sábado, 9 de agosto de 2008

Uberlândia – 09/08/2008



Quanto vale uma parada numa cidade do interior? Seguramente, bem mais que numa metrópole. Para início de conversa, é no interior que a homofobia se manifesta com maior intensidade. É ali que os valores conservadores ainda são a tônica da educação formal e informal, onde os líderes ainda são avaliados pelas suas posições em defesa de uma família construída em bases tradicionais e que qualquer coisa que fuja ao padrão estabelecido e ameace a hierarquia macho-heterossexista vigente é entendida como afronta e desrespeito. E mais: ao contrário das grandes cidades, no interior a homossexualidade não se dilui na multidão. Ali, não tem jeito de se esconder.

Em Uberlândia, o sotaque do interior de Minas contrasta com o progresso evidente, com o dinamismo de uma cidade onde a qualidade de vida dos cidadãos é alta, mas, por outro lado, onde gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais travam uma luta constante contra a homofobia, contra o armário que nos sufoca e que aparentemente alivia a vergonha que muitos ainda sentem de nós. Inclua-se aí nossos familiares, divididos entre o amor solidário e a condenação moral.

A Parada do Orgulho Gay de Uberlândia teve o sabor do desafio. Não só por parte dos organizadores, que enfrentaram de cara limpa e mãos vazias toda a estrutura burocrática da gestão pública e literalmente arrancam a fórceps o apoio, a segurança, as modificações necessárias do trânsito, tudo isso conjugado com um esforço sobre-humano de construção de uma opinião pública positiva e tolerante às mudanças no cotidiano da cidade que uma manifestação desse porte acarreta.

Mas é um desafio também para a população de homossexuais da cidade que enfrenta o dia seguinte com coragem e sai às ruas para ser vista, para ser reconhecida, sabendo que será rotulada a partir daí e arcará com o ônus de sua coragem: o desprezo, a violência e o tripudio do cotidiano nas escolas, nas famílias, no trabalho.

Uberlândia fez uma Parada maravilhosa. Não importa quantos acompanharam os cinco trios elétricos que, por algumas horas, atraíram a atenção para as consequências do preconceito contra nós. Não importa as ameaças dos religiosos, das forças políticas, dos nossos opositores. Importante é que o recado foi dado.

Em tempos de eleições, as Paradas do Orgulho Gay têm sido temidas pelos que querem se perpetuar no poder. Incapazes de mobilizar a população, mesmo com todo o seu poder econômico, censuram faixas, se infiltram com folhetos homofóbicos e, derrotados, assistem atônitos o apoio da população ao progresso inevitável.


Camisinha sempre!

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