Começaram as Paradas. Como todos viram, São Paulo bateu todos os recordes e reuniu 3,5 milhões de pessoas em torno de 22 trios elétricos que tomaram a Av. Paulista e a Consolação, no centro da cidade, com o ritmo contagiante dos DJs da cena gay de todo o Brasil. Dentre eles, o trio “Gays de Minas” ocupando a 13ª posição, marcando com orgulho a presença dos homossexuais mineiros na maior parada do mundo.
No comando, a equipe do MGM – Movimento Gay de Minas, de Juiz de Fora, recebendo convidados e personalidades e divulgando o 10° Rainbow Fest, evento anual que acontece em agosto e que atrai as atenções para aquela cidade do nosso interior.
Diferentemente do que vimos em São Paulo, as dezoito paradas de Minas têm conseguido manter o caráter cívico-político que dão sentido à marcha. O motivo de estarmos ali nas ruas, cantando, dançando, fantasiados que seja, é darmos visibilidade à nossa causa. É nos mostrarmos sem vergonha, à luz do dia e lembrarmos quantos somos e, não menos importante, quem somos. É divulgarmos nossas lutas e desfraldarmos as bandeiras que, apesar de tão íntimas do movimento, são desconhecidas de muitos heterossexuais, mesmo simpatizantes, e até dos próprios homossexuais.
Talvez por seus portes menos gigantescos, as paradas de Minas exibem com clareza esse lado político-militante que é sua essência histórica. E é importante que não deixemos o evento e sua grandiosidade ofuscarem nossas bandeiras, como pudemos perceber em São Paulo, onde os grandes debates em torno da homossexualidade tornaram-se menos importantes que toda aquela mega-estrutura em que se transformou a Parada em si.
Por mais que tenham sido lembrados nos discursos de abertura ou nas notas divulgadas pela organização à imprensa, temas que hoje são fundamentais para o movimento GLBT não ficaram claros para a multidão, a mídia e todos que se envolveram de alguma forma com a Parada de SP. As coberturas desastrosas da mídia, notadamente as deploráveis matérias da Folha de São Paulo, confirmam isso. A amplitude do tema escolhido – “Por um mundo sem racismo, machismo e homofobia!” – deixou pouca margem para as urgências específicas do movimento.
Pouco se viu sobre o PLC 122/06, projeto de lei que criminaliza a homofobia que se encontra em trâmite no Senado e que vem sendo vigorosamente combatido pelos grupos conservadores. É fundamental conquistar o amplo apoio da opinião pública para que seja aprovado. Desperdiçamos uma oportunidade de ouro de dar mais destaque ao assunto.
Perdida também ficou a união civil. Tramitando há mais de onze anos no Congresso Nacional, o projeto da ex-deputada Marta Suplicy carece de uma nova e ampla discussão. Até hoje existem pessoas acreditando que a união civil afronta a família e que, se aprovada, os gays estarão sendo conduzidos ao altar por seus companheiros nos templos religiosos, idéia essa difundida por aqueles que insistem em negar nosso direito a uma família, um lar e uma felicidade conjugal. Aliás, conservadores fundamentalistas são experts em misturar estado e religião, usando um e outro ao seu bel prazer, confundindo a opinião pública e obstruindo o avanço da garantia dos direitos aos cidadãos homossexuais.
Mesmo os um milhão de preservativos distribuídos durante a Parada de SP se dissolveram naquela multidão. Não foram suficientes para descortinar o elevadíssimo grau de vulnerabilidade dos homens que fazem sexo com homens à AIDS: gays brasileiros possuem dezoito vezes mais chances de contrair AIDS que os homens heterossexuais. A proporção de homossexuais infectados não diminui dos 25% e os recursos investidos em ações de prevenção com essa população não chegam a 2% de toda a verba destinada ao combate à AIDS no Brasil. É preciso que todos saibam disso e exijam conosco ações de saúde pública que reduzam essa vulnerabilidade e que efetivamente faça com que a epidemia deixe de crescer tanto entre nós. E isso não esteve claro na Parada de SP.
É importante que as paradas de Minas Gerais não percam esse foco, estejam atentas ao caráter político da passeata e que se preocupem em encontrar o equilíbrio entre a alegria que nos é própria e a luta pelos direitos que é o nosso maior motivo.
Camisinha sempre!
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