sábado, 19 de fevereiro de 2011

Escola - 19/02/2011



Brasil. 19h. Crianças em casa, banho tomado, janta na mesa e a novela no ar. O drama é íntimo de quem vive a vida real: Thales se declara apaixonado por Julinho. O mesmo Julinho que comoveu o Brasil inteiro ao expor a dor da perda de seu companheiro gay no início da novela. Esse é o Brasil em que vivemos: adultos, crianças, adolescentes, jovens e toda a população brasileira. Esse é o Brasil que pinta até na tela da Globo, tão cotidiano e natural que não tem jeito de se esconder.

A repressão ao amor não faz mais sentido. Não importa qual amor: se entre um homem e uma mulher, dois homens, duas mulheres. As relações homossexuais fazem parte do cenário que é apresentado à nova geração, e isso não assusta (apesar dos avestruzes que insistem em ignorar a realidade que os cerca). Dizer a uma criança que o tio Paulo é namorado do tio Zeca já não cora ninguém.

Recentemente, por iniciativa e pressão do movimento LGBT organizado, o Ministério da Educação se abriu à discussão sobre a homofobia e, consequentemente, a educação de cidadãos capazes de construir e conviver numa sociedade que respeita a diversidade. Respaldados pela Declaração dos Direitos Humanos, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pelo programa Brasil sem Homofobia; a Conferência Nacional e as dezenas de programas nos quais a comunidade LGBT conseguiu se inserir; pela pressão norte-americana em torno do bullying e as alarmantes estatísticas de suicídios de jovens homossexuais; pelos dados epidemiológicos que apontam a fragilidade dos jovens gays frente à Aids e a homofobia como principal fator vulnerabilizante dessa população; ou seja, cercado de todas as garantias que assegurassem sua defesa no caso de uma acusação de apologia da homossexualidade, o MEC produziu um belíssimo material que orienta as escolas para uma educação sem homofobia.

Pronto. Foi o suficiente para que os conservadores se apropriassem do tema, se arvorassem como defensores das tradições e acusassem o governo e o movimento LGBT de ações que ameaçavam a estabilidade da família brasileira.

Que tipo de cidadãos queremos para o Brasil do futuro? Que educação ele precisa receber? Aquela que reflita a realidade que se apresenta e questione as injustiças das tradições, ou uma educação que perpetue os privilégios numa sociedade hierarquizada a partir de padrões machistas e heteronormativos? Como podemos cobrar coerência de cidadãos que convivem com diferentes raças, credos, orientações sexuais, mas cuja educação formal se nega a debater, corrigir conceitos e orientá-los para uma sociedade de respeito às diferenças e cultura de paz?

Camisinha sempre!


Um comentário:

  1. Olá, Oswaldo.
    Não sei se você é quem estou pensando que é.
    Estava fazendo umas pesquisas na net e me deparei com um video de viver a vida, de uma pessoa com o mesmo nome que o seu, contando como foi assumir a orientação sexual.
    Achei fantástico e emocionante.
    Ao fazer uma busca no google, acabei de encontrar esse blog e já no primeiro post me emocionei (acho que isto está ficando corriqueiro, rs).
    Parabéns pelo blog e irei ler os outros posts.
    Pelo menos esse foi suave, direto, objetivo e confortante.
    Obrigado pela sua militância.
    Abçs
    M.

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