quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pride - 14/08/2010




Tudo tinha que ser muito rápido, antes que os outros moradores acordassem. Menos mal que era um domingo e eles acordavam mais tarde. Deixar de ser notado seria uma excelente ocasião de evitar perguntas, olhares e desconfianças.

Já há mais de um mês, a mídia gay da capital britânica não falava de outra coisa: Pride 1997, a Parada do Orgulho Gay de Londres que se aproximava naquele início de julho. Revistas luxuosas eram distribuídas gratuitamente pelos bares e points GLS da cidade; milhares de folhetos anunciando as festas que antecediam a grande marcha, curiosamente unindo concorrentes em megaproduções que associavam mais de uma boate; muita fofoca e críticas à venda de patrocínios que, já naquela época, apontavam as paradas como grandes eventos de captação de recursos para o movimento LGBT organizado, de forma a sustentá-lo todo o ano.

Eu me preparara cuidadosamente para aquele domingo. Toda a militância inglesa ressaltava a importância de valorizarmos aquele dia, nos prepararmos para a Parada e considerarmos com seriedade a cara do nosso orgulho.

No dia da Parada, a monotonia da viagem de metrô do norte da cidade ao Hyde Park, onde nos encontraríamos, começaria a ser quebrada uma ou duas estações depois do meu embarque, quando um grupo de animados jovens gays invadiram o vagão com apitos e enfeites nas cores do arco-íris. A cada estação, à medida em que nos aproximávamos do nosso destino, os trens iam trocando seus passageiros, colorindo e alegrando o austero e cotidiano transporte que há muito haviam perdido o encanto da novidade.

E entre apitos e gritos de "Gay Power" emergi da estação e me deparei com uma multidão de homossexuais, o retrato da diversidade inglesa sob um sol frio e uma parada sem trios elétricos, animada por apitos e toda a gama que caracteriza a nossa diversidade. De repente, a bateria da London School of Samba deu ritmo à multidão de 120 mil pessoas que começava a caminhar.

Naquele domingo, ajudei a conduzir a imensa bandeira do arco-íris, que servia para acolher as moedas que eram atiradas pelo povo e recolhidas pelos organizadores. Desfilei pelos principais pontos turísticos de Londres e me emocionei pela primeira vez ao ver tantos gays e lésbicas como eu, invertendo o sentimento de medo e vergonha que me fizera acordar cedo para não ter que dizer aonde iria, por um maravilhoso sentimento de pertinência que me emocionou e deu início a uma fase de vida bem mais feliz e verdadeira, naquele domingo ensolarado de julho.

Camisinha sempre!


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