sábado, 17 de maio de 2008

Eduardo – 17/05/2008



Fui surpreendido pela visita do Eduardo. Talvez tenha se atrevido a subir as escadas da sede do MGM porque naquele dia a porta estava sendo mantida aberta, pois o interfone resolveu não funcionar. Eduardo revelou que já rondara a casa algumas vezes, sem coragem para entrar. Naquele dia, entrou.

Um senhor alto, magro, aparentando algo em torno de 60 anos, sofrendo profundamente por ser gay. Encontrei-o assentado, curvado sob os ombros, cabisbaixo, o olhar no chão, revelando humildade, medo, incerteza e vergonha.
Sua voz quase não se ouvia quando revelou que decidira nos procurar por recomendação de sua filha, a partir de vestígios que denunciavam sua homossexualidade. Havia se contido durante anos, sufocando seus desejos e alimentando fantasias homoeróticas que, acreditava, nunca se realizariam.
Mas nunca é tempo demais. Viúvo, viu seus desejos secretos explodirem, provocados pela solidão, e não se conteve mais. Passou a viver relações clandestinas com garotos de programas, se relacionou com aproveitadores e bandidos que vinham se valendo de sua vulnerabilidade para extorqui-lo, humilhá-lo e violentá-lo.
Eduardo queria sumir, arrumar um quarto-e-sala e ir viver com alguém que o compreendesse, apesar de não acreditar que homossexuais fossem capazes de estabelecer relações estáveis duradouras além do sexo. Tendia a estabelecer uma relação de prazer e recompensa com seus parceiros secretos e as migalhas de prazer que recebia eram recompensadas com uma cesta básica, um tratamento de dentes, uma gorjeta, uma refeição. Nunca soube o que é homoafeto e ainda era constantemente menosprezado, chantageado e humilhado.
Convidei-o a freqüentar o MGM e se relacionar com pessoas iguais a ele, a perceber que seu desejo é legítimo e pode ser compartilhado fora das sombras e dos perigos. No MGM ele receberá apoio psicológico, jurídico, se precisar, um ambiente saudável, seguro, momentos de lazer e, aos 60 anos, terá a oportunidade de se conhecer e conviver bem com sua sexualidade. Como um adolescente gay que se inicia na vida homossexual.
Obrigado à filha do Eduardo, que percebeu o conflito e os sofrimentos do pai e encaminhou-o não a charlatães que prometem curá-lo, mas aos seus iguais, onde ele poderá encontrar compreensão e ser mais feliz.

Camisinha sempre!

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