Quando elegeremos o primeiro gay para um cargo público? Geralmente
as pessoas riem quando faço essa pergunta. Afinal, de certa forma já estamos no
Congresso, nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais. Escondidos, mas
estamos. Infelizmente, até hoje, os gays e lésbicas eleitos o foram com seus
respectivos armários e nenhum deles assumiu conosco o compromisso de lutar pela
garantia dos nossos direitos. Às vezes até ajudam, na pele de simpatizantes
"para não queimar o filme".
Muitos desses não possuem qualquer histórico que os conecte
conosco. Exemplo disso é Clodovil Hernandes, que é gay, mas se elegeu deputado
federal por São Paulo graças aos votos de sua imensa legião de fãs, em sua
maioria senhoras que, entre um ponto e outro da agulha de crochê,
impressionam-se diante da TV com as pintas, os closes, os arroubos de
atrevimento, indignação e suas análises rasteiras, mas impactantes. Clodovil é
um daqueles gays que não se consideram merecedores do direito de amar,
constituir uma família, expressar o seu amor: menospreza a luta de gays e
lésbicas pela união civil entre pessoas do mesmo sexo e acha que um beijo gay é
uma agressão. Pode?
Mas nossa trajetória como parlamentares nos revela outras
situações tão patéticas ou mais. Não são poucos os homossexuais, notadamente
gays e travestis, que se elegeram sob um tom de preconceito e chacota, uma
gozação que se justifica no protesto contra a seriedade do voto. Tristes
figuras, são obrigados a abrir mão de sua identidade, se submetem ao escárnio
público e fazem o papel do bobo na corte da irresponsabilidade eleitoral.
Sequer têm conhecimento de que exista um movimento que luta pelos direitos dos
LGBT.
Enquanto isso, nossos opositores elegem suas bancadas. Para eles,
candidato bom é aquele que fale e seja popular. Não importa o que diga, se fale
bem ou mal. Não importa o caráter. Para eles, o lugar de se aprender como ser
um parlamentar é no parlamento, e não cá fora. Daí o baixíssimo nível nas casas
legislativas. Nossos opositores estão mais preocupados com a quantidade, pois
ali cada um é um voto e pronto. É essa falta de qualidade que tem nos levado ao
cenário caótico de corrupção que atravessamos hoje.
A ideia, nessas eleições, mais uma vez, é quebrar esse ciclo e
eleger ativistas do movimento gay para as câmaras municipais. São 70 candidatos
gays, lésbicas ou travestis, em todo o país, muitos deles perfeitamente
capacitados a ocupar um cargo público. 2008 pode marcar o início da construção
de uma bancada que faça frente àqueles que insistem em negar os nossos direitos
e que são os responsáveis por não termos, em 20 anos de Constituição, nenhuma
lei federal que reconheça e beneficie a comunidade homossexual.
Camisinha sempre!
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