sábado, 30 de agosto de 2008

Voto Gay 2 – 30/08/2008



Na verdade, o "quesito" orientação sexual, ou o grau de homofobia ainda não recebem a atenção que deveriam no momento de se decidir em quem votar. Mesmo os homossexuais, como a maior parte da população, ainda estão mais preocupados com soluções relâmpagos para seus problemas imediatos, que com a garantia de seus direitos como um grupo vítima de preconceito. Minha sugestão tem sido priorizar esses quesitos, como se tivessemos um check list em que avaliaríamos cada candidato a cada cargo público. A pergunta número 1 deve ser: é homofóbico? Se a reposta for positiva, nem fazemos as seguintes: está fora! Por outro lado, o candidato assumidamente homosseuxal já larga na frente de todos os seus concorrentes.

Evidentemente, a homossexualidade não confere competência e caráter a ninguém. Seriedade com os recursos públicos, histórico de luta e participação social, visão do coletivo acima do individual, são quesitos a serem avaliados por aqueles que levam seu voto a sério e estão comprometidos com a construção de um país melhor e menos preconceituoso. Entretanto, o que temos visto ainda é o uso do voto como moeda de troca por favores pessoais. Ainda assistimos alguns cidadãos, LGBT inclusive, negando o voto aos candidatos ativistas homossexuais e abraçando a campanha de outros por recomendação de parentes, ou identificações geográficas, ou reminiscências históricas, desconsiderando seu próprio preconceito como merecedor da devida atenção no momento de se votar. Será que não chegou o momento de reconhecermos e retribuirmos toda uma história de lutas e conquistas dos candidatos ativistas gays, lésbicas e travestis?

O Prof. Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, sempre didático, recomendou que seguíssemos uma escala que iria do ativista do movimento gay, primeiro lugar na preferência do nosso voto; homossexuais que não são militantes, em segundo lugar; e os simpatizantes, em terceiro. De certa forma, faz sentido. Não que somente esses quesitos devam definir o nosso voto, mas candidatos ligados de alguma forma à luta contra o preconceito devem merecer nossa maior atenção – e mesmo uma certa complacência diante de eventuais divergências – no momento de decidirmos.

Tudo isso para que possamos dar um passo à frente no equilíbrio de forças em nossas câmaras municipais. Precisamos de representantes afinados com as propostas do movimento gay, para fazermos frente aos conservadores que não têm arrefecido sua vigilância sobre nós, garantindo que não consigamos nenhuma vitória nas casas legislativas. Até mesmo o título de utilidade pública para as organizações da sociedade civil de luta pelos direitos LGBT ou o reconhecimento de nossos eventos públicos de visibilidade massiva, como as Paradas do Orgulho, têm sido alvo de uma vigorosa oposição dos religiosos infiltrados na política. Na verdade, são eles os responsáveis por essa salada que mistura, num estado laico, a negação de nossos direitos humanos, com base em fundamentos religiosos interpretados com parcialidade pelos interesses de um pequeno grupo de empresários da fé.

Chegou a hora de derrubarmos a máxima de que "gay não vota em gay". Apesar de nosso elevado grau de exigência, somos hoje um movimento maduro que aprendeu, na marra, que só chegaremos lá com muita união.

Camisinha sempre!


sábado, 23 de agosto de 2008

Voto Gay – 23/08/2008



Quando elegeremos o primeiro gay para um cargo público? Geralmente as pessoas riem quando faço essa pergunta. Afinal, de certa forma já estamos no Congresso, nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais. Escondidos, mas estamos. Infelizmente, até hoje, os gays e lésbicas eleitos o foram com seus respectivos armários e nenhum deles assumiu conosco o compromisso de lutar pela garantia dos nossos direitos. Às vezes até ajudam, na pele de simpatizantes "para não queimar o filme".

Muitos desses não possuem qualquer histórico que os conecte conosco. Exemplo disso é Clodovil Hernandes, que é gay, mas se elegeu deputado federal por São Paulo graças aos votos de sua imensa legião de fãs, em sua maioria senhoras que, entre um ponto e outro da agulha de crochê, impressionam-se diante da TV com as pintas, os closes, os arroubos de atrevimento, indignação e suas análises rasteiras, mas impactantes. Clodovil é um daqueles gays que não se consideram merecedores do direito de amar, constituir uma família, expressar o seu amor: menospreza a luta de gays e lésbicas pela união civil entre pessoas do mesmo sexo e acha que um beijo gay é uma agressão. Pode?

Mas nossa trajetória como parlamentares nos revela outras situações tão patéticas ou mais. Não são poucos os homossexuais, notadamente gays e travestis, que se elegeram sob um tom de preconceito e chacota, uma gozação que se justifica no protesto contra a seriedade do voto. Tristes figuras, são obrigados a abrir mão de sua identidade, se submetem ao escárnio público e fazem o papel do bobo na corte da irresponsabilidade eleitoral. Sequer têm conhecimento de que exista um movimento que luta pelos direitos dos LGBT.

Enquanto isso, nossos opositores elegem suas bancadas. Para eles, candidato bom é aquele que fale e seja popular. Não importa o que diga, se fale bem ou mal. Não importa o caráter. Para eles, o lugar de se aprender como ser um parlamentar é no parlamento, e não cá fora. Daí o baixíssimo nível nas casas legislativas. Nossos opositores estão mais preocupados com a quantidade, pois ali cada um é um voto e pronto. É essa falta de qualidade que tem nos levado ao cenário caótico de corrupção que atravessamos hoje.

