Encerrou-se ontem o I Encontro Nacional de Prevenção às DST, Aids
e Hepatites Virais entre trabalhadores sexuais masculinos (TSM), promovido pelo
Ministério da Saúde. Desde o dia 25, quarta-feira, 25 desses rapazes estiveram em
Brasília, reunidos com outros tantos gestores estaduais e municipais dos
programas de DST-Aids, representantes das organizações não governamentais de
gays e outros homens que fazem sexo com homens, especialistas convidados e
técnicos do governo federal para tentar colher as primeiras informações que
conduzirão a políticas públicas voltadas para os populares "garotos de
programa".
A começar pela sua
autodenominação, o nome pelo qual querem ser tratados pelos clientes e como
gostariam de estar citados em documentos oficiais ou em suas relações com o
poder: "garotos de programas", entre eles; e "trabalhadores
sexuais masculinos" ou "TSM", oficialmente. Os rapazes
demonstraram que conhecem na pele o peso do estigma e do preconceito que
assombram aqueles que buscam sustento na venda do seu corpo e que se submetem
aos perigos que essa atividade envolve: violência da população, da polícia e
entre eles mesmos; uma proximidade perigosa com o mundo das drogas, uma vez que
o exercício de sua profissão se dá também nas ruas, nas madrugadas, no escuro,
e roubos frequentes, seja como forma de fazer valer um contrato negociado, seja
para angariar mais em menos tempo, trapaceando seus clientes. São nesses
momentos que se envolvem com o ilícito, uma vez que o exercício da prostituição
não é um crime no Brasil; e com a polícia, de quem se queixam de
arbitrariedades, torturas, maus-tratos, extorsão e preconceito.
Apesar de a maioria dos rapazes presentes no encontro se entenderem bissexuais (alguns poucos gays ou
heterossexuais), quase a totalidade de sua clientela é formada por outros
homens. São poucas e raras as mulheres que os procuram. Eventualmente, seus
clientes são casais que buscam um terceiro para apimentar a relação. Os gays
mais velhos são os mais assíduos, apesar de muitos jovens se utilizarem de seus
serviços - que podem render até R$ 8 mil por mês em algumas regiões do país,
como São Paulo e Rio.
Atendem seus clientes em
saunas, motéis, hotéis e em seus apartamentos. Batalham na rua ou agendam os
programas pela internet. Trabalham independentes, sem agenciadores. Possuem um
bom conhecimento das DST-Aids, fazem o teste do HIV e adotam medidas
preventivas - principalmente o uso de camisinha em suas relações. Conhecem seus
direitos, suas vulnerabilidades e os dramas da rua e da noite, como atores
efetivos de uma realidade que, finalmente, começa a ser retirada de baixo do
tapete.
Camisinha sempre!