sábado, 28 de agosto de 2010

TSM - 28/08/2010


Encerrou-se ontem o I Encontro Nacional de Prevenção às DST, Aids e Hepatites Virais entre trabalhadores sexuais masculinos (TSM), promovido pelo Ministério da Saúde. Desde o dia 25, quarta-feira, 25 desses rapazes estiveram em Brasília, reunidos com outros tantos gestores estaduais e municipais dos programas de DST-Aids, representantes das organizações não governamentais de gays e outros homens que fazem sexo com homens, especialistas convidados e técnicos do governo federal para tentar colher as primeiras informações que conduzirão a políticas públicas voltadas para os populares "garotos de programa".

A começar pela sua autodenominação, o nome pelo qual querem ser tratados pelos clientes e como gostariam de estar citados em documentos oficiais ou em suas relações com o poder: "garotos de programas", entre eles; e "trabalhadores sexuais masculinos" ou "TSM", oficialmente. Os rapazes demonstraram que conhecem na pele o peso do estigma e do preconceito que assombram aqueles que buscam sustento na venda do seu corpo e que se submetem aos perigos que essa atividade envolve: violência da população, da polícia e entre eles mesmos; uma proximidade perigosa com o mundo das drogas, uma vez que o exercício de sua profissão se dá também nas ruas, nas madrugadas, no escuro, e roubos frequentes, seja como forma de fazer valer um contrato negociado, seja para angariar mais em menos tempo, trapaceando seus clientes. São nesses momentos que se envolvem com o ilícito, uma vez que o exercício da prostituição não é um crime no Brasil; e com a polícia, de quem se queixam de arbitrariedades, torturas, maus-tratos, extorsão e preconceito.

Apesar de a maioria dos rapazes presentes no encontro se entenderem bissexuais (alguns poucos gays ou heterossexuais), quase a totalidade de sua clientela é formada por outros homens. São poucas e raras as mulheres que os procuram. Eventualmente, seus clientes são casais que buscam um terceiro para apimentar a relação. Os gays mais velhos são os mais assíduos, apesar de muitos jovens se utilizarem de seus serviços - que podem render até R$ 8 mil por mês em algumas regiões do país, como São Paulo e Rio.

Atendem seus clientes em saunas, motéis, hotéis e em seus apartamentos. Batalham na rua ou agendam os programas pela internet. Trabalham independentes, sem agenciadores. Possuem um bom conhecimento das DST-Aids, fazem o teste do HIV e adotam medidas preventivas - principalmente o uso de camisinha em suas relações. Conhecem seus direitos, suas vulnerabilidades e os dramas da rua e da noite, como atores efetivos de uma realidade que, finalmente, começa a ser retirada de baixo do tapete.

Camisinha sempre!


sábado, 21 de agosto de 2010

Rixas - 21/08/2010




Um jovem de 15 anos foi assassinado em Juiz de Fora no dia 14 de agosto de 2010. Membro da gangue do bairro Santa Luzia, Handerson e seus colegas se encontraram com os rivais do Jardim Natal enquanto acontecia a Parada Gay, e a briga foi generalizada. Entre rabos de arraia, chutes e voadoras, tiros: três feridos e Handerson morto. Segundo sua mãe, ele não andava em gangue e habitualmente sua vida era da escola para casa e de casa para a escola. Handerson estava na rixa daquela tarde.

Em entrevista ao jornal "Tribuna de Minas", de Juiz de Fora, o major Sérgio Lara, assessor de comunicação da 4ª Região da PM, reconhece o descontrole sobre a situação. Segundo ele, o Centro é território neutro, que se transforma numa praça de guerra quando os grupos rivais se encontram. E o que assistimos é uma cidade inteira triste, assustada e reclusa atrás de suas grades privativas, enquanto os jovens se digladiam e se matam em disputas territoriais.

Responsabilizar as festas populares pela falta de opção, pela vulnerabilidade social desses adolescentes, pela dificuldade de acesso aos serviços públicos como educação, saúde, justiça, lazer, pela negação dos seus direitos e seu protagonismo é como responsabilizar o decote e a minissaia pelo estupro da mulher.

Na busca de soluções para a violência na Parada Gay de Juiz de Fora, o MGM não tem poupado esforços: aumentou o número de trios elétricos, mudou data, mudou trajeto, ampliou o número de seguranças, criou blocos protegidos por cordeiros, negociou com a Prefeitura, com a Polícia Militar, Bombeiros e tem cumprido à risca todas as determinações de segurança estabelecidas para esse tipo de evento. Na busca de soluções para uma educação pró-diversidade, a ONG tem capacitado escolas e professores, tem oferecido assistência e lazer para os jovens homossexuais e obtido resultados que a tornam referência para todo o Brasil na capacidade de mobilização da comunidade LGBT local.

A cidade reconhece e aplaude a alegria da Parada Gay e seus propósitos de paz, de reivindicação de direitos e de confraternização, mas está com medo. Diante disso, cabe ao Estado resolver a questão: ou nos tranca em casa e perdemos o direito de usufruir do espaço público ou implanta ações efetivas que modifiquem a cultura machista, violenta e homofóbica em que nossos jovens se formam adultos.