A ideia, nessas eleições, mais uma vez, é quebrar esse ciclo e eleger ativistas do movimento gay para as câmaras municipais. São 70 candidatos gays, lésbicas ou travestis, em todo o país, muitos deles perfeitamente capacitados a ocupar um cargo público. 2008 pode marcar o início da construção de uma bancada que faça frente àqueles que insistem em negar os nossos direitos e que são os responsáveis por não termos, em 20 anos de Constituição, nenhuma lei federal que reconheça e beneficie a comunidade homossexual.


Camisinha sempre!

sábado, 9 de agosto de 2008

Uberlândia – 09/08/2008



Quanto vale uma parada numa cidade do interior? Seguramente, bem mais que numa metrópole. Para início de conversa, é no interior que a homofobia se manifesta com maior intensidade. É ali que os valores conservadores ainda são a tônica da educação formal e informal, onde os líderes ainda são avaliados pelas suas posições em defesa de uma família construída em bases tradicionais e que qualquer coisa que fuja ao padrão estabelecido e ameace a hierarquia macho-heterossexista vigente é entendida como afronta e desrespeito. E mais: ao contrário das grandes cidades, no interior a homossexualidade não se dilui na multidão. Ali, não tem jeito de se esconder.

Em Uberlândia, o sotaque do interior de Minas contrasta com o progresso evidente, com o dinamismo de uma cidade onde a qualidade de vida dos cidadãos é alta, mas, por outro lado, onde gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais travam uma luta constante contra a homofobia, contra o armário que nos sufoca e que aparentemente alivia a vergonha que muitos ainda sentem de nós. Inclua-se aí nossos familiares, divididos entre o amor solidário e a condenação moral.

A Parada do Orgulho Gay de Uberlândia teve o sabor do desafio. Não só por parte dos organizadores, que enfrentaram de cara limpa e mãos vazias toda a estrutura burocrática da gestão pública e literalmente arrancam a fórceps o apoio, a segurança, as modificações necessárias do trânsito, tudo isso conjugado com um esforço sobre-humano de construção de uma opinião pública positiva e tolerante às mudanças no cotidiano da cidade que uma manifestação desse porte acarreta.

Mas é um desafio também para a população de homossexuais da cidade que enfrenta o dia seguinte com coragem e sai às ruas para ser vista, para ser reconhecida, sabendo que será rotulada a partir daí e arcará com o ônus de sua coragem: o desprezo, a violência e o tripudio do cotidiano nas escolas, nas famílias, no trabalho.

Uberlândia fez uma Parada maravilhosa. Não importa quantos acompanharam os cinco trios elétricos que, por algumas horas, atraíram a atenção para as consequências do preconceito contra nós. Não importa as ameaças dos religiosos, das forças políticas, dos nossos opositores. Importante é que o recado foi dado.

Em tempos de eleições, as Paradas do Orgulho Gay têm sido temidas pelos que querem se perpetuar no poder. Incapazes de mobilizar a população, mesmo com todo o seu poder econômico, censuram faixas, se infiltram com folhetos homofóbicos e, derrotados, assistem atônitos o apoio da população ao progresso inevitável.


Camisinha sempre!

sábado, 2 de agosto de 2008

Rainbow Fest – 02/08/2008


Estamos às vésperas dos dias mais importantes do nosso ano. É na segunda semana de agosto que todas as atenções do mundo gay se voltam para Juiz de Fora, onde acontece o Rainbow Fest. Há dez anos isso se repete e o evento se consolidou como o maior evento turístico de Juiz de Fora, extrapolando os muros dos guetos gays e envolvendo toda a cidade, de 13 a 17 de agosto, sem absolutamente nenhum preconceito.

Apesar da tradição, não é fácil para a militância receber anualmente a mesma resposta evasiva de que não existem recursos para colaborar com a realização de um evento interessante, pacífico, com bons atrativos, qualidade, que respeita a cultura local e envolve toda a população na defesa dos direitos dos cidadãos homossexuais. Nem mesmo aqueles que se beneficiam diretamente dos recursos financeiros injetados na economia local se dispõem a investir, como o trade turístico, o comércio e os serviços, acomodados na posição de quem está com todas as suas reservas esgotadas, apoiando ou não a iniciativa.

Mas a tão esperada semana do Rainbow Fest está no ar. É o assunto dos encontros e as notícias se espalham como pólvora: os bastidores do Miss Gay, as novidades, quem vai estar no júri, quem vai passar na passarela, se vai ter passarela, uma vez que, pela primeira vez, o concurso Miss Brasil Gay sai de um ginásio e vai para o Cine Theatro Central, uma joia preciosa incrustada no coração da cidade.

Se por um lado mantém o seu formato concurso, traz uma mudança radical na relação que irá se estabelecer com a plateia, indiscutivelmente uma das atrações de todas as edições passadas. Uma aposta arriscada, atrevida e que pode dar certo.

O Rainbow Fest possui o poder de nos envolver gradativamente, começando na quarta-feira e atingindo seu ápice no sábado da Parada, dia 16 de agosto, quando 100 mil pessoas compartilham a alegria de viver a ilusão de um mundo sem homofobia. Durante toda a semana a população desfruta o direito de viver um Carnaval às avessas, apesar da mesma alegria. Às avessas, pois o que vale é exatamente nos desfazer das máscaras e fantasias para vivermos uma semana de verdades e autenticidade.

Ainda está em tempo de arrumar a mochila e ir para Juiz de Fora viver uma das mais gostosas experiências de cidadania numa cidade acolhedora, preparada para receber o turista GLS, dotada de leis que defendem os homossexuais, onde não precisamos esconder o nosso afeto e onde quem importa se coloca do nosso lado.


Camisinha sempre!