sábado, 8 de dezembro de 2007

Filhos de Gays – 08/12/2007


Não são poucos os gays e lésbicas que têm filhos, provenientes de relacionamentos ou aventuras pelo mundo heterossexual. Como se não bastasse a delicadeza do assunto e da relação que se estabelece, o mundo lá fora não ajuda muito.
O massacre deve começar na própria família. Primeiro, uma pressão enorme para que o garoto afirme rapidamente sua heterossexualidade, antes de "virar" gay também. Afinal, o pai é – ou deveria ser – o exemplo a ser seguido e pode influenciar na educação de seu filho. Sim, pode. Só que homossexualidade não é uma questão de educação. Basta lembrar que nenhum de nós, gays, foi educado para ser homossexual. Pelo contrário, um dos nossos maiores conflitos é exatamente a orientação homofóbica que recebemos e que nos leva a rejeitar a nós mesmos, provocando tantas dores e equívocos.
Na escola, não deve ser mais fácil. Crianças e adolescentes são cruéis em seus comentários e brincadeiras. Imagino que eles evitem o assunto com os colegas. Por vergonha, reproduzindo o senso comum de que ser gay é motivo para isso e que somos menos homens que os outros. Ou por medo de serem discriminados, vítimas de chacota: "Filho de via-dô! Filho de via-dô!" Para quê comentar e entregar aos colegas uma informação que poderá ser usada contra eles? É melhor ficar calado…
E a hereditariedade? Se seu pai é gay, então ele também é. E será obrigado a enfrentar um preconceito que não lhe diz respeito. Isso é no mínimo injusto: gays geralmente são filhos de heteros e não existe nenhuma ligação entre uma coisa e outra. Pais gays não têm necessariamente filhos gays e são raros os casos de pais e filhos homossexuais, apesar de existirem, claro. Um filho de gay provavelmente encontrará mais facilidade de assumir sua sexualidade plenamente, independente do rumo que ela vai tomar.
Filhos de gays se dividem entre o que se passa na sua família e o que assistem lá fora. É provável que questionem as atitudes de seus pais: se ele é gay, por que se casou com minha mãe? Por que transou com ela? Por que quis ter um filho? Não parou pra pensar que esse filho estaria submetido a um monte de preconceitos nesse mundo homofóbico? Por que não evitou isso?
Muitos homens negam sua homossexualidade até onde suas forças permitem. Muitos abrem mão de seu amor próprio para tentar viver dentro do padrão de normalidade estabelecido e para o qual foram orientados a se enquadrar. Alguns se consideram tão errados, estão tão firmes em seu propósito de negar sua homossexualidade, sentem tal pavor de serem desmascarados que morrem assim, frustrados, sem vivenciá-la plenamente, infelizes durante toda uma vida por serem diferentes e não se permitirem sê-lo. Para outros, entretanto, a verdade fala mais alto, apaixonam-se, acreditam no seu direito de serem gays e se assumem, para o espanto de muitos, principalmente de seus filhos.
Pais gays, no armário, são potencialmente formadores de filhos homofóbicos e machistas. Sim, porque a construção do personagem pai-heterossexual-macho-convicto passa por manifestações de arrogância e preconceito: macho é assim. Filhos de gays assumidos, por outro lado, têm a oportunidade de conhecer uma outra faceta do ser masculino, que tem feito muita falta na formação do homem moderno. Filhos de pais gays têm a chance de entender melhor as suas fragilidades, suas emoções, pois convivem com homens que não precisam se destituir de sentimentos como a delicadeza, a ternura, o afeto, temendo parecerem gays aos olhos da nossa sociedade.
Homens são cruéis em suas manifestações homofóbicas e, entre nós, é comum se ridicularizar o outro por suas características pessoais: o "marcha-lenta", o "narigudo", o "cabeção", o "zarolho" são sempre seguidos das gargalhadas de uma claque estúpida composta de machos incapazes de serem sarcásticos no campo das ideias, se assim o desejarem. Filho de veado, então, é um prato cheio para os gozadores; quase pior do que ser o próprio gay.
Aos filhos de gays eu diria que invertam seu ponto de vista e tirem proveito disso. Seu pai teve muita coragem em desafiar os valores estabelecidos e pesar na balança menos a sua formação machista e mais sua individualidade. Ele foi valente ao reconhecer-se e assumir-se homossexual, mesmo sabendo que poderia estar quebrando o frágil cristal da admiração que pais-heróis recebem, gratuita e espontaneamente, de seus filhos. Muitas vezes esse cristal se quebra e o consolo é o tempo, pois é ele que irá mostrar que existem exemplos mais honrosos que a dissimulação e a mentira.
Camisinha sempre!

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