sábado, 10 de maio de 2008

De Luta – 10/05/2008

 
Estamos adotando a linguagem da violência. Acordamos, elegemos nossos inimigos e vamos à luta. Lutar é a palavra. Numa inversão total de valores, é virtuoso o que é "de luta". Valoroso é aquele que tem garra, como as águias, que as usam para matar.

Foi assim que aprendemos e ensinamos. Nós, meninos, recebemos nossa primeira camisa de um time de futebol ao nascer. O grito de guerra da torcida está entre os primeiros sons que ouvimos e muitas vezes, uma das primeiras palavras que balbuciamos. Uma marca da educação masculina que traz, a reboque, o inimigo, o adversário, a luta.

Hoje, o outro vence e tripudia, irrita com seu gritinho de guerra, menospreza suas armas e enaltece sua superioridade. Amanhã, você ganha e faz o mesmo, com direito (de resposta) adquirido. A linguagem da troca de insultos, socos, provocações torna-se a regra. A lei maior.

Num mundo "machonormativo", esse comportamento se espalha. Times de futebol adversários se tornam rivais, e suas torcidas, exércitos inimigos que disputam o título de "melhores". Para isso, é preciso que os outros sejam piores, menores e a violência enfraquece-os. Assim, vence o mais forte e agressivo, aquele que tem mais garra, o mais "de luta".

As igrejas lutam contra os seus demônios. Legitimam a violência contra aqueles que julgam pecadores, possuem seus cânticos, slogans e formas de ridicularizar os derrotados.

A iniciativa privada adota o marketing de guerra e trata seus empregados como soldados de um exército que possui um inimigo a ser vencido, uma meta a ser alcançada, e para isso contam com suas armas e estratégias.

Nos movimentos sociais não tem sido diferente. O clima de competição tem feito seus estragos. Lutadores com garra têm transferido sua linguagem de disputa de poder, gritos de guerra, seu tripúdio, armações, conchavos e violência para dentro de suas instâncias, elegendo inimigos entre suas próprias fileiras e provocando o esvaziamento de causas que já possuem seus próprios adversários.

Na política partidária, a selvageria também já tomou conta. O lema é "vence o mais forte, quem se articula melhor, quem tem mais a oferecer". O outro partido, ou é aliado ou é inimigo e a disputa se torna a essência; a vitória nos votos, o fim. Repetem-se os slogans, os gritos de guerra, as danças zombeteiras e o tom de desprezo para confirmar a triste e lamentável forma que adotamos para nos relacionar. Lutando.

Camisinha sempre!

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