sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cardeal – 17/04/2010


A igreja tem se valido de grupos já estigmatizados para desviar a atenção de seus erros



Lamentável a declaração do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que atribui as denúncias de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica à homossexualidade dos padres.

Apesar dos estudos que mostram que 85% dos abusos cometidos contra crianças não são praticados por padres, mas, sim, por parentes das vítimas, vizinhos, babás ou amigos da família, o envolvimento sexual entre sacerdotes e crianças, sejam meninos ou meninas, desperta nos pais um sentimento de cumplicidade involuntária e revolta. Como se entregassem a guarda de seus ovos à raposa. Afinal, são os pais que encaminham essas crianças para o convívio com a igreja, como parte do processo de educação de seus filhos.

Quantos de nós já fomos estimulados - senão obrigados - a participar das aulas de catecismo, a colaborar como coroinhas, a nos inserir nos grupos de jovens, no coro, nos acampamentos, ou simplesmente sermos frequentadores regulares das missas de domingo? Sem contar a confiança cega exigida nos confessionários. Paradoxalmente, não são raros os pais que, ao se depararem com a homossexualidade de seus filhos, procuram os conselhos e orientação de um padre.

Vincular homossexualidade com pedofilia, como tentou fazer o cardeal, é uma tentativa torpe de reduzir a gravidade dos crimes de abuso sexual de crianças e adolescentes cometidos por sacerdotes e deslocar a indignação da população e sua revolta para os já estigmatizados LGBT. Os dados disponíveis nos mostram que, entre a população em geral, a maioria das vítimas é de garotas. Mesmo que entre os padres a situação se inverta e o número de meninos abusados chegue a ser quatro ou cinco vezes maior que o de meninas, isso não significa que exista qualquer ligação entre orientação homossexual e a patologia mental chamada pedofilia.

A igreja tem se valido de grupos já socialmente estigmatizados para desviar a atenção de seus erros. Já o fez - e ainda faz - com as prostitutas, enquanto seus pastores se refestelam em suas alcovas. Já condenou as pessoas vivendo com Aids, atribuindo-lhes a culpa pela epidemia, enquanto cresce o número de sacerdotes infectados pelo HIV. E, mais uma vez, atribui aos homossexuais a responsabilidade pela incontinência dos desejos eróticos ou dos desvios de conduta de alguns de seus padres.


Camisinha sempre!

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