Os últimos acontecimentos alçaram o movimento LGBT aos mais
elevados patamares do debate político nacional. O kit contra a homofobia,
anunciado pelo MEC, execrado pelos religiosos e criticado pela presidenta,
acabou como moeda preciosa nas negociações que pretenderam evitar a convocação
do ministro Palocci ao Congresso para explicar o crescimento suspeito de suas
finanças. Nossa foto nas primeiras páginas dos jornais, entretanto, mostra um
movimento ferido, cujas cicatrizes ofuscam o brilho da vitória recente no
Supremo Tribunal Federal, quando nossas uniões estáveis passaram a ser
reconhecidas. Um debate bem mais qualificado do que os métodos adotados pelo
Legislativo e o Executivo, diga-se de passagem, que se utilizaram das
costumeiras ameaças, chantagens e barganhas.
A falta de controle das
informações e de estratégias para a divulgação do kit contra a homofobia foi a
grande responsável pelo desastre que se instalou em torno do assunto. O debate
se espalhou como rastilho de pólvora sobre um material que ninguém viu, ninguém
leu, ninguém conhece bem, a não ser os técnicos envolvidos em sua produção.
Sequer aqueles que participaram dos debates do projeto Escola sem Homofobia,
que deu origem ao material, viram o resultado final do kit. Na verdade, três
vídeos curtos, indicados para serem utilizados nas oficinas como ferramentas
provocadoras do debate sobre orientação sexual e identidade de gênero, foram
postados no YouTube e serviram de estopim para toda essa celeuma. A partir de
trechos selecionados, o que deveria servir para combater a homofobia serviu
para reforçá-la, como uma volta às trevas onde se defendem valores
conservadores e se apregoam falsas ameaças à família e à moral cristã.
É preciso reverter esse
processo. É fundamental que o kit chegue aos órgãos sérios de imprensa e aos
educadores completo, fundamentado e contextualizado para que seja analisado sem
paixão, numa perspectiva de se melhorar o ambiente da educação formal em nossa
sociedade e lapidar conceitos e virtudes que tornem nossos cidadãos melhores,
não preconceituosos e homofóbicos.
Enquanto os religiosos que
sequer participaram do processo de construção do material continuarem
responsáveis pela divulgação dessa ferramenta criada para apoiar escolas e
professores a lidarem com as questões que envolvem as homossexualidades nas
escolas - uma deficiência amplamente detectada na formação de nossos docentes;
enquanto o material não for conhecido e debatido sem suposições e conjecturas,
continuaremos a tratar com preconceito aquilo que se propõe a combatê-lo.
Camisinha sempre!
Posto aqui alguns esclarecimentos que recebi por email. Não é tão difícil assim perceber os problemas que poderiam ser evitados caso o processo de comunicação tivesse sido bem conduzido:
ResponderExcluir"O kit do Projeto Escola Sem Homofobia não foi distribuído;
São 6 mil kits para 6 mil ESCOLAS;
Os Kits não se direcionam a alunos, mas A ESCOLAS;
Os kits eram pra ser trabalhados NO ENSINO MÉDIO (leia-se adolescentes de 15 a 18 anos);
Os kits foram feitos depois de várias pesquisas (institucionais ou não) que diziam que professores e orientadores pedagógicos não estavam preparados para lidar com o tema na escola;
O kit (composto por 1 cartaz, 6 boletins, 3 vídeos e 2 cadernos) é UMA PARTE DO PROJETO ESCOLA SEM HOMOFOBIA: os outros 2 produtos são uma pesquisa sobre o tema e 5 capacitações (uma em cada região brasileira), que já aconteceram;
A Associação Beco das Cores participou da capaticação Nordeste do projeto, no ano passado, junto com representantes da Secretaria de Eucação, do município, professores e militantes LGBT (poucos);
As capacitações serviram para formar multiplicadores nos estados e abrir a discussão sobre um segundo momento do projeto, que deveria ser a IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NAS ESCOLAS;
O material foi encaminhado ao MEC e SÓ DEPOIS DE HAVER O PARECER FAVORÁVEL DO MEC É QUE ELE PODERIA SER DIVULGADO;
Enquanto ele estava sob avaliação do MEC religiosos fundamentalistas e a direita mais conservadora lançou uma série de notas, matérias, entrevistas e depoimentos DESTRUINDO O CONTEÚDO do kit e rebaixando o debate ao nível do terror - como fizeram na campanha eleitoral passada - como se crianças de 6 a 8 anos fossem receber seu kit na mochila 'para aprender a ser homossexual' em casa. Isso assustou os mais incautos, que logo caíram no conto do terror;
Com o terror instalado, e o revés dos fundamentalistas depois da vitória que o STF deu aos LGBT, não restou aos religiosos outra alternativa: a chantagem!
Utilizaram o caso Palocci para barganhar: o Kit contra sua cabeça. Rifaram então os LGBT;
Pra piorar Dilma vai na TV dizer que o governo não vai fazer propaganda de "opções" sexuais e que uma comissão será responsável por avaliar "materiais ligados aos costumes";
Enfim, socorro!
Parte do movimento LGBT já declarou Dilma pessoa non grata e pressiona para que todo o movimento rompa com ela (como fez o movimento gay chileno com Piñera).
(...)
Quanto aos vídeos, que ironia! Em vez de serem vistos em 6 mil escolas já foram acessados centenas de milhares de vezes na internet.
(...)
Assista-os e veja se de fato atentam contra "os costumes", como diz nossa presidenta.
Uma pena, o bullyng homofóbico continuará a solta nas escolas. Pior, com a suspensão do kit, temo pra que não piore ainda mais.
Azar dos LGBT que sofrerão mais. Azar dos professores progressistas porque não terão acesso ao material tão esperado por eles. Azar das travestis e transexuais que ficarão, como sempre ficaram, excuídas da educação básica. Azar de todos nós que lutamos por uma sociedade sem exclusões. Para isso disputamos governos e o poder.
Saudações petistas e anti-homofóbicas.
Wesley Francisco"