Eu sempre fui um cara meio atirado a poeta durante minha
adolescência. Criado em família de músicos, as frases rimadas surgiam em
canções inocentes, quase infantis quando revistas depois de tantos anos.
Músicas que me expunham em estribilhos e refrães, duetos e corinhos e que, de
certa forma, desviavam as atenções para algo que não fosse a minha obscura e
recém descoberta homossexualidade. As letras que recheavam aquelas baladas
dolentes eram invariavelmente tristonhas e retratavam o momento da vida de um rapaz
em conflito mudo consigo mesmo, com seus desejos proibidos, suas culpas e
remorsos.
Um adolescente que
testemunhava a transformação de seu corpo enquanto se deparava com sentimentos
novos, condenados muitas vezes por mim mesmo, inadequados para os padrões
morais que eu começava a introjetar, enquanto assistia o mundo passar
desinteressado diante de meus olhos tolos e inseguros.
As músicas que eu compunha
mostravam isso. Uma delas, em particular, abriu minha torrente de inspiração,
que duraria até a fase adulta, quando ainda me surpreendia tecendo versos e
dedilhando acordes numa nova exposição pública de intimidades. Depois foi se
acabando. Talvez porque a vida deixara de ser tão surpreendente e extrema
quanto me parecia então.
Houve um Dia das Crianças que eu chorei,
Que eu acordei e que sofri.
Pois descobri que não era mais menino
E que agora traçaria o meu destino.
Quero ser novamente criança
Quero ter novamente a ganância
De descobrir os segredos da vida.
Aos 12 anos, eu precisava
crescer e deixar de ser criança. Largar para trás um mundo que era
completamente asséptico de maldades, solidário, verdadeiro nas escolhas e
seguro nas intenções e assumir esses sentimentos confusos que me atordoavam
naquela idade. Quando eu percebi que isso estava acontecendo, que chegara a
hora, eu tive medo: eu não queria encarar o que vinha pela frente, eu quis
voltar.
Relendo hoje esses versos,
percebo o quanto meu coração assumiu o comando dos meus sentidos. No fundo,
desde aquele momento eu já sabia que o que vinha pela frente seria muita luta.
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