos gays são atribuídas
outras características que nos diferenciam do que é ser gente. Até mesmo em
situações positivas, mas que alimentam um mito que nos circunda e que nos
distancia das pessoas "normais". Assim, é comum ouvirmos
generalizações falsas como: "Vocês gays são inteligentíssimos!
Talentosíssimos! Habilidosíssimos!" que nos reduzem a uma massa homogênea
e reforçam a distância que existe entre eles e nós, entre o padrão e o
diferente.
Existem também os que nos entendem como seres puramente sexuais,
máquinas movidas a testosterona, que pensam e vivem sexo 24 horas por dia.
Assim, se esquecem que um olhar não significa necessariamente um
flerte e que um tratamento cordial pode não ser exatamente uma cantada. E mais:
que um gay num banheiro público pode sim significar simplesmente alguém que foi
ali fazer xixi. Temerosos – e inseguros – existem homens que ainda acreditam
que correm sérios riscos ao dividir espaços conosco, como banheiros públicos,
vestiários, barracas de camping, ou quartos de hotel. Conheço empresas que
colocam seus funcionários gays em quartos individuais "para evitar
constrangimentos". E colegas de trabalho que se recusam a dormir ao nosso
lado, como se – pretensiosos! – o assédio fosse inevitável.
Combater a homofobia é também resgatar a nossa condição de
humanos. Quanto mais nos emancipamos e nos incluímos, mais e mais situações de
divisão de espaço entre heteros e gays vão surgindo, mostrando que nem todos
estão preparados para conviver com as diferenças.
Estou participando da III Teia, em Brasília, evento que reúne
cerca de 2 mil representantes de mais de 800 Pontos de Cultura, pessoas vindas
de todos os cantos e que revelam a diversidade cultural brasileira. Nesse
ambiente, cujo slogan é "Iguais na Diferença", depois de muitos anos,
volto a sentir o gosto amargo de ser discriminado por um companheiro, artista,
que se incomodou em dividir um quarto comigo e mais um colega.
Nessas minhas andanças, já partilhei acomodações com jovens e
velhos, com brancos e negros, ricos e pobres, ateus, padres e pastores. Nunca
tive um problema sequer e sempre fiz boas amizades nessas situações. Talvez,
por não ter dificuldade nenhuma em ser humano, em ser eu mesmo.
Camisinha sempre!
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