quarta-feira, 1 de junho de 2011

Kit - 01/06/2011


O problema está posto: a homofobia nas escolas existe e tem deixado sequelas na formação de jovens homossexuais em todo o mundo, notadamente no Brasil, onde o machismo alcança cada espaço de nossa existência. E alguma coisa precisa ser feita para que seus malefícios não se perpetuem.

O kit do projeto Escola sem Homofobia surge nesse contexto. E como qualquer iniciativa dessa monta, deve ter um bom embasamento científico que evite esforços inúteis e desperdício de energias. Além disso, as ações de combate ao preconceito contra os gays e lésbicas devem partir dos responsáveis pelas políticas públicas de educação formal do Estado, considerar todos os aspectos político-pedagógicos e contemplar o protagonismo dos atores envolvidos. Devem ser ações revestidas de um rigoroso cunho legal, seguir fielmente a Constituição e evitar se estender a outras discussões que avancem nas escolhas individuais, como as religiões. Por fim, devem ser conduzidas pelos professores que, na falta de domínio do assunto, seriam orientados e capacitados para isso.

Foi nesse sentido que se estabeleceu a parceria entre o Ministério da Educação e a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, a ABGLT, para desenvolver materiais que pudessem apoiar as escolas no trato das situações de preconceito e combate ao bullying contra os homossexuais. Durante vários meses, foram realizados encontros entre professores, diretores de escolas, ativistas do movimento LGBT e órgãos públicos das esferas federal, estaduais e municipais. O debate se estendeu a todas as regiões do Brasil, no sentido de contemplar os aspectos das culturas locais e legitimar o seu resultado.

Além do MEC, várias secretarias estaduais e municipais de educação participaram do processo. Uma mobilização de centenas de cientistas sociais, professores, psicólogos, mestres, doutores, pais e mães, homos e heterossexuais que resultou na produção de um conjunto de instrumentos pedagógicos de apoio às atividades escolares.

Quando, por fim, assistimos o tipo de propaganda que vem sendo feita contra o material que seria lançado para distribuição às escolas, apelidado pejorativamente pela bancada religiosa de "kit gay", o mínimo que podemos dizer é que estamos diante de um enorme desrespeito às instituições científicas e ao processo de construção de políticas públicas no nosso país.

Pior ainda é perceber o uso desse material como moeda de troca para evitar possíveis investigações sobre o acelerado enriquecimento do ministro Palocci: o governo esquece o combate à homofobia e os religiosos esquecem as investigações.


Feridos pelo recente reconhecimento das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo pelo STF, os evangélicos viram na oposição ao material produzido pelo MEC uma oportunidade de vingança nessa batalha medieval entre religiosos e homossexuais. Nosso país perde uma excelente oportunidade de investir na formação de uma geração mais respeitosa e menos afeita ao papel de rebanho alienado conduzido por pastores comprometidos com seus interesses pessoais.

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