Camisinha sempre!


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pride - 14/08/2010




Tudo tinha que ser muito rápido, antes que os outros moradores acordassem. Menos mal que era um domingo e eles acordavam mais tarde. Deixar de ser notado seria uma excelente ocasião de evitar perguntas, olhares e desconfianças.

Já há mais de um mês, a mídia gay da capital britânica não falava de outra coisa: Pride 1997, a Parada do Orgulho Gay de Londres que se aproximava naquele início de julho. Revistas luxuosas eram distribuídas gratuitamente pelos bares e points GLS da cidade; milhares de folhetos anunciando as festas que antecediam a grande marcha, curiosamente unindo concorrentes em megaproduções que associavam mais de uma boate; muita fofoca e críticas à venda de patrocínios que, já naquela época, apontavam as paradas como grandes eventos de captação de recursos para o movimento LGBT organizado, de forma a sustentá-lo todo o ano.

Eu me preparara cuidadosamente para aquele domingo. Toda a militância inglesa ressaltava a importância de valorizarmos aquele dia, nos prepararmos para a Parada e considerarmos com seriedade a cara do nosso orgulho.

No dia da Parada, a monotonia da viagem de metrô do norte da cidade ao Hyde Park, onde nos encontraríamos, começaria a ser quebrada uma ou duas estações depois do meu embarque, quando um grupo de animados jovens gays invadiram o vagão com apitos e enfeites nas cores do arco-íris. A cada estação, à medida em que nos aproximávamos do nosso destino, os trens iam trocando seus passageiros, colorindo e alegrando o austero e cotidiano transporte que há muito haviam perdido o encanto da novidade.

E entre apitos e gritos de "Gay Power" emergi da estação e me deparei com uma multidão de homossexuais, o retrato da diversidade inglesa sob um sol frio e uma parada sem trios elétricos, animada por apitos e toda a gama que caracteriza a nossa diversidade. De repente, a bateria da London School of Samba deu ritmo à multidão de 120 mil pessoas que começava a caminhar.

Naquele domingo, ajudei a conduzir a imensa bandeira do arco-íris, que servia para acolher as moedas que eram atiradas pelo povo e recolhidas pelos organizadores. Desfilei pelos principais pontos turísticos de Londres e me emocionei pela primeira vez ao ver tantos gays e lésbicas como eu, invertendo o sentimento de medo e vergonha que me fizera acordar cedo para não ter que dizer aonde iria, por um maravilhoso sentimento de pertinência que me emocionou e deu início a uma fase de vida bem mais feliz e verdadeira, naquele domingo ensolarado de julho.

Camisinha sempre!


sábado, 7 de agosto de 2010

Rainbow Fest - 07/08/2010



O MGM - Movimento Gay de Minas abre, segunda-feira, 9, a décima terceira edição do Rainbow Fest, que desde 1998 atrai homossexuais de todo canto para celebrar a diversidade em Juiz de Fora. Além de uma vasta programação cultural, o evento se propõe a ser um momento de captação de recursos que ajudem a sustentar o MGM e manter os serviços que presta à comunidade LGBT durante todo o ano.

Para isso, criaram oportunidades de colaboração, como os blocos que ladearão os carros de som na Parada Gay e que pretendem colorir a principal avenida de Juiz de Fora com as cores do arco-íris.

Tudo começa com um seminário voltado para a capacitação de professores, quando a equipe do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da UFMG leva para o Rainbow Fest as oficinas do projeto Escola sem Homofobia. A partir de quinta-feira, temas como política e eleições, mídia, homofobia e saúde serão apresentados em mesas de debates com grandes experts do mundo gay, entre eles o antropólogo da UFBA e fundador do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott.

Mott traz a Minas seus estudos e estatísticas sobre os assassinatos homofóbicos no Brasil e nas Gerais. Vai analisar conosco o espantoso crescimento de 75%, entre 2008 e 2009, quando 14 crimes de ódio contra homossexuais mineiros foram localizados na imprensa ou denunciados pela sociedade civil. Dentre as vítimas, oito travestis.

As atividades culturais - festas e shows - começam na quarta-feira e vão até domingo, num espaço batizado de Cidade Rainbow, no centro de Juiz de Fora, onde ficam instalados o palco e a área de alimentos e bebidas.

O ápice da movimentação acontece no sábado, 14, quando sai às ruas a oitava Parada do Orgulho Gay de Juiz de Fora que pretende arrastar 160 mil pessoas a favor da diversidade e contra o preconceito. Com um novo trajeto que se estende por toda a avenida Rio Branco, a Parada fará uma manifestação solene em frente à prefeitura, no Parque Halfeld. Ali será cantado o hino nacional e os participantes fazem o beijaço, em referência à Lei Rosa que penaliza quem proibir manifestações de afeto entre pessoas do mesmo sexo e que projetou a cidade para todo o Brasil.

Ainda no sábado à noite, a mais tradicional e peculiar manifestação cultural LGBT do Brasil: o 34º Concurso Miss Brasil Gay, onde o transformismo ganha um tapete vermelho no ginásio do Sport Clube para desfilar seu luxo e glamour. Imperdível!

Camisinha sempre!