sábado, 24 de maio de 2008

Danilo – 24/05/2008



Tenho vivido a real sensação de estar perdendo. Pessoas, tempo, juventude, espaço… Minhas fraquezas estão expostas diante de perdas que não se revertem e das quais me torno inerte.
De repente, me deparo com um amigo, um aliado, que convive com um mioma cerebral que insiste em se impor à quimio e à radioterapia. E assisto sua evolução sem poder resgatar sua capacidade de falar, escrever, conversar comigo.
Danilo Oliveira, o presidente do Clube Rainbow, uma das mais bem-sucedidas organizações voltadas para o público GLS de Belo Horizonte, está doente. Rodeado de atenções de seu companheiro e parentes próximos, mas esquecido pelos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e heterossexuais dessa cidade, a quem dedicou grande parte de sua vida, seu tempo, sua saúde.
Danilo é um dos importantes personagens da história recente do movimento GLBT de Minas Gerais.Quem não se lembra do "Só pra Nós", na rua Patrocínio, Carlos Prates, sede do Rainbow? Um aconchegante espaço que funcionava no quintal, nos fundos da casa e que atraía os gays e lésbicas de Belo Horizonte para deliciosas tardes e noites de convivência.
Danilo, durante muito tempo representou a militância efetiva da capital. Foi através de seu trabalho que a Parada de Belô cresceu, apesar da insistência de alguns em negar a sua passagem pela organização e sua importância para a história do maior evento GLBT da cidade. Foi esse tipo de rivalidade que causou a derrota da promissora candidatura do Danilo a vereador, em 2004.
A lei 8.176, que penaliza atitudes homofóbicas em Belo Horizonte, ou a 14.170, em Minas Gerais, foram umas das bandeiras do Danilo. Era ele que comparecia, provocava audiências públicas, convocava a militância, visitava deputados e vereadores, preparava documentos, dava entrevistas, muitas vezes enfrentando as derrotas ou vibrando sozinho com as vitórias.
A turma do Danilo distribuía preservativos na cena de Belo Horizonte e editava o Jornal do Clube Rainbow, entregue gratuitamente nos bares, boates e saunas. Na sede da ONG foram realizados vários registros de uniões estáveis entre gays ou lésbicas, alguns rodeados de pompa e circunstância e muitas das organizações que hoje se espalham pelo estado nasceram com seu apoio e inspiração.
Danilo escreveu o livro "Éramos Dois", no qual conta sua vida, seus conflitos com a homossexualidade e parte da história do movimento GLBT de Minas Gerais. Os recursos obtidos com a venda desse livro podem ajudá-lo nesse momento. Compre um e leia. Você verá que não faltam motivos para aplaudi-lo e lamentar com tristeza seu estado de saúde.
Camisinha sempre!

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