Na verdade, o "quesito" orientação sexual, ou o grau de
homofobia ainda não recebem a atenção que deveriam no momento de se decidir em
quem votar. Mesmo os homossexuais, como a maior parte da população, ainda estão
mais preocupados com soluções relâmpagos para seus problemas imediatos, que com
a garantia de seus direitos como um grupo vítima de preconceito. Minha sugestão
tem sido priorizar esses quesitos, como se tivessemos um check list em que
avaliaríamos cada candidato a cada cargo público. A pergunta número 1 deve ser:
é homofóbico? Se a reposta for positiva, nem fazemos as seguintes: está fora!
Por outro lado, o candidato assumidamente homosseuxal já larga na frente de
todos os seus concorrentes.
Evidentemente, a homossexualidade não confere competência e
caráter a ninguém. Seriedade com os recursos públicos, histórico de luta e
participação social, visão do coletivo acima do individual, são quesitos a
serem avaliados por aqueles que levam seu voto a sério e estão comprometidos
com a construção de um país melhor e menos preconceituoso. Entretanto, o que
temos visto ainda é o uso do voto como moeda de troca por favores pessoais.
Ainda assistimos alguns cidadãos, LGBT inclusive, negando o voto aos candidatos
ativistas homossexuais e abraçando a campanha de outros por recomendação de
parentes, ou identificações geográficas, ou reminiscências históricas,
desconsiderando seu próprio preconceito como merecedor da devida atenção no
momento de se votar. Será que não chegou o momento de reconhecermos e
retribuirmos toda uma história de lutas e conquistas dos candidatos ativistas
gays, lésbicas e travestis?
O Prof. Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, sempre didático,
recomendou que seguíssemos uma escala que iria do ativista do movimento gay,
primeiro lugar na preferência do nosso voto; homossexuais que não são
militantes, em segundo lugar; e os simpatizantes, em terceiro. De certa forma,
faz sentido. Não que somente esses quesitos devam definir o nosso voto, mas
candidatos ligados de alguma forma à luta contra o preconceito devem merecer
nossa maior atenção – e mesmo uma certa complacência diante de eventuais
divergências – no momento de decidirmos.
Tudo isso para que possamos dar um passo à frente no equilíbrio de
forças em nossas câmaras municipais. Precisamos de representantes afinados com
as propostas do movimento gay, para fazermos frente aos conservadores que não
têm arrefecido sua vigilância sobre nós, garantindo que não consigamos nenhuma
vitória nas casas legislativas. Até mesmo o título de utilidade pública para as
organizações da sociedade civil de luta pelos direitos LGBT ou o reconhecimento
de nossos eventos públicos de visibilidade massiva, como as Paradas do Orgulho,
têm sido alvo de uma vigorosa oposição dos religiosos infiltrados na política.
Na verdade, são eles os responsáveis por essa salada que mistura, num estado
laico, a negação de nossos direitos humanos, com base em fundamentos religiosos
interpretados com parcialidade pelos interesses de um pequeno grupo de
empresários da fé.
Chegou a hora de derrubarmos a máxima de que "gay não vota em
gay". Apesar de nosso elevado grau de exigência, somos hoje um movimento
maduro que aprendeu, na marra, que só chegaremos lá com muita união.
Camisinha sempre!
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