sábado, 12 de novembro de 2011

Boa noite - 12/11/2011


No último sábado, meus leitores habituais releram uma coluna que fora originalmente publicada em dezembro de 2010. Essa foi a solução encontrada pelos editores do Magazine GLS, uma vez que, até o fim da sexta-feira, minha coluna inédita do dia seguinte não havia chegado à redação. Sem respostas às tentativas de me alcançar, reprisaram um dos meus escritos, aliás, bem a propósito.

Os colegas não sabiam que, desde quinta-feira à noite, eu estava desacordado em meu apartamento em Brasília, sob efeito de soníferos, vítima de um manjado golpe conhecido como "Boa Noite, Cinderela". Fui socorrido por parentes no sábado e somente na segunda-feira pude fazer um balanço dos prejuízos causados pelo bandido.

Era uma quinta-feira rotineira e eu terminaria o meu dia mergulhado nas ondas da internet até o sono chegar. O contato chegou por volta das 18h, via mensagem no celular e me pareceu uma excelente ideia para quebrar a mesmice. Assim, aceitei o convite de um pretenso novo amigo para um chop no fim da tarde.

Foram duas ou três cervejas até que tudo se apagasse. Até aí o assunto girou em torno de trabalho, carreira, viagens e só voltei a perceber o que acontecia ao meu redor no sábado. Não sei como cheguei em casa, não sei o que disse, os comandos que recebi ou as informações que forneci. Os prejuízos materiais poderiam ter sido maiores; as conseqüências para a minha vida, ainda mais.

No domingo à tarde, publiquei um resumo do ocorrido na internet e deu-se início a uma emocionante enxurrada de manifestações de solidariedade e préstimos diante do incidente. Alguns, entretanto, foram críticos e consideraram que me expus demais ao denunciar minha própria fragilidade.

Ao resumir essa história e torná-la pública, quero convidá-los a refletir sobre nossas vulnerabilidades. A novidade que me atraiu não deveria significar risco. Conhecer novas amizades não é por natureza um ato perigoso, mas pode tornar-se. A vida continua tensa e não dá para baixar a guarda, relaxar ou desviar o olhar do seu copo.

Encontros entre homens homossexuais continuam clandestinos e, mesmo que não tenha sido esse o caso, pairava no ambiente um pressuposto de impunidade. O bandido tinha todo um enredo engendrado e, sob o efeito de drogas, minhas reações seguiam suas previsões.

Amplificadas pela culpa, as dores da alma deprimem e o arrependimento dilacera. Afortunado, continuo vivo. Poderia não.

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