Tudo tinha que ser muito rápido, antes que os outros moradores
acordassem. Menos mal que era um domingo e eles acordavam mais tarde. Deixar de
ser notado seria uma excelente ocasião de evitar perguntas, olhares e
desconfianças.
Já há mais de um mês, a
mídia gay da capital britânica não falava de outra coisa: Pride 1997, a Parada
do Orgulho Gay de Londres que se aproximava naquele início de julho. Revistas
luxuosas eram distribuídas gratuitamente pelos bares e points GLS da cidade;
milhares de folhetos anunciando as festas que antecediam a grande marcha,
curiosamente unindo concorrentes em megaproduções que associavam mais de uma
boate; muita fofoca e críticas à venda de patrocínios que, já naquela época,
apontavam as paradas como grandes eventos de captação de recursos para o
movimento LGBT organizado, de forma a sustentá-lo todo o ano.
Eu me preparara
cuidadosamente para aquele domingo. Toda a militância inglesa ressaltava a
importância de valorizarmos aquele dia, nos prepararmos para a Parada e
considerarmos com seriedade a cara do nosso orgulho.
No dia da Parada, a
monotonia da viagem de metrô do norte da cidade ao Hyde Park, onde nos
encontraríamos, começaria a ser quebrada uma ou duas estações depois do meu
embarque, quando um grupo de animados jovens gays invadiram o vagão com apitos
e enfeites nas cores do arco-íris. A cada estação, à medida em que nos
aproximávamos do nosso destino, os trens iam trocando seus passageiros,
colorindo e alegrando o austero e cotidiano transporte que há muito haviam
perdido o encanto da novidade.
E entre apitos e gritos de
"Gay Power" emergi da estação e me deparei com uma multidão de
homossexuais, o retrato da diversidade inglesa sob um sol frio e uma parada sem
trios elétricos, animada por apitos e toda a gama que caracteriza a nossa
diversidade. De repente, a bateria da London School of Samba deu ritmo à
multidão de 120 mil pessoas que começava a caminhar.
Naquele domingo, ajudei a
conduzir a imensa bandeira do arco-íris, que servia para acolher as moedas que
eram atiradas pelo povo e recolhidas pelos organizadores. Desfilei pelos
principais pontos turísticos de Londres e me emocionei pela primeira vez ao ver
tantos gays e lésbicas como eu, invertendo o sentimento de medo e vergonha que
me fizera acordar cedo para não ter que dizer aonde iria, por um maravilhoso
sentimento de pertinência que me emocionou e deu início a uma fase de vida bem
mais feliz e verdadeira, naquele domingo ensolarado de julho.
Camisinha sempre!
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