Passamos longe da perfeição. Na verdade, nossos defeitos são os
mesmos dos heterossexuais: são defeitos de gente, seres humanos. Como qualquer
pessoa, lutamos contra e nos envergonhamos quanto nos deixamos levar por eles.
Íntimos e desgraçados defeitos.
Numa de minhas digressões, ficava matutando por que os gays adotam
um código de deboche e menos valia quando se relacionam entre si. Não só nas
situações de humor: insistimos em desbancar os nossos iguais, apontar e ampliar
seus defeitos, retirar-lhes valor e menosprezar suas virtudes. Lamentavelmente,
nem sempre esse comportamento se mantém no palco dos debochados shows de drag
queens, na categoria de recurso artístico. Assistimos esse discurso dominando e
alçando seus tentáculos em áreas que precisam ser levadas a sério e onde esse
tipo de linguagem não ajuda em nada na construção de uma imagem positiva da
comunidade homossexual. Nem no estabelecimento da união entre nós
Somos exímios conhecedores dos nossos defeitos e da luta contra
nossos próprios demônios. Sabemos onde estão as nossas fraquezas e,
conseqüentemente daqueles com quem nos identificamos. Nossa inconseqüência tem
muitas vezes causado danos irreparáveis na trajetória de nossas conquistas.
Conscientemente. Sabemos onde dói, onde estão nossos “calcanhares de Aquiles”.
Porque somos íntimos dos nossos defeitos.
As seqüelas de uma educação heterossexista homofóbica têm levado
os homossexuais ao preconceito contra si mesmos. Nossa menos valia tem feito
com que duvidemos de nossa capacidade, questionemos nosso direito ao amor, ao
afeto, à nossa própria família, à felicidade. Tem feito com que não consigamos
apoiar os nossos iguais pela certeza de que eles possuem defeitos tão
imperdoáveis quanto aqueles que não perdoamos em nós mesmos.
Precisamos nos admirar mais, construirmos boas referências, torcer
para o sucesso dos outros gays, aplaudir aqueles que conseguem chegar lá e,
mais que isso, ajudá-los nesse caminho. Precisamos desconstruir esse notório
desamor por nós mesmos e por tudo que se pareça conosco. A ponto de optarmos
pelos que não são como nós. A ponto de negarmos nossos próprios direitos.
Camisinha sempre!
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