sábado, 10 de setembro de 2011

Quem mandou? - 10/09/2011




Mais um horror. Dessa vez, degolada. Não passa um só dia sem que cheguem notícias de um assassinato, uma agressão, um confronto provocado pela homofobia, pela aversão aos homossexuais. Cruéis, escandalosos, violentos, mas acima de tudo, tristes.

Não consigo acreditar em uma sociedade que aceite a violência homofóbica como intrínseca à sua cultura e não reaja. Não posso aceitar impassível a culpabilização das vítimas homossexuais e ver essa lógica se reproduzindo nos processos de educação, nas famílias, nas escolas, nas ruas. No dia a dia, os jovens introjetam uma noção de justiça que passa a considerar a morte como um castigo merecido, desde que atenda a determinadas condições.

A primeira delas é se você é uma pessoa "do bem" e merece solidariedade por ter morrido. Se você é "um rapaz tão bom, trabalhador, discreto!", todo mundo vai achar sua morte injusta. Discrição, aliás, sempre surge como um valor relacionado aos gays; tanto para o bem (os discretos) quanto para o mal (os indiscretos). Se você, ao contrário, não for um rapaz tão bom, seu trabalho não for entendido assim ou for indiscreto, então alguma coisa você deve ter feito para merecer a morte.

Outra condição é saber onde você estava. Sua morte será tão mais merecida quanto mais ermo e escuro for o lugar que você foi encontrado assassinado. A barbaridade da agressão que você sofreu é amenizada pelo ambiente que você frequenta, pelas ruas que passa, pelo horário que circula. Seu direito de ir e vir possui limites determinados por uma sociedade que pune com a morte os que não os seguem. "Quem mandou ficar dando mole naquele lugar, àquela hora?" Pronto. Morreu. Mereceu.

Você será avaliado pela opinião de pessoas que são vítimas da reprodução cíclica de uma cultura que impõe rígidos padrões de gênero e cobra caro por eles. Assim, todas as circunstâncias serão analisadas no sentido de legitimar a morte como um castigo pela sua orientação sexual: suas roupas, seus amigos, seus hábitos de consumo de drogas e substâncias, sua relação com a família, seus namorados, até seu cabelo, tudo no sentido de amenizar a responsabilidade dos homofóbicos. Também, quem mandou...?

Nada justifica a morte de alguém, muito menos sua orientação sexual ou identidade de gênero. Travestis, gays e lésbicas que transitam pela marginalidade o fazem em consequência de um contexto econômico e social que não lhes oferece alternativa. Ao condená-los por seu comportamento em vida, justificamos sua morte e aliviamos a responsabilidade dos verdadeiros culpados.

Camisinha sempre!

Um comentário:

  1. Olá, Oswaldo! Conheci seu trabalho a partir do site MGM, gostaria de parabenizá-lo pela qualidade do material.

    Sou estudante de Artes Visuais e de Design de Moda e desenvolvo uma pesquisa sobre Drag Queens. Vi que em um texto seu há um contexto cronológico do surgimento da gíria nos Estados Unidos, gostaria de saber mais sobre as referencias que você usou. É muito difícil encontrar bibliografia apropriada sobre o assunto...

    Mais uma vez, parabéns pelo bom trabalho. Estou seguindo seu blog.
    obrigado,

    André da Silva
    andre.figurados@gmail.com

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