O Plano, que começou a ser construído em conjunto com os travestis e transexuais, acabou por se separar em dois conjuntos de ações diferentes, em respeito às características específicas de cada um. Ficou claro que os transexuais deveriam integrar na verdade o plano de enfrentamento da AIDS entre as mulheres e com isso ele apresenta ações específicas para os travestis e outras para os gays e homens que fazem sexo com homens.
Entre outros dados, o plano revela o quanto as ações de combate à AIDS entre gays continuam imprescindíveis. A taxa de incidência (número de indivíduos infectados em cada 100 mil habitantes) entre os gays é 11 vezes maior que da população em geral. Apesar de manter-se estável nos últimos 15 anos, o percentual de gays e bissexuais masculinos estabilizou-se em níveis bastante elevados, exigindo prioridades nas ações voltadas para a nossa população.
São quase 30 anos de epidemia e nesse período muita coisa mudou. Testes e medicamentos têm garantido uma vida com qualidade para os gays vivendo com o HIV, enquanto o preconceito e a desinformação sobre a doença têm colocado o cidadão portador do vírus como vítima de todo tipo de segregação, inclusive entre nós, muitas vezes condenando-os à morte em vida: a morte afetiva, sexual, profissional etc.
Assusta-nos, entretanto, os índices de crescimento da epidemia entre os jovens gays. Para se ter uma idéia, em 1990, 18% dos gays infectados estavam na faixa dos 13 aos 19 anos. Esse número cresce para 40% em 2005! Estamos assistindo a banalização da epidemia da AIDS entre os gays, muito em conseqüência desses avanços da medicina que garante qualidade de vida aos portadores do vírus.
A turma de 13 a 19 anos nem havia nascido quando assistíamos nossos ídolos e amigos se definhando numa cama, isolados, vítimas do preconceito e da ignorância da sociedade, morrendo de dor. Não existia o coquetel de antiretrovirais que hoje mantém equilibradas as defesas do organismo de tantos companheiros, e que acaba causando a falsa impressão de que a epidemia está sob controle.
Pais e educadores precisam nos ajudar a abrir essa caixa-preta e introduzir o uso da camisinha na educação sexual de seus filhos. Educação sexual que precisa aceitar a sexualidade de seu filho do jeito que ela é, seja hetero ou homossexual, estabelecer limites e fornecer orientações sobre cuidados que você tem que ter na sua vida sexual. E, acima de tudo, que sejam dadas orientações sobre sexo seguro e incentivado o uso da camisinha. O controle da epidemia entre nós é o uso do preservativo.
As ONGs, os postos de saúde, todos eles dispõem de camisinhas que são distribuídas gratuitamente, garantindo inclusive o sigilo nessa entrega. Aos que não conheceram Cazuza, Sandra Bréa, Renato Russo e tantos outros que se foram, digo que não precisamos assistir a morte de nossos amigos para entender que o HIV está entre nós.
Camisinha sempre!