Quanto vale uma parada numa cidade do interior? Seguramente, bem
mais que numa metrópole. Para início de conversa, é no interior que a homofobia
se manifesta com maior intensidade. É ali que os valores conservadores ainda
são a tônica da educação formal e informal, onde os líderes ainda são avaliados
pelas suas posições em defesa de uma família construída em bases tradicionais e
que qualquer coisa que fuja ao padrão estabelecido e ameace a hierarquia
macho-heterossexista vigente é entendida como afronta e desrespeito. E mais: ao
contrário das grandes cidades, no interior a homossexualidade não se dilui na
multidão. Ali, não tem jeito de se esconder.
Em Uberlândia, o sotaque
do interior de Minas contrasta com o progresso evidente, com o dinamismo de uma
cidade onde a qualidade de vida dos cidadãos é alta, mas, por outro lado, onde
gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais travam uma luta constante
contra a homofobia, contra o armário que nos sufoca e que aparentemente alivia
a vergonha que muitos ainda sentem de nós. Inclua-se aí nossos familiares,
divididos entre o amor solidário e a condenação moral.
A Parada do Orgulho Gay de Uberlândia teve o sabor do desafio. Não
só por parte dos organizadores, que enfrentaram de cara limpa e mãos vazias
toda a estrutura burocrática da gestão pública e literalmente arrancam a
fórceps o apoio, a segurança, as modificações necessárias do trânsito, tudo isso
conjugado com um esforço sobre-humano de construção de uma opinião pública
positiva e tolerante às mudanças no cotidiano da cidade que uma manifestação
desse porte acarreta.
Mas é um desafio também para a população de homossexuais da cidade
que enfrenta o dia seguinte com coragem e sai às ruas para ser vista, para ser
reconhecida, sabendo que será rotulada a partir daí e arcará com o ônus de sua
coragem: o desprezo, a violência e o tripudio do cotidiano nas escolas, nas
famílias, no trabalho.
Uberlândia fez uma Parada maravilhosa. Não importa quantos
acompanharam os cinco trios elétricos que, por algumas horas, atraíram a
atenção para as consequências do preconceito contra nós. Não importa as ameaças
dos religiosos, das forças políticas, dos nossos opositores. Importante é que o
recado foi dado.
Em tempos de eleições, as Paradas do Orgulho Gay têm sido temidas
pelos que querem se perpetuar no poder. Incapazes de mobilizar a população,
mesmo com todo o seu poder econômico, censuram faixas, se infiltram com folhetos
homofóbicos e, derrotados, assistem atônitos o apoio da população ao progresso
inevitável.
Camisinha sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por deixar seu comentario.