sábado, 15 de novembro de 2008

Humanos – 15/11/2008


O preconceito tem maneiras peculiares de se manifestar. Uma delas se revela nos apelidos, na linguagem popular, nas gírias e palavrões. É comum grupos discriminados serem retirados da condição de humanos e reduzidos a animais: mulheres a piranhas; negros a macacos, gays a veados.

Esse processo, entretanto, vai além. Aos gays são atribuídas outras características que nos diferenciam do que é ser gente. Até mesmo em situações positivas, mas que alimentam um mito que nos circunda e que nos distancia das pessoas "normais". Assim, é comum ouvirmos generalizações falsas como: "Vocês gays são inteligentíssimos! Talentosíssimos! Habilidosíssimos!" que nos reduzem a uma massa homogênea e reforçam a distância que existe entre eles e nós, entre o padrão e o diferente.
Existem também os que nos entendem como seres puramente sexuais, máquinas movidas a testosterona, que pensam e vivem sexo 24 horas por dia.

Assim, se esquecem que um olhar não significa necessariamente um flerte e que um tratamento cordial pode não ser exatamente uma cantada. E mais: que um gay num banheiro público pode sim significar simplesmente alguém que foi ali fazer xixi. Temerosos – e inseguros – existem homens que ainda acreditam que correm sérios riscos ao dividir espaços conosco, como banheiros públicos, vestiários, barracas de camping, ou quartos de hotel. Conheço empresas que colocam seus funcionários gays em quartos individuais "para evitar constrangimentos". E colegas de trabalho que se recusam a dormir ao nosso lado, como se – pretensiosos! – o assédio fosse inevitável.

Combater a homofobia é também resgatar a nossa condição de humanos. Quanto mais nos emancipamos e nos incluímos, mais e mais situações de divisão de espaço entre heteros e gays vão surgindo, mostrando que nem todos estão preparados para conviver com as diferenças.

Estou participando da III Teia, em Brasília, evento que reúne cerca de 2 mil representantes de mais de 800 Pontos de Cultura, pessoas vindas de todos os cantos e que revelam a diversidade cultural brasileira. Nesse ambiente, cujo slogan é "Iguais na Diferença", depois de muitos anos, volto a sentir o gosto amargo de ser discriminado por um companheiro, artista, que se incomodou em dividir um quarto comigo e mais um colega.

Nessas minhas andanças, já partilhei acomodações com jovens e velhos, com brancos e negros, ricos e pobres, ateus, padres e pastores. Nunca tive um problema sequer e sempre fiz boas amizades nessas situações. Talvez, por não ter dificuldade nenhuma em ser humano, em ser eu mesmo.

Camisinha sempre!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.