sábado, 3 de maio de 2008

Velhos heróis – 03/05/2008



Meu avô era um artista. Músico sensível, emotivo, valorizava a tradição e a autoridade. Respeito aos mais velhos na nossa família sempre foi lei e fez algumas vítimas entre os adolescentes que ousaram se rebelar contra isso, apesar de sempre acolher de volta os atrevidos; até mesmo os chatos, como eu. Foi ali que aprendi a não cobiçar o lugar de ninguém e, sim, conquistar o meu.

Foi ali também que aprendi a admirar a maturidade e o saber acumulado, por anos de experiência, por erros e acertos que acabam outorgando aos mais velhos o direito de orientar o caminho, o lugar de farol e condutor de uma estrada que só não é mais tortuosa graças às cabeçadas que eles deram. Isso tudo me é útil hoje, alicerça minhas relações pessoais e marca minha atuação política não só no movimento GLBT.

Quando comecei na militância e não sabia sequer que havia uma história de luta pelos direitos dos homossexuais no Brasil, foi "Devassos no Paraíso" que me introduziu nesse novo velho mundo. João Silvério Trevisan é figurinha carimbada no meu álbum.

Quando iniciamos o MGM e sentimos a necessidade de material impresso para repassar a um pai desorientado ou um gay perdido, descobrimos que há anos o professor Luiz Mott já produzia com maestria e qualidade uns livretos com jeito de cordel e, antes mesmo de pedirmos, recebemos um pacote com alguns exemplares para compor a nossa biblioteca.

Não passa um dia sem que circule pela Internet um alerta, uma denúncia, um outro ponto de vista do professor Mott, sempre atento às injustiças, à garantia do espaço conquistado, às oportunidades de novas frentes de luta. Um trabalho atento e voluntário que alguns jovens gays, rebeldes sem causa, não são capazes de reconhecer.

Além disso, o fundador do Grupo Gay da Bahia é o responsável por importantes levantamentos estatísticos utilizados em todas as falas, discursos e artigos de quem se refere à violência contra os GLBT, como o número de assassinatos por homofobia no Brasil.

Foi Luiz Mott que cunhou em nós a própria lógica pragmática do embate político e da luta por direitos dos homossexuais no país. Mesmo que às vezes discordemos, não posso deixar de reconhecer seu valor e reservar lugar de honra na minha galeria para o amigo e antropólogo radicado na Bahia.

Em tempos de Conferência GLBT, é inadmissível que essas pessoas sejam esquecidas e imprescindível que sejam os primeiros convidados a comporem as mesas que darão o tom que o evento merece. Na primeira conferência GLBT do mundo, vamos reconhecer e garantir aos nossos heróis o lugar de destaque que merecem.

Camisinha sempre!

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