A igreja
tem se valido de grupos já estigmatizados para desviar a atenção de seus erros
Lamentável
a declaração do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que
atribui as denúncias de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica à
homossexualidade dos padres.
Apesar
dos estudos que mostram que 85% dos abusos cometidos contra crianças não são
praticados por padres, mas, sim, por parentes das vítimas, vizinhos, babás ou
amigos da família, o envolvimento sexual entre sacerdotes e crianças, sejam
meninos ou meninas, desperta nos pais um sentimento de cumplicidade
involuntária e revolta. Como se entregassem a guarda de seus ovos à raposa.
Afinal, são os pais que encaminham essas crianças para o convívio com a igreja,
como parte do processo de educação de seus filhos.
Quantos
de nós já fomos estimulados - senão obrigados - a participar das aulas de
catecismo, a colaborar como coroinhas, a nos inserir nos grupos de jovens, no
coro, nos acampamentos, ou simplesmente sermos frequentadores regulares das
missas de domingo? Sem contar a confiança cega exigida nos confessionários.
Paradoxalmente, não são raros os pais que, ao se depararem com a
homossexualidade de seus filhos, procuram os conselhos e orientação de um
padre.
Vincular
homossexualidade com pedofilia, como tentou fazer o cardeal, é uma tentativa
torpe de reduzir a gravidade dos crimes de abuso sexual de crianças e adolescentes
cometidos por sacerdotes e deslocar a indignação da população e sua revolta
para os já estigmatizados LGBT. Os dados disponíveis nos mostram que, entre a
população em geral, a maioria das vítimas é de garotas. Mesmo que entre os
padres a situação se inverta e o número de meninos abusados chegue a ser quatro
ou cinco vezes maior que o de meninas, isso não significa que exista qualquer
ligação entre orientação homossexual e a patologia mental chamada pedofilia.
A
igreja tem se valido de grupos já socialmente estigmatizados para desviar a
atenção de seus erros. Já o fez - e ainda faz - com as prostitutas, enquanto
seus pastores se refestelam em suas alcovas. Já condenou as pessoas vivendo com
Aids, atribuindo-lhes a culpa pela epidemia, enquanto cresce o número de
sacerdotes infectados pelo HIV. E, mais uma vez, atribui aos homossexuais a
responsabilidade pela incontinência dos desejos eróticos ou dos desvios de
conduta de alguns de seus padres.
Camisinha
sempre!
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