sábado, 23 de junho de 2007

Onde estão nossos heróis? – 23/06/2007


Há pouco tempo, o veterano militante GLBT de Minas Edson Nunes que, antes mesmo de nos entendermos como um movimento organizado, levantava nossas bandeiras e mostrava sua garra na mídia, nos partidos políticos, associações filosóficas etc. nos surpreendeu com um relato de sua história de vida e defesa pública dos direitos dos homossexuais. Que susto! Quase ninguém se lembrava do Edson. Poucos sabiam de seu legado, sua existência, resistência e persistência.
As lésbicas também sempre desempenharam com maestria o importante papel de comandar as ações do movimento em nosso Estado. Foram elas, por exemplo, as primeiras a empunharem as bandeiras do arco-íris na avenida Afonso Pena e comandarem a primeira marcha pelos direitos dos homossexuais em Belo Horizonte. À frente, uma das mais combativas ativistas do movimento GLBT brasileiro, Soraya Menezes, fundadora da ALEM – Associação das Lésbicas de Minas e referência histórica para qualquer um que queira contar a trajetória da luta dos homossexuais em Minas Gerais. São poucos os jovens que conhecem a história da Soraya e sua companheira. Raros os que identificam a sua marca na conquista dos direitos que hoje usufruem naturalmente, sem pensar como essa conquista se deu.
Outro que se colocou de corpo e alma na frente de batalha pelos direitos GLBT e sofreu as agruras do pioneirismo é Danilo Oliveira, fundador do Clube Rainbow de Serviços, organização que surgiu como um relâmpago e deu profissionalismo ao terceiro setor GLBT em Belo Horizonte. Depois de dedicar tantos anos à nossa luta e passar pelo mesmo largo período de recolhimento que tem caracterizado a história de nossas lideranças, Danilo ressurge compartilhando conosco sua história de vida e lançando sua autobiografia "Éramos Dois". Quem sabe assim consiga o reconhecimento definitivo da nossa comunidade.
Agora, perdemos um dos personagens históricos do nosso movimento: o ativista Itamar Santos, fundador do Grupo Guri – posteriormente Associação Gay de Minas – e outro pioneiro destemido na luta pela cidadania homossexual de nosso Estado. Um cidadão pouco conhecido pelas novas gerações, que morreu enfrentando sérias dificuldades, apesar de ter dedicado grande parte da sua vida a defender e promover a inclusão e o respeito aos homossexuais. Itamar chegou ao final de sua vida sem recursos sequer para garantir um tratamento de saúde digno que lhe desse conforto nos seus últimos dias.
Quando vamos começar a reconhecer os nossos heróis? Quando vamos começar a admirá-los e tê-los como exemplo de vida a ser seguido? Ou será que a homossexualidade ofusca tanto assim suas virtudes? Será que nós mesmos não estamos nos condenando por sermos homossexuais e deixando que isso apague os méritos daqueles que se colocam à frente das nossas lutas?
O final de vida solitário de Itamar Santos me leva a questionar nossa própria deficiência no entendimento do que vem a ser homossexualidade, como nos entendemos como gays e que tipo de relações podemos estabelecer com os nossos iguais. Precisamos nos admirar mais e desconstruir o senso comum de que a homossexualidade nos destitui de qualidades que sirvam de modelo para nossos jovens.
Precisamos trabalhar na construção de uma identidade coletiva, com valores e referenciais que façam com que nossa orientação sexual seja um fator de união e admiração mútua. Só assim conseguiremos construir uma trajetória de avanço na representação política dos homossexuais mineiros.
Camisinha sempre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seu comentario.